Análise de Atelier Ryza: Ever Darkness & the Secret Hideout por Bruno Reis.

Atelier Ryza: Ever Darkness & the Secret Hideout, é o mais recente título de uma das mais longas franchises de Jrpg, cuja está connosco desde 1997 e conta já com mais de 50 títulos no seu currículo, dispersados por diversas gerações de consolas e spinoffs.

Tal como os seus antecessores, o foco aqui não se trata de combater um Rei Demónio renascido das cinzas, ou sequer salvar o mundo de uma ameaça apocalítica. Para os recém-chegados ou simplesmente curiosos, o foco de Atelier no geral, e Ryza em particular, por muito estranho que possa parecer, é viver um quotidiano, confortável e numa companhia amigável. Devido a esta aproximação este jogo além de ser muito divertido e colorido, (isto claro partindo numa ótica pessoal) também posso a caracterizar de relaxante. De tal forma que a escala destas histórias é bem menor do que encontramos no nosso comum Jrpg. Aqui o jogador apenas atravessa um punhado de localizações e interage com uma minoria de personagens, levemente pinceladas um quadro de slice of life bem harmonioso.

Por muito clássico que Atelier Ryza possa parecer, não quer dizer que não exista espaço para evolução ou que o jogo é muito simples nada mais longe da realidade. Na verdade, a Gust muito possivelmente criou o sistema de criação de itens, mais intuitivo e interessante que vi num jogo não só desta série como o seu género na totalidade, apelando ao detalhe, elementos e condicionantes de cada item. De louvar já que a franchise parecia recorrer sempre aos mesmos moldes e relutante em sair da sua zona de conforto. No entanto nem tudo são novidades, Atelier Ryza, recorre novamente a uma personagem feminina como catalisador de toda a ação. Esta é uma rapariga comum que vive numa aldeia situada numa ilha. Porém, a nossa amiga está cansada da vida na quinta e em família, e num apelo quase desesperado procura, novas emoções e aventuras junto dos seus amigos, Lent e Tao. Contra tudo e todos, incluindo os pais de Ryza, o trio encontra uma dupla constituída por um poderoso alquimista e muita valente guerreira numa floresta, enquanto tentam sobreviver ao salvamento de uma jovem chamada Klaudia, uma rapariga nobre que fugiu de casa por motivos desconhecidos. Os rescaldos destes encontros representam o que Ryza procurava, já que será introduzida ao fantástico mundo da alquimia, Lent poderá aprender novas técnicas de combate, e Tao a tradução de livros e manuscritos antigos.

Evidentemente o foco de Atelier Ryza, continua a ser a alquimia, cujo motor atua como mecânica principal. Como Ryza e o seu grupo são todos dotados de muito carisma, o jogador imediatamente sente-se cativado pelas suas pesquisas, desvaneios e interações. Este efeito terá tanto de positivo como negativo consoante a sua interpretação. A ação e fluxo de jogo desta entrega na sua essência consiste na procura e aquisição de materiais para a criação de receitas de alquimia. Felizmente e marcando outro abandono do Jrpg comum, as suas mecânicas principais são estabelecidas muito cedo e mantêm-se no resto do jogo. O resultante destas foi uma lufada de ar fresco no panorama atual, já que a maioria destes jogos são dotados de exposição sem paralelo muitas vezes até intimidando o jogador menos preparado neste género bombardeando-o de quadros e estatísticas. Este efeito igualmente marcou outro ponto muito pouco comum, já que os desenvolvimentos de Atelier Ryza não são investidos no mundo em questão, mas sim na sua protagonista e nas suas aventuras.

Retirando uma página de Tales of series, Atelier Ryza possui um tema como pano de fundo. Ryza é uma adolescente que não sabe ou ainda encontrou o rumo num mundo adulto, sendo ainda muito jovem para ser adulta e numa idade já avançada para ser considerada uma criança, a nossa sempre sorridente amiga terá de crescer nem que seja só um pouco. Com base neste coming of age, a jovem viverá diversas peripécias por vezes colocando os seus amigos em risco, enquanto noutras ocasiões a paciência inesgotável dos seus pais.

