Quase uma década depois Bayonetta está de regresso com Bayonetta 3, um jogo de ação e aventura desenvolvido pela PlatinumGames agora em exclusivo para a Nintendo Switch.

Depois de enfrentar anjos e demónios, Cereza terá agora de percorrer o multiverso para salvar múltiplos universos alternativos de um mal misterioso que os está a destruir, mas não o fará sozinha pois conta com a ajuda do seu exército de criaturas apelidadas de Homunculus. Durante a viagem, a bruxa predileta da PlatinumGames terá de recuperar as cinco Chaos Gears e desta vez para além da companhia de Jeanne, conhecerá a nova Umbra Witch Viola, uma das novidades deste jogo.

À medida que avançamos na história, percebe-se que a narrativa de Bayonetta 3 continua a ser um aspeto secundário e desta vez, até pouco desinspirada se formos a comparar com o que experienciamos no passado da série. Por exemplo, sem tirar o protagonismo a Bayonetta, tinha gostado de ver aprofundado ao longo da campanha as versões alternativas das personagens já conhecidas e sobretudo, a da própria Viola. Apesar de tudo, o argumento serve de fio condutor para expor os deliciosos momentos de grande dimensão, já tradicionais da série, onde a ação exuberante, o seu caos e violência prevalecem uma vez mais do início ao fim.

Se há algo que se manifesta com firmeza na jogabilidade de Bayonetta é o seu combate, que nesta nova sequela se encontra ainda mais vibrante e diversificado. Tal como nos seus antecessores, continuamos a usufruir de uma combinação de golpes assombrosos, juntamente da habilidade Witch Time (uma esquiva perfeita que desacelera o tempo), que para os veteranos não será novidade. No entanto, a PlatinumGames para evidenciar o amadurecimento das Umbra Witch acrescentou ao sistema de combate duas novidades: o “Demon Slave” e “Demon Masquerade”, que leva a mente dos jogadores para um patamar excepcional de criatividade em luta.

A nova habilidade “Demon Slave” dá a possibilidade de Bayonetta convocar os seus demónios infernais gigantescos a qualquer altura do combate por um período de tempo limitado. Tendo o controlo sobre as suas ações, contamos com uma gama de ataques brutalmente poderosos capazes de destruir rapidamente os seus inimigos. Porém, não ficamos livres de regras. Os demónios podem ser eliminados e ficarem temporariamente indisponíveis, enquanto a própria Bayonetta ao estar focada na invocação fica vulnerável, deixando as suas defesas facilmente penetráveis. Como podem imaginar, esta particularidade pode ser uma faca de dois gumes mas se for bem coordenada, acaba por nos apoiar bastante em situações difíceis.

Relativamente à habilidade “Demon Masquerade”, somos capazes de nos fundir com os Demónios Infernais selados dentro das muitas armas que vamos adquirindo no decorrer da campanha. Deste modo, dependendo da arma que temos, podemos tirar partido de novas habilidades, tanto para o combate como para a exploração de cenários – como planar, correr ou balançar numa teia.

Bayonetta 3 ainda introduz uma Skill Tree a partir da qual se pode desbloquear e evoluir as várias habilidades disponibilizadas pelas nossas armas e demónios, incluindo a vida e magia das personagens.

Estas recentes adições acabam por expandir o número de combos que temos em mãos, assim como alterar inteiramente a dimensão das batalhas, uma vez que até ao seu último suspiro vamos frequentemente descobrindo novas combinações, fazendo com que o combate nunca se torne monótono.

Relativamente à exploração, temos mundos com uma estrutura menos linear, onde os níveis que visitamos contém cenários mais amplos. Cada um esconde uma variedade de desafios, colecionáveis e puzzles que se traduzem sobretudo em lutas que no fim recompensam com uma peça “Witch Heart”, “Moon Pearl” ou uma das novidades do jogo, o “Umbran Tears of Blood” com o objetivo de encontrar três animais escondidos nos níveis, que ao serem capturados abrem uma versão alternativa do capítulo chamada “Phenomenal Remnant”. Ironicamente, dei por mim entediado a percorrer os cenários vastos à procura de todos os segredos, não por não ser recompensador, mas sim porque alguns destes são demasiado escassos de elementos que de alguma forma acabariam por enriquecer mais um pouco estes mundos alternativos, o que acontece contrariamente nos níveis de menor dimensão por estes serem mais concentrados.

