
Durante quase duas décadas, Call of Duty dominou as tabelas de vendas como uma força imparável. Mesmo lançando apenas nos últimos dois meses do ano, a série conseguia consistentemente conquistar o topo das listas anuais. Os únicos jogos capazes de destronar a franquia foram Grand Theft Auto V, Red Dead Redemption 2 e Hogwarts Legacy, verdadeiros gigantes da indústria que figuram entre os títulos mais vendidos da história dos videojogos.
Este ano, porém, a história é radicalmente diferente. Battlefield 6 estreou com números impressionantes, vendendo mais de 7 milhões de cópias no primeiro fim de semana. Com esta performance arrasadora, Call of Duty precisava de acertar em cheio para competir. Infelizmente, não conseguiu.
Call of Duty: Black Ops 7 foi massacrado por análises dos jogadores e recebeu uma resposta crítica morna. Embora as primeiras análises profissionais tenham sido positivas, a pontuação média no Metacritic caiu para valores na casa dos 60, um resultado fraco para um jogo Call of Duty.
A empresa de análise de dados Circana divulgou recentemente a lista dos jogos mais vendidos nos Estados Unidos em novembro de 2025, bem como o ranking acumulado do ano. Os números de Black Ops 7 contam uma história reveladora sobre o estado da franquia.
Um novembro sem concorrência real
Black Ops 7 foi o jogo mais vendido de novembro nos EUA, mas enfrentou pouca competição relevante. A Nintendo lançou Kirby Air Riders e Hyrule Warriors: Age of Imprisonment, mas nenhum destes títulos representava um obstáculo sério para Call of Duty. Battlefield 6 ficou em segundo lugar durante o mês, provavelmente beneficiando das vendas da Black Friday, onde o preço baixou até 35 dólares em alguns retalhistas.
Apesar de liderar em novembro, Black Ops 7 não causou grande impacto. O jogo é atualmente o sétimo mais vendido do ano nos Estados Unidos, ficando abaixo de Battlefield 6, Borderlands 4, Monster Hunter: Wilds e vários jogos desportivos como NBA 2K e Madden. Call of Duty não ocupava uma posição tão baixa nas tabelas desde Call of Duty: World at War, que foi o sexto jogo mais vendido de 2008 com 2,75 milhões de cópias, numa altura em que a série ainda estava a construir o seu império.
Mat Piscatella, analista da Circana, confirmou que as vendas em dólares da franquia Call of Duty sofreram uma queda de dois dígitos percentuais comparando com novembro de 2024. Esta é uma revelação significativa, especialmente considerando que Black Ops 6 conseguiu ser o jogo mais vendido de 2024, apesar de também estar disponível no Xbox Game Pass.
Não se conhecem os valores exatos de vendas de Black Ops 7, mas é possível fazer algumas estimativas. Ghost of Yotei vendeu 3,3 milhões de cópias até 2 de novembro e está classificado em décimo lugar nesta tabela. Isto significa que Black Ops 7 vendeu mais de 3 milhões de unidades. Por outro lado, Monster Hunter: Wilds vendeu 10,7 milhões de cópias até ao final de outubro e ocupa o terceiro lugar, sugerindo que Black Ops 7 vendeu menos de 11 milhões.
Há um fator importante a considerar: Black Ops 7 está disponível no Xbox Game Pass, o que significa que milhares de jogadores acedem ao jogo sem o comprarem diretamente. Dados anteriores sugerem que a Activision pode ter perdido até 300 milhões de dólares em receitas devido ao Game Pass com Black Ops 6. No entanto, Black Ops 6 conseguiu manter-se como o jogo mais vendido de 2024 mesmo estando no serviço, tornando a performance de Black Ops 7 ainda mais preocupante.
Dados adicionais revelaram que Black Ops 7 vendeu apenas 401.000 cópias no Steam nos primeiros 26 dias após o lançamento, comparado com 2,3 milhões de Black Ops 6 no mesmo período. Esta quebra dramática de 83% nas vendas PC sugere problemas mais profundos do que apenas a competição do Game Pass.
