Desde o primeiro anúncio que Banishers: Ghosts of New Eden me suscitou interesse. Com a DON’T NOD a cargo do seu desenvolvimento, conhecida principalmente pelos títulos Life is Strange e Vampyr, era garantido que iríamos presenciar um enredo forte e emotivo. Desta vez, o estúdio francês tirou da cartola uma experiência ambiciosa, apresentando um RPG de ação e aventura focado numa história de amor que explora a vida e a morte através de um cenário assombrado onde as decisões do jogador serão cruciais para moldar o rumo da aventura.

Situado na América do Norte do século XVII, Banishers: Ghosts of New Eden conta a história de Red Mac Raith e Antea Duarte, um casal de Banishers dotados de capacidades espirituais que lidam com os espectros que assombram os vivos. A pedido de um velho amigo, partem para Nova Éden, descobrindo assim que chegam pelos habitantes locais que todo o local sofre de uma poderosa maldição. Ao darem seguimento à investigação, as suas vidas sofrem uma grande tragédia, a jovem protagonista para salvar o seu companheiro é morta por uma entidade chamada de Pesadelo, acabando por se tornar num fantasma vinculado a Red. A partir daqui, teremos de perceber o porquê da origem deste pesadelo, resolver casos diferentes de assombração, explorar as várias aldeias e ambientes, com o propósito de escolher se desejamos encaminhar a alma de Antea para o descanso, ou se pretendemos invocar um ritual proibido para reivindicar o corpo de Antea do reino dos mortos.

A manifestação do amor de Red e Antea

Banishers: Ghosts of New Eden invoca inúmeras reflexões ao longo do jogo, mostrando que nem sempre vai ser fácil decidir o que fazer. Cada investigação, principal ou secundária, pode ser solucionada de três maneiras diferentes: Caso escolhamos a “Ascensão” ou “Banir” o fantasma, incentivamos Antea a ascender em paz. Se escolhermos “Culpar” a pessoa em questão atormentada, roubamos a sua energia vital que servirá para Antea se aproximar levemente da ressurreição.

Banishers: Ghosts of New Eden foi editado pela Focus Entertainment.

Este sistema de “julgamento” estimula a narrativa, levando-nos a examinar com calma os pormenores de cada caso que temos em mãos, desde livros, memórias e documentos que encontramos, às próprias informações que vamos recolhendo dos depoimentos das pessoas que vivem em Nova Éden. Além disso, no seguimento da aventura, é possível observar as mudanças no mundo conforme as decisões que tomamos, influenciando não só a postura dos outros personagens, como o nosso relacionamento com a Antea.

Um dos casos de assombração

Gradualmente, vamos também testemunhar conversas e confissões entre o casal, onde vão sendo relatadas as histórias e acontecimentos que vivenciaram antes de se conhecerem e até mesmo o que pensam sobre os acontecimentos atuais. A DON’T NOD sabe bem como envolver os jogadores de corpo e alma nas suas narrativas, ao lado de um encantador e complexo romance, persiste uma realidade desoladora alimentada pelos problemas daquela época, como o colonialismo, racismo, homofobia ou fanatismo religioso que trazem solidez à atmosfera do jogo.

Nova Éden tem muito para explorar. Temos um mapa semi-aberto sendo que em alguns locais será preciso desbloquear habilidades especiais para abrir caminhos inacessíveis. Desde florestas a pântanos ou montanhas geladas, não vão faltar paredes para escalar, puzzles ambientais por resolver, segredos, recursos importantes para melhorar o nosso equipamento, maldições para desfazer, inimigos, e outras atividades. Para ajudar na navegação, há locais chamados de abrigo, onde podemos usar o fast travel numa lareira para chegar mais depressa ao objetivo pretendido no mapa.

Com o Red a cumprir o seu dever no mundo dos vivos, a sua companheira é também necessária para localizar os segredos do outro lado do “véu”. Isto inclui ver recompensas ocultas, identificar objetos necessários para resolver as missões, seguir rastos de fantasmas, etc. Além disso, os seus poderes em sintonia com as ferramentas do seu companheiro são fundamentais para resolver os puzzles do jogo.

O primeiro boss do jogo

Se na exploração existe uma sinergia interessante entre o casal, em combate não é diferente. Durante os combates conseguimos mudar entre os dois personagens, usando Red essencialmente para ataques de corpo a corpo contra as criaturas possuídas, contando ainda com uma arma para ataques à distância. Quanto às habilidades físicas e mágicas de Antea, estas são geralmente utilizadas contra os espectros. Adicionalmente, contamos com uma barra de energia que vai carregando consoante os golpes que desferimos nos inimigos, que depois de cheia, permite causar um dano maior.

No interior do vazio, um local onírico onde os espíritos vagueam, encontram-se os maiores desafios.

O elemento central do combate passa essencialmente pela combinação de golpes entre Red e Antea, e para fortalecer este elemento, devemos desenvolver com sabedoria a árvore de habilidade partilhada pelos dois, ao mesmo tempo que intensificamos as suas qualidades a partir dos equipamentos adquiridos pelo caminho. Percebe-se que comparado a Vampyr, o combate está mais polido, com uma dinâmica gratificante entre o duo. Contudo, nem tudo funciona bem em combate. Para além da pouca variedade de inimigos, o movimento da câmara é um dos exemplos que nem sempre faz o seu dever, tornando complicada a nossa tarefa de evitar os ataques dos oponentes. Mas felizmente é apresentado um desafio bastante satisfatório, especialmente quando nos vemos cercados por vários inimigos ou na luta contra os Bosses. Pessoalmente, estes últimos são bem construídos e conseguem cumprir o esperado de uma boa “bosse battle”.

Há momentos únicos em Banishers

Analisado numa PlayStation 5, Banishers: Ghosts of New Eden consegue ser um jogo decente na sua apresentação, mas o ambiente é o que mais ressalta, andando lado a lado com o tom melancólico da narrativa. O mundo de Nova Éden, apresenta cenários naturais bonitos que refletem a índole sombria do local: lugares desertos, ocupados pela destruição, morte e fome. O estúdio teve também um cuidado específico na representação do século XVII, tendo em atenção os trajes e o estilo característico da época. Na transição para as cutscenes, notamos que o jogo não está isento de alguns problemas técnicos. Enquanto notamos que as cutscenes levaram um tratamento detalhado, durante a jogabilidade é detetável que alguns elementos como sombras, modelos faciais e texturas nem sempre são de melhor resolução.

Trevor Morris (Dragon Quest Inquisition) é responsável pela composição da banda sonora.

Já a música e os efeitos sonoros ressoam perfeitamente com o que é representado. Há um lado sereno e ao mesmo tempo inquietante e obscuro, com o som da natureza e as vozes dos espectros a acompanhar de fundo. Um dos aspetos que mais gostei foi o seu voice acting que está fantástico. Quando um jogo aborda uma época específica, é importante haver esse cuidado para trazer fidelidade ao que se pretende projetar.

Num mês marcado por grandes lançamentos, Banishers: Ghosts of New Eden não deve ficar fora da lente dos jogadores. A DONT´NOD prova mais uma vez ser muito competente no que toca à criação de excelentes narrativas que comunicam com os jogadores. Ainda que a exploração e o combate continuem a não estar ao nível da narrativa, notou-se uma grande evolução. Banishers: Ghosts of New Eden é uma história de amor interligada ao sobrenatural que acredito os jogadores vão ter curiosidade em explorar.

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