Yakuza, é uma série bem mais antiga do que muitos imaginam, pois recebeu o seu primeiro título na sexta-geração de consolas, durante a saudosa era da PlayStation 2. Contudo, o facto de chegar ao ocidente a conta-gotas, e fecha-la numa única plataforma também não a ajudou a propagar e promover os seus jogos no mercado. Felizmente a SEGA teve a genial ideia de colocar no mercado Yakuza Zero, que não só situou os fãs no início da história, como libertou o jogo da marca azul espalhando-o noutras plataformas como os PC ou Xbox. Devido a este leve “reboot”, e reformulação no seu mercado, Yakuza tornou-se numa das séries mais icónicas e apreciadas da SEGA moderna, e sem,surpresa Yakuza: Like a Dragon tornou-se num dos títulos mais esperados do ano pelos seus fãs.

Contudo, a produção decidiu navegar por outras águas e colocar a sua série num género radicalmente diferente. Este efeito inicialmente causou um pouco de preocupação para os fãs, afinal Yakuza é um jogo de ação, será possível transitar para um RPG com combates por turnos sem perder o seu carisma e essência? Por incrível que pareça a resposta é sim.

Embora Yakuza: Like a Dragon não possua um número à sua frente, no seu país de origem tem o número sete, isto porque continua implicitamente os eventos do jogo anterior, e não se trata de uma história paralela, mas que poderá ser interpretada como tal. Enquanto Yakuza 6: The Song of Life, terminou a história de Kiryu, Yakuza Like a Dragon, continua a história, mas na pele de outra personagem, Ichiban Kasuga.  

Este sobrevive como um membro de baixo escalão numa família Yakuza de Tóquio. Através de uma reviravolta e obrigado a cumprir uma pena de prisão por 18 anos por um crime que não cometeu, Ichiban é finalmente devolvido novamente à sociedade quase, duas décadas depois. Contudo, o mundo que conhecia mudou radicalmente, e o Yakuza de classe baixa está determinado em descobrir não só a causa dos eventos que o levaram a ficar atrás das grades por 18 anos, como também a elevar o seu nome e dimensão na sociedade.

Como já foi relatado Yakuza: Like a Dragon, apresenta novos condicionantes na série, tais como nova personagem principal, e género de jogo, mas não é por essa razão que sentimos ser um título alheio à série. Não faltaram momentos onde são relatados episódios de personagens dos jogos anteriores, por vezes até os encontramos nas ruas Yokohama. No entanto, os jogadores que decidirem fazer de Yakuza: Like a Dragon a sua porta de entrada, não se sentiram perdidos ou postos de lado, porque estas aparições não são elementos demasiado importantes para a narrativa do jogo.   

Yakuza: Like a Dragon é uma boa porta de entrada ao mundo dos jogos Yakuza

A mesma convida o jogador a explorar Isezaki Ijincho, uma versão fictícia do bairro da cidade de Yokohama. A sua dimensão jogável é bastante superior à que encontramos nos jogos anteriores. É na mesma que encontramos dois polos, e onde a história de Yakuza: Like a Dragon se debruça, os problemáticos bairros Chinatown e Koreatown que são governados por grupos locais. Visualmente a cidade está incrivelmente bem retratada, e nesta era de confinamento onde é perigoso viajar, não deixou de ser interessante deambular por Yokohama, e explorar rios, ruas, lojas, e outras localizações características da cidade. Embora esta se encontre inicialmente impossibilitada de viajar até novas áreas, depressa o jogador irá visitar as áreas de Kamurocho, uma localização bastante conhecida para quem jogou os anteriores capítulos da série.

Como Yakuza: Like a Dragon se trata de um género diferente continua a apresentar aquela dualidade fantástica bem conhecida pelos fãs e pela crítica, enquanto a história principal situa o jogador num enredo adulto, envolto em socialismo e política japonesa, os jogadores também podem enveredar e participar em atividades paralelas por intermédio de mini jogos cheios de humor, dimensão e carisma. As ruas de Yokohama estão repletas atrações, que convidam o jogador a desempenhar várias funções, como assistir a filmes no cinema, visitar bares, participar em sessões de karaoke, e até competir em circuitos de kart. Este último atua como uma paródia ao popular Super Mario Kart, pois está repleto de referências descaradas da popular série da Nintendo. Se nos deixarmos levar por todas as atrações que o jogo oferece as suas horas irão aumentar exponencialmente.

