A Nintendo revelou oficialmente a Nintendo Switch 2 e apesar do seu preço ser justo e as melhorias de hardware serem bastante significativas quando comparadas ao modelo original, o preço dos seus jogos não agradou os jogadores. Jogos como Mario Kart World e Donkey Kong Bananza vão ser vendidos por 79,99€ em formato digital e 89,99€ em formato físico, o que representa um salto significativo em relação aos 59,99€ estabelecidos de anteriores gerações, ou dos 69,99€ que se tornaram comuns nos jogos AAA da PlayStation 5. Desde os anos 90, na era da Nintendo 64, que não assistíamos a preços tão elevados que juntamente com a inflação fazem doer ainda mais as carteiras dos jogadores.
Perante tais desenvolvimentos não tardaram a surgir nas redes sociais muitas mensagens de jogadores frustrados, principalmente os mais jovens que dependem do dinheiro de terceiros para adquirem jogos. Também existe uma minoria que acredita que este aumento vai proporcionar uma qualidade maior na qualidade e uma melhor sustentabilidade para os estúdios de desenvolvimento de jogos.
Contudo, o custo mais elevado dos lançamentos físicos levanta questões sobre a estratégia da Nintendo e das outras empresas. Embora seja verdade que o fabrico e o envio aumentou nos custos de distribuição física, uma diferença de 10 € pode ser entendida como um incentivo à adesão ao mercado digital, ainda mais quando a Nintendo indicou no site da Nintendo Switch 2 que os jogos mesmo em formato físico vão necessitar de serem descarregados. A adesão ao digital é um sonho para as produtoras porque reduz as despesas e o impacto ambiental. Contudo, também pode significar um pesadelo para cadeias de lojas como a Game que fazem do seu negócio a venda de videojogos, consolas e acessórios.
Contudo, os maiores preocupados com esta adoção são os colecionadores. Os jogos em formato físico continuam a ter um valor considerável, e esta agressividade do mercado digital pode eventualmente levar as produtoras a abandonar o formato físico. Eu, por exemplo, possuo uma grande coleção de jogos físicos de gerações anteriores.
Este aumento de preço tem sido um assunto que marcou presença em praticamente todas as gerações, porque o custo de jogos é cada vez maior e os ciclos de desenvolvimento são cada vez mais longos. Logicamente que os orçamentos também estão a aumentar e a fasquia é cada vez maior sem esquecer que existe também a pressão dos consumidores nos prazos e na qualidade dos produtos.
Deste ponto de vista, os preços mais elevados podem ser um mal necessário, uma tentativa de compensar melhor os programadores e manter os estúdios saudáveis. Mas, mesmo que o argumento comercial faça sentido, é difícil de ignorar o seu impacto no consumidor, especialmente quando é a Nintendo que estabelece este novo PVP.
Se a Nintendo, uma empresa conhecida pela sua imagem de família se sente à vontade para normalizar o preço dos seus jogos de 80 a 90 €, o que proíbe a Sony, Steam ou Microsoft de adoptarem os mesmos preços dos seus jogos? Aliás, existem rumores que o jogo Gran Theft Auto VI vai custar 99,99 € quando receber lançamento este outono para PlayStation 5 e Xbox Series, e sejamos sinceros, um Donkey Kong Bananza ou um Mario Kart World não possuem o mesmo orçamento do próximo capítulo da Rockstar Games, o que condiciona o argumento para um aumento ainda maior do que os 99,99€ se assim o desejarem.
Então poderemos estar aqui a assistir a uma mudança radical quer nos jogos first party como nos de terceiros? Uma mudança que poderá deixar os jogadores preocupados com o seu orçamento e oferecer menos opções?
Também convém não esquecer que alguns géneros de jogos, tais como os de luta, geralmente chegam às lojas apenas com a espinha dorsal instalada e o resto dos seus membros só é gerado com o decorrer da sua estadia no mercado. Jogos como Mortal Kombat 1 e Street Fighter 6 são dois exemplos perfeitos e nada proíbe futuras atualizações destes ou de outros jogos de servirem de porta de entrada para o aumento do preço de acompanhamentos por custos semelhantes, o que por si já representa um valor mais elevado no produto final.
Perante tais valores, os serviços de subscrição tais como a Xbox Game Pass e a PlayStation Plus são cada vez mais a via a seguir para muitos jogadores, porque oferecem bibliotecas inteiras de jogos a um custo mensal mais simpático para as carteiras. No entanto, a Nintendo também parece estar ciente desta mudança, e está a atualizar a sua própria oferta juntamente com o lançamento da Nintendo Switch 2 ao juntar ao serviço Nintendo Switch Online o suporte para jogos Nintendo Gamecube.
Também à semelhança das suas concorrentes, a Nintendo está a adotar a via remaster, tanto que até criou uma gama própria. A mesma oferece a possibilidade dos jogadores atualizarem as suas versões de jogos da Nintendo Switch original com novas funcionalidades por um custo monetário ainda por revelar. Quem vive nesta indústria sabe que esta foi uma via que a Sony Interactive Entertainment optou por seguir oferecendo novas funcionalidades a jogos AAA como Horizon Zero Dawn e Days Gone na PlayStation 5 e no PC.
Estas actualizações mostram que a Nintendo está, pelo menos, a tentar acrescentar valor, mesmo quando os preços dos jogos sobe dramaticamente. Resta saber se estes valores se vão instalar na indústria e que repercussões terão. Esperemos que uma empresa que desde sempre tentou condicionar a tradição e até os próprios videojogos não seja a mesma que os pode levar a caminhos inesperados enquanto nos aproximamos de uma era de insegurança e incerteza, dentro e fora deste espectro.