A grande novidade é sem dúvida Viola, a nova personagem jogável que traz frescura e vida para esta aventura. Embora pense que o seu desenvolvimento tenha acabado por ficar à superfície, foi uma adição inteligente já que apresenta características e um estilo de combate oposto à de Bayonetta. As diferenças ficam patentes quando começamos a assumir o seu controlo. Ao contrário da bruxa veterana, esta jovem aprendiz não tem tanta agilidade nos movimentos, usando a seu favor a sua defesa e poder de ataque.

Em vez das habituais “Bullet Arts”, Viola recorre à sua espada “Mab Dachi” para ataques de corpo a corpo ao mesmo tempo que controla dardos para atacar à distância. Outra diferença está na ativação do “Witch Time”, que neste caso, em vez de um desvio perfeito, Viola deve bloquear no momento certo para que possa usá-lo. Como qualquer Umbra Witch, pode igualmente invocar para o campo um demónio, o gato Cheshire, uma versão infernal dos contos de Alice no País das Maravilhas. Viola consegue mover-se livremente e lutar ao lado do companheiro, visto que ele fica no controlo da A.I do jogo. De algum modo, a inexperiência e personalidade contundente de Viola diz bastante da sua presença em combate, dado que as suas múltiplas combinações podem muitas vezes tornar-se imprevisíveis, mas gratificantes quando as começamos a dominar.

Temos também o regresso em grande estilo da poderosa Jeanne. A melhor amiga de Bayonetta ficou encarregue de investigar o paradeiro do Dr. Sigurd num tipo de níveis furtivos onde a estrutura convencional da série é substituída por cenários 2.5 com direito a uma abertura animada a lembrar Cowboy Bepop. Resumidamente, estas missões secundárias foram aqui bem concebidas trazendo ao de cima um dos lados mais criativos da série. Embora demonstre alguma simplicidade, não deixa de nos entreter, funcionando como um parêntesis e escapando assim a toda ação frenética que experienciamos durante o jogo.

O que deixou um sabor agridoce foi o lado técnico do Bayonetta 3. Ao longo do jogo, fica evidente que utiliza ao máximo o potencial do hardware da Nintendo Switch, por vezes podendo até chegar ao seu limite. A sua grandiosidade sobressai no ecrã em situações de grande magnitude, adornados por efeitos mirabolantes, lutas frenéticas e uma direção artística de excelência. Contudo, para todo este espectáculo invulgar funcionar existe um preço, acabando assim por sacrificar a sua performance. Refiro-me a constantes quedas de FPS e dos problemas com as texturas, que apesar de tudo não comprometem a incrível experiência que o jogo oferece. A banda sonora mantém-se à qualidade das anteriores, apresentando temas variados e de qualidade que acompanham harmoniosamente todo ritmo do jogo.

Bayonetta 3 continua tão carismático quanto às propostas anteriores, trazendo para cima da mesa novidades para a sua jogabilidade que fazem dele um jogo bastante apaixonante, continuando a colocar o foco na ação que nos prende pelo seu fator surpresa e espetacularidade nos eventos, embora que em termos narrativos se apresente um pouco incompleto. Fora a presença da personagem Viola, que dá uma nova perspetiva à aventura, a meu ver poderiam ter aproveitado o jogo para apresentar os personagens de forma mais pormenorizada. Apesar das suas irregularidades, o regresso da extravagante Bayonetta vai de certo encantar os seus seguidores e também para quem simplesmente procura momentos épicos de entretenimento.

Pros:

  • Bayonetta e adição de Viola
  • Níveis secundários com Jeanne
  • Controlo sobre os demónios
  • Acão frenética e variedade na jogabilidade
  • Banda sonora que fica no ouvido

Cons:

  • Narrativa parece incompleta
  • Problemas técnicos que comprometem a performance
  • A dimensão dos níveis realça a carência de elementos visuais
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Bruky
Bruky
9 , Dezembro , 2022 3:03

Muita vontade de o jogar. Bayonetta é Bayonetta não há muito a dizer!!
Também prefiro um jogo com cenários mais pequenos mas cheios de detalhes e alguns segredos escondidos nesses espaços.
Algo que me custará habituar será a nova voz da Bayonetta, que acho importante mencionar, mas lá terá de ser.
Acho que o controlo das formas demoníacas dará outra espetacularidade ao jogo (como se já não houvesse!!).
Enfim, mal posso esperar por poder jogar. Boa análise bem detalhada nos pontos importantes, valeu a espera.