Como já foi relatado a maior diferença neste novo Yakuza, é a sua fluência nos combates. Ao passo que nos anteriores estávamos perante jogos de ação, aqui o combate é mais pausado, mas também não é por esta característica que sentimos estar perante um título diferente na série. É certo que o jogador luta por turnos, mas a forma como a ação flui não transmite a sensação de tempos mortos. O grande destaque nesta mecânica e que a separa das que podemos encontrar no mercado são as suas sinergias. Cada personagem recrutada por Kasuga possui uma profissão que influenciará o combate.

E nestes momentos que todo o carisma e humor hiperbólico da série vem ao de cima. As nossas personagens executam alguns dos ataques mais mirabolantes e bizarros que possamos imaginar. Para não estragar muitas surpresas apenas podemos indicar que teremos uma empregada de mesa a servir ramen, músicos de rua, ídolos musicais, ou até um exibicionista a mostrar o que tem escondido dentro do seu volumoso casaco. O mesmo panorama também acontece com os nossos adversários, a troupe de Kagusa-san não enfrentará apenas membros de grupos rivais, no decorrer da sua ascensão o herói mediará forças com retroescavadoras, aspiradores gigantes e até personagens anteriores na série. Alguns destes confrontos serão incrivelmente injustos pois algumas destas ameaças eliminarão membros da nossa equipa com único um ataque! Aqui o jogador terá de optar por duas vias. Se optar pela lei do esforço terá de grindar níveis contra arruaceiros nas ruas durante largas horas, ou então pela atividade Hello Work.

Ichiban, quer subir na vida e para tal está equipado com um escritório. É neste edifício que pode mudar a profissão de cada um dos seus companheiros. Muitas vezes na sua demanda e para se ambientar às inúmeras barreiras que se intrometem no seu caminho terá de mudar a profissão dos seus companheiros para triunfar. Mudar a ocupação dos nossos companheiros numa situação complicada pode muito bem significar a vida como a morte no nosso quarteto fantástico. Na sua escalada social, para obter mais dimensão e fundos Ichiban também se aliará a políticos e figuras influentes, mas para tal suceder antes terá de realizar algumas provas como por exemplo, exames escritos.

Graficamente Yakuza: Like a Dragon está sublime. Os cenários são o seu maior destaque, as ruas e ambientes estão com enormíssimo detalhe, diríamos mesmo que estão muito próximos de cópias exatas da Yokohama real. No entanto, os modelos de personagens embora estejam bem retratados e animados apresentam texturas um pouco datadas para padrões atuais, mesmo numa consola da atual geração como a PlayStation 4. Toda a ação de Yakuza: Like a Dragon é consistente mantendo-se geralmente na fasquia dos 30fps. Quanto à banda-sonora tal como a série já nos habitou deambula entre faixas -demasiado- sérias, e faixas festivas e divertidas consoante a ação a decorrer. De salientar que pela primeira vez nos karaokes as faixas musicais estão localizadas, e finalmente poderemos cantar a célebre Baka Mitai, em toda a sua glória ocidental.

Não deixem que um número omitido neste título, ou uma transição para um novo género vos afaste de uma nova experiência Yakuza. Embora apresente uma nova cidade, e novos personagens, todo o DNA que celebrizou a série encontra-se intacto sem perder uma pitada do seu contagiante carisma. Para os mais puristas ou seguidores da série afirmamos com toda a certeza que mesmo que estejamos perante um RPG por turnos, está longe de ser rotulado com um Yakuza: Like a Dragon Quest.

Bruno Reis
Vindo de vários mundos e projetos, juntou-se à redação do Otakupt em 2020, pronto para informar todos os leitores com a sua experiência nas várias áreas da cultura alternativa. Assistiu de perto ao nascimento dos videojogos em Portugal até à sua atualidade, devora tudo o que seja japonês (menos a gastronomia), mas é também adepto de grandes histórias e personagens sejam essas produzidas em qualquer parte do globo terrestre.
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