
O Discord anunciou uma expansão significativa da Central Familiar, o sistema que permite aos pais e encarregados de educação supervisionar a atividade dos adolescentes na plataforma. As novas funcionalidades incluem maior visibilidade sobre o que os jovens fazem no serviço e controlos mais abrangentes, mas a empresa mantém uma linha vermelha, as mensagens continuam privadas.
A partir de agora, os encarregados de educação podem decidir quem tem permissão para enviar mensagens diretas aos adolescentes. Através de novos controlos chamados Social Permissions, é possível escolher entre duas opções: permitir mensagens apenas de amigos ou aceitar mensagens de qualquer membro dos mesmos servidores. Esta é provavelmente a mudança mais significativa, já que dá aos pais alguma capacidade de limitar o contacto não solicitado.
Mas o Discord mantém a sua posição sobre privacidade das conversas. A plataforma deixa claro aos adolescentes: “Como sempre, os encarregados de educação não podem ver o conteúdo das mensagens que envias”. Ou seja, há controlo sobre a acessibilidade, mas não sobre o conteúdo das interações.
Os pais passam também a ter acesso a mais informação no resumo de atividade. A Central Familiar mostra agora o total de compras feitas, minutos em chamadas, e quais os utilizadores e servidores mais frequentados, tudo num período de sete dias. Os adolescentes podem ver exatamente a mesma informação que os pais, mantendo a transparência de ambos os lados.
Outra novidade é a possibilidade de os jovens notificarem voluntariamente os pais quando reportam alguém na plataforma. Os detalhes da denúncia mantêm-se privados, seguindo a mesma lógica aplicada às mensagens, mas os encarregados ficam a saber que algo foi reportado.
O acesso à Central Familiar continua a ser totalmente voluntário. Os adolescentes precisam de gerar um código QR para os pais digitalizarem, e depois têm de aprovar a ligação entre as contas. Isto significa que, na prática, um adolescente que não queira ser supervisionado pode simplesmente não partilhar o código.
Mesmo com as contas ligadas, os pais não conseguem controlar diretamente de que servidores os filhos fazem parte nem quem têm como amigos no Discord. O que recebem é essencialmente um painel de visão geral da atividade, sem capacidade de intervenção direta na maioria dos aspetos.
Estas mudanças surgem num momento de pressão crescente sobre as plataformas sociais. O Discord começou a implementar verificação de idade em certas regiões no início deste ano, juntando-se a uma vaga de restrições etárias que atravessa toda a internet. O CEO da empresa foi chamado ao Senado americano no ano passado, juntamente com outros líderes de redes sociais, para enfrentar famílias de crianças que morreram após cyberbullying e abuso online.
A abordagem do Discord é interessante porque tenta equilibrar dois objetivos potencialmente contraditórios: dar aos pais ferramentas de supervisão enquanto promete aos adolescentes que a privacidade das suas conversas não será violada. Este equilíbrio pode satisfazer ambos os lados ou acabar por não agradar completamente a nenhum.
Para os pais, a falta de acesso às mensagens pode parecer insuficiente, afinal, é nas conversas privadas que muitos problemas graves acontecem. Para os adolescentes, qualquer nível de supervisão pode ser visto como intrusivo, mesmo que as mensagens permaneçam inacessíveis aos adultos.
A natureza voluntária do sistema também levanta questões sobre a sua eficácia real. Os adolescentes que mais poderiam beneficiar de supervisão são provavelmente os menos propensos a partilhar o código QR com os pais. E mesmo aqueles que o fazem podem simplesmente criar contas secundárias não supervisionadas.
O Discord enfrenta um desafio que todas as plataformas sociais conhecem bem, como proteger menores sem transformar o serviço numa vigilância constante que afasta os utilizadores ou os empurra para alternativas menos seguras e completamente sem supervisão.








