O Governo português vai lançar um novo Prémio Nacional de Banda Desenhada, dotado com 30 mil euros, destinado a reconhecer o trabalho de autores, obras publicadas e projetos inovadores na área. O anúncio foi feito pela ministra da Cultura, Margarida Balseiro Lopes, durante uma deslocação ao festival AmadoraBD, um dos eventos mais importantes do setor no país.
A iniciativa surge num momento em que a banda desenhada portuguesa atravessa um período de renovado interesse, particularmente entre o público mais jovem. A criação deste prémio pretende formalizar o apoio do Estado a uma forma de expressão artística que, apesar da sua crescente popularidade, ainda carece de maior reconhecimento institucional.
Ministra da Cultura anuncia três categorias distintas durante visita ao AmadoraBD e primeira edição terá vencedores revelados em outubro de 2026
O prémio dividir-se-á em três categorias distintas, cada uma direcionada para diferentes dimensões da criação em banda desenhada. O Prémio Carreira destina-se a profissionais que construíram um percurso relevante e consistente ao longo dos anos, contribuindo significativamente para o desenvolvimento da nona arte em Portugal.
Já o Prémio Obra do Ano focará álbuns ou publicações lançadas no ano anterior à realização do concurso. Esta categoria permitirá destacar trabalhos recentes que se distingam pela qualidade artística, narrativa ou pela forma como contribuem para o panorama editorial português. Quem receber este prémio vai igualmente ganhar um apoio adicional de 1.500 euros para a deslocação do autor ao Festival Internacional de Banda Desenhada de Angoulême
A terceira categoria, Prémio Inovação, reconhecerá projetos ou iniciativas que tragam abordagens frescas à banda desenhada. Podem enquadrar-se aqui experiências com novos formatos, plataformas digitais, colaborações interdisciplinares ou qualquer proposta que expanda as fronteiras tradicionais do meio.
Portugal: Categorias do Prémio Nacional de Banda Desenhada
- Prémio Carreira: Galardão atribuído a criadores com um trajeto relevante e consolidado no meio da banda desenhada nacional.
- Prémio Obra do Ano: Distingue publicações portuguesas lançadas nos doze meses que antecedem a edição do concurso.
- Prémio Inovação: Reconhece propostas, projetos ou ações que tragam abordagens originais e experimentais à nona arte.
O regulamento oficial do prémio deverá ser publicado nas próximas semanas, permitindo que interessados conheçam em detalhe os critérios de avaliação e os procedimentos de candidatura. A abertura das inscrições está prevista para o início de 2026, dando tempo suficiente para que autores e editoras preparem as suas submissões.
Os vencedores serão anunciados a 18 de outubro de 2026, o Dia Nacional da Banda Desenhada Portuguesa. Esta escolha reforça a ligação simbólica do prémio com a celebração institucional da nona arte no calendário cultural português.
A gestão do prémio ficará sob responsabilidade da DGLAB (Direção-Geral do Livro, Arquivos e Bibliotecas), organismo que já tutela outras iniciativas de apoio à criação literária. Esta integração administrativa facilita sinergias com programas existentes e garante uma estrutura de avaliação com experiência na análise de candidaturas culturais.
Apoios complementares ao setor
O novo prémio não surge isolado. A ministra Margarida Balseiro Lopes sublinhou que esta medida complementa bolsas anuais de criação literária que já contemplam a banda desenhada, juntamente com a literatura infantil e juvenil. Estes apoios financeiros diretos permitem aos autores dedicar tempo a projetos de maior fôlego sem a pressão imediata de viabilidade comercial.
Paralelamente, a Direção-Geral das Artes e a DGLAB estão a desenvolver programas de formação dirigidos a profissionais de bibliotecas públicas. O objetivo passa por capacitar estes técnicos para melhor apoiarem leitores interessados em banda desenhada, desde recomendações até à organização de atividades de mediação.
Outro eixo de intervenção prende-se com a criação de bedetecas em municípios que ainda não dispõem destes espaços especializados. A bedeteca da Amadora, uma das referências nacionais, serve de modelo para estas novas estruturas que visam democratizar o acesso a acervos de qualidade fora dos grandes centros urbanos.
Estado assume responsabilidade cultural
Na sua intervenção, a ministra da Cultura foi clara quanto ao papel que o Estado deve desempenhar. “Temos já alguns eventos em Portugal, mas o Estado, através do Ministério da Cultura, tem a obrigação de apoiar as áreas que precisem dessa maior valorização e promoção. E acresce a circunstância de esta nona arte ser muito popular entre os mais novos”, afirmou, reconhecendo implicitamente que a banda desenhada tem estado subvalorizada face à sua importância cultural e ao interesse que suscita junto do público.
Esta posição marca uma mudança de paradigma. Durante décadas, a banda desenhada foi frequentemente vista como entretenimento menor, distante das artes consideradas mais nobres. O reconhecimento institucional através de um prémio nacional contraria essa perceção e equipara a nona arte a outras formas de expressão cultural já consolidadas no apoio estatal.
A escolha de anunciar o prémio durante o AmadoraBD não foi casual. O festival, que este ano celebrou mais uma edição, continua a ser a principal montra da criação nacional e internacional em Portugal, atraindo milhares de visitantes e funcionando como ponto de encontro entre autores, editores e leitores.
