Mais...
    InícioMangaMangá Flash Point em Portugal

    Mangá Flash Point em Portugal

    capa Mangá Flash Point em Portugal (1)

    A Sendai Editora em parceria com a Chili com Carne vai no MaiaBD 2025 (Festival Internacional de Banda Desenhada da Maia de 23 a 25 de maio) lançar o mangá Flash Point de Imai Arata.

    Num dia quente de Verão, uma jovem japonesa deixa de ir à escola. Como uma piada inofensiva, ela e o cunhado desempregado começam a fazer vídeos parvos no Instagram, gerando milhões de visualizações. Quando ela é vista num direto no comício de Shinzo Abe, a diversão toma um rumo completamente surreal e assustador. Como se sabe, a 8 de Julho de 2022, o ex-primeiro ministro é morto a tiro… Flash Point de Imai Arata atreve-se a tratar um assunto tabu, evitado por todos, menos o mais corajoso dos artistas japoneses.

    Na verdade, este livro é sintomático do problema da Banda Desenhada em tratar dos dias que correm, onde preferem escrever sobre o passado ou desenhar o futuro: fazendo impressionantes reconstituições históricas (Bourgeon, Tardi ou Nunsky) ou projecções (quase sempre) distópicas (Moebius, Geof Darrow ou Katsuhiro Otomo). O presente é que é um problema, especialmente com as bulhas ideológicas que o mundo está a viver. Se calhar sempre foi assim mas agora parecem bater-nos mesmo à nossa porta diariamente, graças às redes sociais. Também é verdade que em cada época da História há temas que são tabu ou que sejam mal acolhidos – basta lembrar as lutas ecológicas dos anos 60 e 70, em que o grande público não simpatizava e que agora, que o planeta prepara-se para dar o grande peido, toda a gente é “ecologista”.

    É de salientar a enorme coragem de Arata de comentar temas que são tabu no Japão, um país que até tem um sistema político democrático, mas com uma lista infinita de assuntos que não se tratam… No aclamado mangá F criou uma realidade paralela pós-Fukushima com um imaginário envolta do horroroso Daesh. O livro só teve edição profissional nos EUA. Pelo Japão foram apenas impressos 300 exemplares, distribuídos de forma “underground”, isto é, num circuito progressista do mundo das artes – a BD estava associada a uma exposição com o colectivo Chaos*Lounge – e pouco mais. Em entrevista, Arata diz que talvez umas pessoas de Fukushima também tenham tido acesso, tornando a publicação “mítica”, uma vez que no Japão nenhuma editora teria coragem de publicá-la.

    Agora decidiu pegar em vários temas atuais como o fascínio tóxico das redes sociais, a grande renúncia (The Great Resignation em inglês), as invasões populares aos locais de poder (que entretanto o Trump “legalizou”!), as tentativas e (poucas) concretizações de assassinatos de políticos – diziam os Stealing Orchestra que De um Tiro à Socapa nem o Papa escapa mas só Abe Shinzo é que bateu as botas até agora…; já para não falar das Teorias da Conspiração (a maior de todas é que não revelaram a maior delas todas: porque raios tem sido eleitos como presidentes os burgessos com os piores penteados de sempre, WTF!?), a pós-verdade e a subida da extrema-direita à escala global.

    Não se deixem enganar pelo ar pateta-pop deste mangá. Por detrás da sua estética comercial, o leitor vai ter comida para o cérebro, na melhor tradição de quem pratica a sátira.

    Imai Arata (1992) é dos poucos artistas engajado politicamente e independentes nos dias de hoje no Japão. Desde 2009 que faz vídeos, animação, instalações e banda desenhada num estilo de pseudo-reportagem, explorando temas como os sem-abrigo, a imigração e refugiados – mas também temas mais leves como o romance e o quotidiano. O seu mangá mais conhecido é F (2015), publicado profissionalmente apenas em inglês pela Glacier Bay Books, em 2021, que explora uma distopia numa realidade paralela após o evento do desastre nuclear de Fukushima. Este novo livro, Flash Point (2023), é uma sátira política sobre redes sociais e o assassinato de Shinzo Abe, vencedor do Prémio Shunji Enomoto do 5º Prémio de Mangás organizado pela torch comics e obtendo várias referências nas listas de final de ano das publicações especializadas japonesas.

    Edição com entrevista entre o autor e Zach Godin e Ryan Holmberg

    Da presente edição foram feitos 200 exemplares com uma capa e sobrecapa diferentes, inseridos na coleção RUBI da Associação Chili Com Carne

    Formato: 21×14,18 cm (A5)

    Número de páginas: 232

    Preço: € 15
    Capa: Brochado

    Edição e tradução: Cassiano Soares

    Revisão: Andreia Lopes

    Legendas e Design: Lauren Eldon e Joana Pires

    Ficheiros fornecidos por Glacier Bay Books

    Agradecimentos: Ryan Holmberg e emuh ruh

    ISBN: 9789893537251

    Lançamento: Maio de 2024

    Helder Archer
    Helder Archer
    Fundou o OtakuPT em 2007 e desde então já escreveu mais de 60 mil artigos sobre anime, mangá e videojogos.

    Artigos Relacionados

    Subscreve
    Notify of
    guest

    0 Comentários
    Mais Antigo
    Mais Recente
    Inline Feedbacks
    View all comments
    - Publicidade -

    Notícias

    Populares