Devido a este conceito o jogador não sente a pressão ou imersão que sentimos neste género de jogos, como é tão relaxante muitas vezes investi simplesmente o meu tempo a jogar por atos ou conviver com personagens. É certo, mas numa escala muito menor, Atelier Ryza perto da sua conclusão imerge no tradicional enredo de jornada de herói, contribuindo para uma estrutura mais coesa e corrente do que os seus antecessores. Também e muito recalcado temos temas mais adultos e perturbantes tais como o bullying ou alcoolismo, mas que pela leveza do enredo não chegam a borrar este quadro harmonioso de tinta negra.

A respeito de sistema de batalha Atelier Ryza evolui também bastante. O sistema simples de combate por turnos, recorrente dos outros jogos da franchise deu lugar um híbrido entre turnos e batalha em tempo real, retirando elementos do ATB de Final Fantasy e o sistema de CC de Tales of series. O resultado é um sistema que recompensa o jogador pela sua atenção e dedicação no mesmo, ainda que possa correr riscos. Cada personagem tem uma função e cada funciona melhor com um determinado papel que contribui para um melhor fluxo de combate e recursos. Este reflexo é crucial para batalhas mais complicadas já que Atelier Ryza por vezes tem uns picos de dificuldade bastante irregulares. Confesso que este efeito não me afetou, visto já ser veterano nestas andanças, mas admito que para o jogador estreante, este sendo um pouco complexo afete o clima de relaxamento deste jogo.

O resto do fluxo do jogo é o nosso tradicional Jrpg, ou seja, aceitando e concluindo Quests e concebendo Itens, enquanto atua num sistema de horas, semelhante a Persona ou Fire Emblem: The Three Houses, que não chega a ser tão complexo quanto os enumerados já que não existem repercussões ao falhar períodos do dia. O que existem são pequenas interações entre personagens em diversos locais que desvendam mais acerca destas e das suas motivações, ou certas ações apenas se movem se passar um dia, ou dois. Em suma o jogo mantém um fluxo muito próprio ainda que sempre idêntico, não chega a cansar.

Graficamente Atelier Ryza é muito, muito belo, atenção que não me refiro ao grafismo no seu estado mais cru, mas sim na sua arte. Esta transborda de florestas verdejantes, grutas onde o sol penetra das rochas, uma aldeia simpática e personagens muito bem caracterizadas e detalhadas. A versão PC inicialmente carecia de otimização e opções gráficas, a qual não demonstrava o melhor destes elementos. Felizmente a Koei Tecmo, ouviu as críticas da comunidade e a versão 1.0.0B já possui além de diversas opções gráficas e uma otimização de recursos dramática, temos também a possibilidade de usar o nosso rato e teclado, para movimentar Ryza e o seu bando. Falando em audição esta última aventura de Atelier apenas apresenta ao áudio em japonês, é certo que a sua comunidade prefere estes jogos na sua língua original, mas tanto quanto sei esta decisão desiludiu alguns. Quanto ao resto das melodias como seria de esperar são na maioria de canções calmas ajudando a contribuir para o efeito “quentinho” do jogo.

Atelier Ryza: Ever Darkness & the Secret Hideout, é um jogo divisivo pela sua própria natureza. Enquanto para uns pode ser relaxante e harmonioso, para outros pode tornar-se bastante tedioso, ou até inútil o que é compreensível. Para muitos também não é muito diferente dos diversos e embaraçosos Jrpg de anime troupes que se instalaram no mercado, e na qual Ryza tornou-se uma presa. Este é o jogo perfeito para se lançarem nesta ternurenta franchise, não só vai poder-vos relaxar de rajadas de tiros, mundos negros e decadentes, monstros grotescos como também de uma sociedade atual bem asfixiante.

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Mystogan Caixeta
Mystogan Caixeta
15 , Novembro , 2019 4:24

Tava entre Atelier e Death Stranding mas depois de jogar DS decidi ir de Atelier msm, DS só compensa a história que tem no Youtube por 10 horas de luz ligada(que sai mt mais barato kkkk)

Paulo De Lima Ramos
Paulo De Lima Ramos
Reply to  Mystogan Caixeta
16 , Novembro , 2019 16:49

kkkk

Bruno Reis
Bruno Reis
Reply to  Mystogan Caixeta
16 , Novembro , 2019 16:49

Ambos são super diferentes