
Quando a Electronic Arts anunciou em setembro de 2025 que ia ser adquirida por um consórcio de investidores privados numa operação de 55 mil milhões de dólares, a notícia já tinha dimensões históricas. Tratava-se do maior leveraged buyout alguma vez realizado. O que não estava claro na altura era exatamente como esse valor seria dividido entre os três membros do consórcio: o Public Investment Fund (PIF) da Arábia Saudita, a Silver Lake e a Affinity Partners, fundada por Jared Kushner.
Agora, segundo o Wall Street Journal, novos documentos submetidos às autoridades antimonopólio brasileiras revelam a verdadeira escala da participação saudita. Se a aquisição for aprovada pelos reguladores e acionistas, o PIF ficará com 93,4% da EA. A Silver Lake terá 5,5% das ações, enquanto a Affinity Partners ficará com apenas 1,1%.
Os números tornam claro o que muitos já suspeitavam, isto não é uma aquisição em consórcio no sentido tradicional. É, na prática, uma compra quase total por parte do fundo soberano saudita, com dois parceiros minoritários cuja presença parece mais destinada a facilitar aprovações regulatórias do que a partilhar efetivamente o controlo da empresa.
Um investimento fora do comum
Segundo o Wall Street Journal, o PIF terá de investir aproximadamente 29 mil milhões de dólares para assegurar a sua participação de 93,4%. Este valor não inclui a participação de 5,2 mil milhões de dólares que o fundo já detinha na EA, que será incorporada no negócio final.
A estrutura do negócio prevê 36,4 mil milhões de dólares em capital próprio e 20 mil milhões em financiamento por dívida, totalmente garantido pelo JPMorgan Chase Bank. Destes 20 mil milhões, espera-se que 18 mil milhões sejam disponibilizados aquando do fecho da operação.
A publicação nota que é “invulgar” fundos soberanos deterem uma maioria tão esmagadora quando fazem parte de um consórcio. Normalmente, são as empresas de private equity que assumem investimentos maiores, porque têm mais experiência em estruturar negócios e gerir empresas, enquanto os fundos soberanos “tipicamente seguem no encalço” como investidores minoritários.
O facto de o PIF estar a assumir quase a totalidade do risco financeiro e operacional desta aquisição representa uma mudança significativa nos padrões habituais da indústria de private equity. Também levanta questões sobre a verdadeira natureza do envolvimento da Silver Lake e da Affinity Partners, cujas participações são tão pequenas que a sua influência real nas decisões estratégicas da EA será, na melhor das hipóteses, marginal.
Promessas de independência criativa
Quando o negócio foi anunciado, o CEO da EA, Andrew Wilson, tentou tranquilizar funcionários e jogadores com uma mensagem clara: “Os valores e o nosso compromisso com jogadores e fãs em todo o mundo permanecem inalterados”.
EA garante controlo criativo mesmo após venda ao fundo saudita
A empresa publicou um FAQ onde garantiu que vai “manter o controlo criativo” e que o seu “historial de liberdade criativa e valores centrados no jogador permanecerão intactos”. O documento continua: “A nossa missão, valores e compromisso com jogadores e fãs em todo o mundo permanecem inalterados. Continuaremos a ser guiados pelos nossos valores culturais de criatividade, pioneirismo, paixão, determinação, aprendizagem e trabalho de equipa”.
A EA permanecerá sediada em Redwood City, Califórnia, e continuará a ser liderada por Andrew Wilson como CEO. Segundo os documentos oficiais, a empresa reterá plena independência criativa, com as várias equipas a continuar a operar sem interferências nas decisões de desenvolvimento, títulos futuros ou estratégia interna.
Mas com 93,4% de propriedade concentrada num único investidor, essas promessas levantam inevitavelmente ceticismo. Mudanças de propriedade desta escala costumam remodelar empresas de formas que não são imediatamente óbvias. Para já, todos os olhos estarão em como a EA navega esta transição, e que influência, se alguma, o seu novo proprietário maioritário acabará por exercer.









