
Imagine ter acesso não apenas aos instintos de uma espécie animal, mas às memórias individuais gravadas no seu código genético. É este o ponto de partida de Butterfly Chronicles, a nova banda desenhada publicada pela Escorpião Azul do investigador português João Mascarenhas, que coloca a ficção científica ao serviço da reflexão sobre os avanços tecnológicos e as suas consequências éticas.
A história desenrola-se na Universidade de Kymera, em Tóquio, onde uma equipa de investigação em bio-robótica desenvolve um sistema revolucionário. O objetivo inicial é simples: extrair informação comportamental dos genes de animais para programar robôs de desporto, mais concretamente do Droidball. Mas a descoberta vai muito além do esperado. Os investigadores percebem que conseguem aceder não só à chamada “memória da espécie”, mas também às memórias individuais do organismo de onde provém o material genético.

No centro desta trama está Hanako-san, estudante do primeiro ano de bio-robótica que trabalha com o Professor Manabu-sensei no desenvolvimento dos sistemas de leitura genética. À volta dela, Mascarenhas constrói uma narrativa que entrelaça ciência de ponta, cultura japonesa, desporto, humor, música e até grupos criminosos. O resultado é uma história que tanto entretém como provoca reflexão.
João Mascarenhas, engenheiro e investigador científico na área dos materiais, não é novato na arte de comunicar ciência através da banda desenhada. Há mais de quatro décadas que utiliza a nona arte para divulgar investigação e desenvolvimento tecnológico, tanto em projetos nacionais como europeus. As suas histórias já foram publicadas em revistas e publicações científicas por todo o mundo, e atualmente trabalha numa banda desenhada em catorze línguas para divulgar um projeto europeu.

Em Butterfly Chronicles, o autor parte de bases científicas sólidas para aquilo que classifica como “especulação científica”. Trata-se de explorar possibilidades que, embora ainda não sejam realidade, se mantêm dentro do campo do plausível. Mas Mascarenhas vai mais longe, usa a ficção para lançar alertas sobre as implicações éticas dos avanços científicos. Como devemos usar as novas tecnologias? Onde traçamos a linha entre progresso e invasão?
A banda desenhada funciona como um duplo convite. Por um lado, a dimensão estética torna teorias complexas mais acessíveis a um público alargado. Por outro, estimula a reflexão crítica sobre temas que, de outra forma, poderiam parecer demasiado técnicos ou distantes. Através das pranchas desenhadas, conceitos de robótica, genética e bioética ganham vida e proximidade.

Num detalhe que reforça a ligação entre arte e ciência, João Mascarenhas decidiu assinar os exemplares do livro com uma tinta especial que contém o seu próprio ADN. Um gesto simbólico que espelha perfeitamente a temática da obra: a informação genética como registo de memória e identidade.
O lançamento do livro Butterfly Chronicles de João Mascarenhas vai acontecer no próximo sábado pelas 16h20 no Amadora BD. PVP: 28,50€, 232 páginas P/B.
 
  
 









