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    MicroProse e Geoff Crammond juntos novamente para ressuscitar uma lenda dos simuladores

    Os quatro jogos da série Grand Prix regressam ao Steam em 2026 com novo nome, mas mantendo o motor de física original e suporte para Steam Workshop

    Geoff Crammond Racing visual

    Para quem cresceu nos anos 90 com um PC e demasiadas horas perdidas a ajustar configurações de carros em vez de correr propriamente dito, esta notícia é enorme. A MicroProse anunciou a renovação da parceria com Geoff Crammond, o criador de alguns dos simuladores de corrida mais influentes das décadas de 1990 e 2000. Os quatro jogos da série Grand Prix voltam em 2026, agora rebatizados como Geoff Crammond Racing.

    GCR1, GCR2, GCR3 e GCR4 já têm páginas no Steam disponíveis para wishlist, com lançamento previsto para algum momento do próximo ano. A MicroProse garante que isto marca o início de uma parceria de longo prazo, sugerindo que poderá haver mais desenvolvimentos além destes relançamentos.

    Quem é Geoff Crammond e porque é que isto importa

    Geoff Crammond é praticamente um dos pais fundadores do género de simulação de corrida nos videojogos. Antigo engenheiro de sistemas da indústria de defesa com formação em física, Crammond lançou o primeiro jogo em 1991, Formula One Grand Prix, conhecido nos EUA como World Circuit, para Amiga, Atari ST e PC.

    O título original foi revolucionário pela taxa de frames impressionante (até 25 fps na versão PC), gráficos 3D e motor de física realista. Mas o verdadeiro génio residia nos detalhes, pela primeira vez, jogadores podiam ajustar configurações do carro às suas especificações pessoais, experimentar condições climatéricas dinâmicas e beneficiar de assistências de condução altamente configuráveis.

    Crammond introduziu conceitos que hoje são standard em qualquer simulador que se preze, física avançada em tempo real, linha ideal de corrida visível na pista, assistência de direção e travagem automática, comportamento realista dos pilotos controlados por IA, análise profunda de telemetria e sistemas completos de afinação dos carros. O sistema de clima chuvoso era particularmente impressionante, linhas de corrida que secavam gradualmente, equipas de boxes totalmente animadas e dados de telemetria. Tudo isto em 2002.

    Porquê mudar os nomes?

    Os jogos originais eram licenciados oficialmente pela FIA e apresentavam pilotos, equipas e patrocinadores reais das respetivas temporadas de Fórmula 1. Grand Prix cobria a temporada de 1991, Grand Prix 2 simulava 1994, Grand Prix 3 focava-se em 1998 (com expansão para 2000) e Grand Prix 4 recriava 2001.

    O problema é simples, a Electronic Arts e a Codemasters detêm atualmente as licenças exclusivas de F1. Relançar os jogos com os nomes originais seria um pesadelo legal. Daí a solução pragmática de rebatizar tudo como Geoff Crammond Racing, uma decisão que a MicroProse justifica como “refletir a nossa direção independente e garantir separação total de quaisquer licenças oficiais do automobilismo”.

    As imagens divulgadas pela MicroProse mostram que os patrocinadores foram removidos ou substituídos. Numa captura de ecrã de um carro vermelho (presumivelmente Ferrari), aparece o patrocinador falso “Orache” mas, noutro lado, o nome real da empresa “Oracle” escapou-se. Os circuitos e carros mantêm-se, mas os nomes de pilotos e equipas parecem ter sido ficcionalizados.

    Para muitos, isto não será problema. A comunidade de modding manteve estes jogos vivos durante décadas, criando versões atualizadas com temporadas recentes de F1. Com o suporte para Steam Workshop confirmado, restaurar nomes originais, criar liveries personalizadas e adicionar equipas e pilotos será trivial.

    O motor mantém-se intocado

    A MicroProse foi clara, o motor de simulação principal, os sistemas de física e as características de jogabilidade pioneiras desenvolvidas por Geoff Crammond permanecem no coração de cada lançamento. Não se trata de remasters com gráficos modernos, os jogos manterão os visuais poligonais originais.

    Esta decisão divide opiniões. Alguns fãs esperavam melhorias visuais significativas, especialmente considerando o trabalho que a comunidade de modding fez ao longo dos anos. As imagens divulgadas sugerem que os jogos não terão suporte para widescreen, pelo menos na versão base.

