A Comissão de Comércio Justo da Coreia do Sul (KFTC) aplicou uma multa de 158 milhões de won (cerca de 107.000 dólares) à Webzen depois de descobrir que a empresa enganou deliberadamente jogadores do MMORPG mobile MU Archangel sobre as probabilidades reais de obter itens raros através do sistema gacha.
A investigação da KFTC revelou algo que vai além de simples má divulgação de informação. A Webzen vendeu três tipos diferentes de bilhetes de gacha com um requisito mínimo de tentativas escondido, mas este não era o típico sistema de “pity” que garante um item raro após determinado número de tentativas falhadas.
Era exatamente o oposto.
Durante quatro anos, jogadores de MU Archangel gastaram dinheiro em itens raros que tinham 0% de probabilidade de sair nas primeiras 50 a 149 tentativas
Sem que os jogadores soubessem, a probabilidade de obter itens raros era literalmente de 0% até cumprirem entre 50 a 149 tentativas, dependendo do tipo de bilhete. Ou seja, os jogadores estavam a gastar dinheiro real em tentativas que nunca poderiam ter sucesso, acreditando que tinham uma hipótese desde a primeira compra.
Esta prática decorreu entre junho de 2020 e março de 2024, gerando 6,7 mil milhões de won em receitas adicionais para a empresa durante este período.
O problema veio à tona publicamente em março de 2024. Na altura, a Webzen rapidamente se desculpou e ofereceu reembolsos aos jogadores, afirmando que tinham “descoberto um erro na forma como as probabilidades eram exibidas”.
Mas a KFTC foi clara, isto não muda o facto de que os jogadores de MU Archangel fizeram compras “sob a crença errada de que podiam obter itens raros desde a primeira tentativa”.
E os números da compensação são reveladores. Dos 20.226 utilizadores afetados, apenas 860, menos de 5%, receberam efetivamente qualquer tipo de indemnização. É um contraste gritante com outras empresas investigadas no mesmo período.
A 30 de novembro, a KFTC anunciou formalmente a ordem corretiva contra a Webzen, proibindo futuras violações e exigindo a apresentação de medidas preventivas, além da multa de 158 milhões de won.
Há vozes na indústria que argumentam que a multa é demasiado modesta face à escala de receitas da Webzen. Afinal, a empresa ganhou 6,7 mil milhões de won com estas práticas, cerca de 63 vezes o valor da multa.
Uma investigação mais ampla
A Webzen não está sozinha neste escândalo. Segundo a Korea Bizwire, a KFTC investigou violações semelhantes por parte da Krafton (PUBG: Battlegrounds), Gravity (Ragnarok Online), WeMade (Night Crows) e Com2uS (STARSEED: Asnia Trigger) entre abril e junho de 2025.
Cada uma destas empresas recebeu multas de 2,5 milhões de won, valores significativamente inferiores ao aplicado à Webzen, possivelmente refletindo a gravidade e duração das infrações.
Esta vaga de investigações não surge do nada. Em março de 2024, a Coreia do Sul reviu a Lei da Indústria de Jogos, obrigando à divulgação completa das taxas de probabilidade para itens baseados em sorte.
Desde então, a KFTC investigou seis empresas. Em abril de 2025, impôs ordens corretivas e multas à Gravity e à Wemade. Processos de fiscalização contra a Webzen e a NCSoft (Lineage) estão em curso, com penalidades mais severas esperadas.
Como a KFTC afirmou em comunicado oficial: “Continuaremos a intensificar a monitorização de divulgações enganosas de probabilidades em jogos e a impor sanções rigorosas onde forem encontradas violações”.
As práticas de gacha têm sido alvo de escrutínio crescente a nível mundial. O Japão, por exemplo, baniu efetivamente o chamado “complete gacha” (onde precisas de obter vários itens específicos para desbloquear um prémio especial) há mais de uma década.
Está agora em discussão na Coreia do Sul uma proposta de lei para banir este tipo de mecânica, liderada por Kim Byeong-gi, líder parlamentar do Partido Democrático da Coreia.