A campanha que dividiu os jogadores
Uma das principais críticas apontadas a Black Ops 7 centra-se na sua campanha. Os jogadores não pouparam palavras, classificando-a como uma das piores da história de Call of Duty. A inclusão de elementos atípicos, como combates contra zombies gigantes e chefes absurdos, afastou-se drasticamente do tom mais sério que os fãs esperavam após Black Ops 6.
Adicionalmente, a controvérsia sobre o uso de inteligência artificial generativa em elementos visuais do jogo, incluindo cartões, camuflagens e ecrãs de loading, intensificou as críticas. A comunidade viu isto como um atalho criativo inaceitável para uma franquia com o orçamento e recursos da Activision.
O facto de o jogo exigir estar sempre online, mesmo para jogar a campanha sozinho, também não foi bem recebido. Para muitos jogadores, isto transformou-se num impedimento desnecessário que prejudicou a experiência.
Tecnicamente, Black Ops 7 ainda tem a época natalícia pela frente para recuperar nas tabelas de vendas. O jogo beneficiou de descontos significativos em dezembro e uma versão de teste gratuita foi disponibilizada para atrair novos jogadores. No entanto, ultrapassar títulos como Monster Hunter: Wilds, NBA 2K26 e Battlefield 6 representa uma subida considerável.
A Activision já tomou nota do desempenho do jogo e declarou que futuros títulos Call of Duty irão inovar mais e levar em maior consideração o feedback dos utilizadores. Foi uma declaração surpreendente, mas que parece indicar que Black Ops 7 não está a ter o desempenho que o estúdio desejava.
Uma mudança radical na estratégia
Numa publicação recente no blog oficial, a Activision confirmou que não voltará a lançar jogos Black Ops ou Modern Warfare em anos consecutivos. O comunicado reconhece diretamente que a franquia não tem cumprido as expectativas de alguns jogadores.
“Call of Duty tem desfrutado de sucesso duradouro graças a todos vós, uma comunidade apaixonada que exige excelência e não merece menos. Também sabemos que, para alguns de vós, a franquia não tem cumprido plenamente as vossas expectativas”, declarou a empresa.
A razão principal para esta mudança, segundo a Activision, é garantir “uma experiência absolutamente única todos os anos” e “impulsionar inovação que seja significativa, não incremental”. O estúdio prometeu que está a construir “a próxima era de Call of Duty” e que esta irá entregar “precisamente aquilo que querem, juntamente com algumas surpresas que levam a franquia e o género para a frente”.
Black Ops 7 torna-se o Call of Duty com pior avaliação de sempre pelos jogadores
O fator Battlefield
O regresso triunfal de Battlefield 6 mudou completamente a dinâmica do mercado de shooters militares. Depois de anos na sombra de Call of Duty, a EA conseguiu criar um jogo que não só vendeu excepcionalmente bem, como também conquistou os jogadores com uma jogabilidade que regressou às raízes da série.
A beta aberta de Battlefield 6 em agosto de 2025 gerou entusiasmo massivo e feedback extremamente positivo da comunidade. Quando Black Ops 7 chegou semanas depois, Battlefield 6 já tinha capturado a atenção dos jogadores e estabelecido-se como o shooter imperdível da temporada.
Para muitos analistas, esta competição renovada é saudável para a indústria. Mike Ybarra, antigo presidente da Blizzard e vice-presidente corporativo da Xbox, comentou nas redes sociais: “A competição é boa. Estou a torcer pela equipa de Call of Duty para voltar com vingança – pelos jogadores e pela sua equipa”.
Os números sugerem que os fãs rejeitaram largamente Black Ops 7. A combinação de uma campanha mal recebida, controvérsias sobre inteligência artificial, fadiga da série após lançamentos consecutivos de Black Ops, e a forte competição de Battlefield 6 criou uma tempestade perfeita.