    Por outro lado, manter o motor original garante que a experiência de condução será autêntica. Estes jogos tinham requisitos de sistema extremamente baixos, o que significa que hardware moderno poderá executá-los em resoluções absurdas com todas as configurações no máximo e ainda sobrar capacidade de processamento. Alguns entusiastas já especulam sobre a possibilidade de jogar em VR a 4K.

    Uma história de inovação constante

    O primeiro Grand Prix foi lançado em 1991 e imediatamente estabeleceu novos padrões. Antes dele, apenas Indianapolis 500 da Papyrus (1989) tinha oferecido algo semelhante em termos de simulação 3D poligonal de corrida. Mas enquanto Indy 500 tinha um circuito, Grand Prix oferecia 16 pistas da F1 e uma temporada completa.

    Crammond construiu um motor proprietário muito antes da era do DirectX, OpenGL e placas gráficas 3D. O sistema tentava sempre renderizar o número especificado de frames por segundo. Quando o CPU não conseguia acompanhar, em vez de perder frames, o jogo abrandava o tempo de jogo. Ficou conhecido na comunidade como o infame “slow-motion driving”, certas secções de certos circuitos simplesmente corriam em câmara lenta porque exigiam demasiado processamento.

    Grand Prix 2, lançado em 1996, foi onde Crammond trabalhou praticamente sozinho durante a produção. O resultado foi espantoso, introduziu clima dinâmico com linhas de corrida que secavam progressivamente, equipas de boxes totalmente animadas e outputs de dados de telemetria. Isto em meados dos anos 90.

    Grand Prix 3 chegou em 2000 e enfrentou competição séria pela primeira vez. A Sony/Psygnosis tinha licença oficial da FIA para produzir jogos de Fórmula 1 na PlayStation. Crammond admitiu na altura ter ficado impressionado com o poder da consola e capacidade de texturização rápida: “Achei que deixar marcas de derrapagem era uma boa ideia”, disse em 2009.

    Grand Prix 4, lançado em 2002, foi geralmente considerado o jogo mais preciso da série. Mas os dias do trabalho solitário tinham acabado, cerca de 30 pessoas na MicroProse trabalharam no título. Crammond focou-se na física, IA e conversão de dados GPS brutos em “physics track mesh”.

    Menos de três meses após o lançamento, a MicroProse foi encerrada pela empresa-mãe Infogrames. Patches planeados para corrigir bugs foram cancelados. A série Grand Prix de Geoff Crammond terminava abruptamente. O último jogo creditado a Crammond continua a ser GP4, há mais de duas décadas.

    MicroProse ressuscitada

    A MicroProse original foi fundada em 1982 por Sid Meier, sim, o mesmo da série Civilization, como empresa focada em simuladores. Lançou vários simuladores de voo seminais como F-15 Strike Eagle e F-19 Stealth Fighter.

    A empresa atual foi comprada pelo empresário australiano David Lagettie em 2018, que tem vindo a readquirir propriedade intelectual anterior da marca. A estratégia passa por remakes selecionados de clássicos do passado enquanto desenvolve jogos de próxima geração.

    Uma das colaborações mais conhecidas entre a MicroProse original e Crammond foi Stunt Car Racer, um título absurdamente difícil e punitivo que apresentava gráficos impressionantes e física realista para a época.

    A MicroProse não divulgou datas concretas além de “2026”. As quatro páginas no Steam estão marcadas como “coming soon”, sem preços anunciados. Para a velha guarda de entusiastas de sim racing que manteve estes jogos vivos, ou para a nova geração que procura formas mais acessíveis de executar estes clássicos de PC, ter toda a série GCR no Steam é uma notícia enorme.

    O suporte para Steam Workshop será crucial. Os jogos de Crammond sempre foram populares entre tinkerers, pessoas que gostam de mexer e ajustar tudo. Dar ferramentas oficiais a esta comunidade pode estender significativamente a vida útil destes relançamentos.

    A MicroProse descreveu isto como o início de uma parceria de longo prazo, não um projeto nostálgico isolado. Há sugestões de anúncios adicionais relacionados com a série GCR. Alguns especulam sobre a possibilidade de um Geoff Crammond Racing 5 genuinamente novo, embora não haja confirmação oficial.

    Para os fãs de simuladores clássicos de corrida, especialmente aqueles que passaram os anos no Amiga ou nas primeiras versões PC, isto não é apenas mais um anúncio retro. É o regresso de uma filosofia, jogos de corrida construídos sobre profundidade, precisão e respeito pela inteligência do jogador.

    Helder Archer
    Helder Archer
    Fundou o OtakuPT em 2007 e desde então já escreveu mais de 60 mil artigos sobre anime, mangá e videojogos.

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