Desde sempre, que a Dotemu se tem destacado por criar jogos que preservam a essência dos clássicos, mas com uma abordagem moderna e refinada. Trabalhando em parceria com estúdios como a Guard Crush Games, a Dotemu tem revivido géneros consagrados, mantendo os elementos que fizeram sucesso no passado e incorporando mecânicas, design e fluidez que tornam a experiência mais agradável e acessível aos jogadores de hoje.

Seguindo esta linha, chega-nos Absolum, o primeiro IP original do estúdio francês Dotemu, que ficou hoje disponível para a PlayStation 4, PlayStation 5, Nintendo Switch e PC (Steam).

Neste jogo somos levados para Talamh, um reino devastado por um cataclismo mágico provocado pela ambição desmedida dos feiticeiros. A magia foi proibida e durante o caos que se seguiu, Azra, o Conquistador, ergueu a temida Ordem Carmesim, escravizando os feiticeiros sobreviventes e colocando os príncipes leais a governar as terras conquistadas. Com a ajuda da enigmática feiticeira Uchawi, assumimos o controlo de um pequeno grupo de rebeldes, cujo objetivo passa por derrubar Azra e impedir que todo o reino caia sob o seu domínio.

O nosso amigo anão em ação.

Uma das coisas que mais me cativou é a forma como conseguem combinar o clássico beat ’em up com elementos roguelite. Não se trata de uma simples junção entre dois géneros independentes, mas de os fundir de forma orgânica, tirando partido das qualidades de cada um. O resultado é um jogo que mantém a intensidade imediata do combate, enquanto acrescenta variedade e profundidade através da sua estrutura roguelite. Cada morte deixa de ser apenas um obstáculo e passa a ser uma oportunidade, trazendo novas descobertas, pequenas alterações na história e recompensas que alimentam a curiosidade.

Esse ciclo está diretamente ligado à exploração. O mapa, dividido em ilhas, está repleto de caminhos alternativos, criaturas únicas e cenários que se distinguem entre si, desde o pântano assombrado, à floresta tóxica de Jaroba, até ao imponente castelo do rei dos anões. Cada área convida à descoberta, não só pela sua atmosfera mas também pelas recompensas escondidas. É comum tropeçarmos em tesouros ocultos, eventos inesperados e missões secundárias que não servem só para oferecer loot mas também para aprofundar o lore, revelar diferenças entre raças e dar dimensão às personagens que habitam este mundo misterioso.

Há uma variedade interessante de inimigos no jogo.

O combate sente-se familiar para quem cresceu com Streets of Rage ou Golden Axe por exemplo, mas está lotado de detalhes que o tornam atual e divertido. Inicialmente, temos apenas dois heróis desbloqueados e cada um usufruiu de ataques leves, pesados e habilidades especiais, sendo que mais tarde cada um ganha um ataque devastador que pode mudar o rumo de uma batalha.

A banda sonora foi composta por Gareth Coker (Prince of Persia: The Lost Crown, Ori and the Will of the Wisps, Halo Infinite) com colaborações de Mick Gordon (DOOM Eternal), Yuka Kitamura (Elden Ring) e Motoi Sakuraba (Eiyuden Chronicle: Hundred Heroes).

As personagens jogáveis tem características diferentes umas das outras e isso nota-se mesmo durante o combate. Galandra, com a sua espada colossal, ainda usa os punhos para golpes rápidos e pesados, enquanto Cider, uma espécie de marioneta, recorre à elasticidade dos braços e pernas para combos rápidos e imprevisíveis. Esta diversidade faz pensar e adaptar a forma como enfrentamos cada inimigo, ao mesmo tempo que torna o combate mais interativo e experimental.

Já a mecânica de parry acrescenta uma camada extra à estratégia, permitindo evitar dano e criar oportunidades de contra-ataque. Para mim, esta característica comum nos jogos de ação é uma novidade dentro dos beat ’em ups, que adiciona uma certa frescura ao género. Adicionalmente, o combate é complementado com o acesso de adereços e Rituais. Disponíveis depois de derrotar todos os inimigos numa área, oferecem escolhas entre habilidades passivas ou melhorias elementares nos ataques, como prender inimigos em bolhas de água, embutir a espada em fogo ou raios, ou aumentar o poder ofensivo ou defensivo. Cada batalha acaba por provocar uma sensação diferente e explorar combinações de habilidades torna-se muito interessante e gratificante.

Dentro do refúgio, é ainda necessário aprimorar os personagens, desbloquear novas habilidades e aprofundar a ligação com cada personagem. As melhorias vão desde mais vida e mana, ao aumento do ouro que levamos para as expedições, até a ataques especiais mais poderosos, preparando-nos calmamente para os desafios seguintes.

Para desbloquearmos habilidades na árvore das almas precisamos de recolher cristais.

Para as pessoas que preferem companhia, a aventura pode ser percorrida cooperativamente, seja local ou online. Apesar de ainda não ter sido possível testar partidas online devido à falta de jogadores antes do lançamento, jogar localmente com um amigo revelou-se extremamente gratificante. Trouxe-me lembranças das longas sessões com os meus irmãos e amigos nos tempos de escola em Streets of Rage, proporcionando momentos imprevisíveis e divertidos, dos quais já tinha saudades.

Supamonks, é o estúdio responsável pela arte e animação, uma das melhores características de Absolum.

No campo gráfico, Absolum é um requinte para os amantes de artes visuais. Os seus elementos gráficos inspirados em jogos clássicos como no estilo de banda desenhada, ressaltam perfeitamente o tom fantástico do jogo. Cenários, personagens e inimigos estão bem desenhados e oferecem grande variedade, ganhando vida através de uma paleta de cores vibrante. É um daqueles jogos que nos convida a explorar cada canto e a fazer pequenas pausas para apreciar os detalhes do ambiente. Em termos de desempenho, a versão para PlayStation 5 está impecável, sem quedas percetíveis de FPS ou erros visuais, garantindo uma experiência fluida do início ao fim.

O mundo exala fantasia.

O som também impressiona, o que não me espanta ao termos presente nomes como Gareth Coker (Ori and the Will of the Wisps) e Motoi Sakuraba (Tales of, Star Ocean). Cada música orquestrada concilia-se verdadeiramente bem com o que vemos no ecrã, reforçando a atmosfera e as lutas, sobretudo as cenas mais intensas. As vozes dos personagens acompanham esse nível de detalhe, com atores profissionais que dão vida e personalidade aos heróis e vilões, tornando os diálogos e reações mais envolventes.

Absolum é um jogo que realmente vale cada segundo do nosso tempo. A combinação do beat ’em up com elementos roguelite resulta na perfeição, oferecendo uma história interessante, combates intensos e uma progressão que recompensa cada esforço. Além disso, o jogo impressiona com a sua arte e banda sonora memoráveis, capaz de permanecer connosco muito tempo mesmo depois de desligarmos o ecrã. No fim de contas, Absolum demonstra que esta mistura de géneros pode ser extremamente eficaz e divertida.

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