Um dos maiores estudos internacionais alguma vez realizados sobre o impacto dos videojogos acaba de ser divulgado, e os resultados desafiam muitos dos estereótipos negativos associados ao meio. O relatório Power of Play 2025, desenvolvido pela Video Games Europe em colaboração com associações do sector de vários continentes, analisou respostas de 24.216 jogadores ativos em 21 países e traça um retrato surpreendentemente positivo sobre como os videojogos influenciam a vida das pessoas.
A Associação de Empresas Produtoras e Distribuidoras de Videojogos (AEPDV) divulgou em Portugal os resultados deste inquérito que abrangeu jogadores com 16 anos ou mais que jogam pelo menos uma vez por semana. Entre os países analisados estão potências como Estados Unidos, China, Japão e Brasil, além de vários mercados europeus incluindo França, Alemanha, Espanha e Reino Unido.
Saúde mental no centro das descobertas
Os números relacionados com bem-estar emocional são particularmente reveladores. A nível global, 77% dos jogadores afirmam que jogar ajuda a reduzir o stress, enquanto 70% sentem menos ansiedade. Talvez mais impressionante seja o facto de 64% dos inquiridos dizerem que os videojogos ajudam a combater a solidão ao proporcionar conexão com outras pessoas.
Na Europa, os valores são ligeiramente inferiores mas ainda assim significativos: 72% reportam sentir-se menos stressados após jogar, e 56% afirmam que os videojogos ajudam a reduzir a solidão. Estes dados ganham particular relevância num período pós-pandemia onde as questões de saúde mental se tornaram centrais no debate público.
Simon Little, CEO da Video Games Europe, não hesitou em destacar a importância dos resultados: “Mais de metade da população europeia joga videojogos e o relatório Power of Play 2025 mostra porquê. Os benefícios são claros e globais: conexão social, bem-estar mental e emocional, inclusão e desenvolvimento de competências importantes”.
Relatório Power of Play 2025 revela benefícios sociais e emocionais em 21 países, incluindo impacto positivo na saúde mental
Embora divertir-se continue a ser a razão principal apontada globalmente para jogar (66%), as motivações seguintes revelam necessidades mais profundas. O alívio do stress surge em segundo lugar com 58%, seguido pelo desejo de manter a mente ativa com 45%. Os valores europeus seguem o mesmo padrão: 67% jogam para se divertirem, 55% para aliviarem stress e 42% para manterem a mente ativa.
Tiago Sousa, diretor geral da AEPDV, sublinhou esta dimensão mais ampla: “Os videojogos são muito mais do que entretenimento. Através de experiências digitais conscientes, podemos potenciar o bem-estar mental, fomentar a inclusão social e desenvolver competências essenciais para a vida. Os dados verificados no estudo Power of Play 2025 são uma prova concreta de como os videojogos podem contribuir para uma sociedade mais conectada e saudável”.
Desenvolvimento de competências profissionais
Uma das descobertas mais interessantes do estudo prende-se com o impacto dos videojogos na vida profissional e educativa. Metade dos jogadores inquiridos afirmam que jogar teve impacto positivo na sua formação profissional, tanto em termos técnicos como comportamentais. Mais surpreendente ainda, 43% referem que os videojogos influenciaram as suas escolhas educativas ou de carreira.
As competências desenvolvidas através dos videojogos são variadas e altamente valorizadas no mercado de trabalho atual. A nível global, os jogadores concordam que desenvolveram criatividade (77%), resolução de problemas (76%), trabalho em equipa e colaboração (74%), capacidade de adaptação (72%), pensamento crítico (71%) e competências de comunicação (67%).
Na Europa, as três principais competências mencionadas são criatividade (73%), resolução de problemas (72%) e capacidade de adaptação (70%). Um dado curioso: mais de metade dos jogadores globais (54%) afirmam que os videojogos desportivos melhoraram as suas capacidades no desporto correspondente na vida real.
Videojogos como ferramenta social
Contrariando o estereótipo do jogador isolado, o estudo revela que os videojogos são uma poderosa ferramenta de socialização. Quase dois terços dos jogadores (62%) acreditam que os videojogos criam oportunidades para conexões sociais positivas.
Entre os mais jovens (16-35 anos), os números são ainda mais impressionantes: 67% afirmam ter conhecido um bom amigo, parceiro ou companheiro através dos videojogos. Neste mesmo grupo etário, 73% dizem que os videojogos os ajudam a sentirem-se menos isolados ao permitirem conexão com outras pessoas.
O impacto familiar também é notável. Mais de metade dos jogadores (55%) referem que os videojogos têm um impacto positivo na relação com os filhos, e 68% jogam presencialmente com os filhos pelo menos uma vez por mês.
Quem são os jogadores
O perfil médio do jogador revelado pelo estudo pode surpreender alguns: a média de idade é de 41 anos, com uma divisão quase equitativa entre homens (51%) e mulheres (48%). Em alguns países, há até mais mulheres do que homens a jogar, como no Brasil (57% contra 43%) e na África do Sul (58% contra 41%).
A maioria dos jogadores (55%) prefere jogar em dispositivos móveis, e jogos de ação e de quebra-cabeças são os géneros favoritos em 20 dos 21 países inquiridos. Estes dados mostram que o perfil do jogador é muito mais diverso e mainstream do que muitas vezes se assume.
O relatório completo Power of Play 2025 está disponível para consulta online e representa uma contribuição significativa para compreender o papel dos videojogos na sociedade contemporânea.
