Dentro das suas próprias séries, por norma jogos não têm muita variância na sua jogabilidade. Há excepções, certamente, mas habitualmente os jogos de uma série de platformers serão platformers, os jogos de uma série de RPGs serão RPGs, e os jogos de uma série hack and slash serão hack and slash

E depois temos as ocasiões em que isto não acontece. 

Isto é… diferente.

Bayonetta Origins: Cereza and the Lost Demon é, como o nome indica, uma prequela da série Bayonetta, da PlatinumGames. No entanto, ao contrário dos jogos principais, não é um hack and slash 3D de acção, mas sim um jogo de exploração com perspectiva isométrica, em que o jogador controla não só a Cereza, a bruxa que um dia se tornará na protagonista titular da sua série, mas também o Cheshire, um demónio a possuir o seu peluche. 

Cereza é uma bruxa que nasceu da união proibida entre membros de dois clãs, e como tal, viveu toda a sua vida ostracizada pelos restantes membros da sua comunidade. A sua mãe, tendo sido presa pelo crime de a ter trazido ao mundo, é a única fonte de conforto para Cereza. No entanto, um dia a sua mãe é transportada para uma prisão com muita mais segurança, e Cereza vê-se impossibilitada de a voltar a ver. Como tal, decidiu adquirir poder suficiente para que possa resgatar a mãe, e segue uma voz que ouviu nos seus sonhos para enveredar pela floresta de Avalon. 

Tu és fofo, mas eu não confio em ti nem um bocadinho.

Esta floresta está repleta de fadas maldosas, plantas encantadas, e segredos para descobrir, e Cereza prossegue com Cheshire a seu lado para conseguir o poder que procura. 

A primeira coisa que uma pessoa reparará ao começar a jogar este jogo é nos seus desenhos e gráficos. Cereza and the Lost Demon tem uma identidade artística extremamente forte, com um estilo único. A mistura de desenhos que parecem sair de contos de fadas com a atmosfera pesada e perigosa do jogo dá-lhe uma identidade própria. É de certa forma reminiscente de Puella Magi Madoka Magica, um franchise de anime que se foca também em misturar imagens familiares e reconfortantes com componentes estranhos e ameaçadores. 

Para além dos visuais, a música também é excelente. Parecendo quase uma mistura das soundtracks dos jogos de Professor Layton e dos filmes de Harry Potter, engloba perfeitamente a atmosfera mágica e curiosa da floresta de Avalon. As actuações vocais, tanto em inglês como em japonês, são fenomenais, a narração transmitindo verdadeiramente a sensação de estarmos a ouvir um conto. 

De peluche para demónio… tipo aquelas tendas que é só atirar.

Mas como é jogar Cereza and the Lost Demon, para além de ver e ouvir? É… diferente. Sendo um jogo para a Nintendo Switch, cada um dos comandos controla uma das personagens. O Joy-Con esquerdo controla a Cereza, e o Joy-Con direito controla o Cheshire. Os analógicos são utilizados para mover estas personagens, e os triggers traseiros para executar as suas acções, seja fazer magia, no caso da Cereza, ou atacar inimigos, no caso do Cheshire. 

Não é, na verdade, a primeira vez que vemos este esquema de controlos. O excelente Brothers: A Tale of Two Sons utilizou este mesmo sistema em 2013, embora com menos sistemas em acção. Em Cereza and the Lost Demon, o Cheshire pode ser transportado pela Cereza para facilitar a exploração, e há muitas mais maneiras de os dois interagirem. No entanto, o fundamental deste esquema de controlos continua presente, em que o jogador rapidamente se habitua a controlar os dois em simultâneo. 

Coordenação é importante!

O sistema de combate é também interessante, em que o jogador pode, enquanto ataca com o Cheshire, utilizar a Cereza e a sua magia para prender inimigos. Felizmente, este jogo tem muitas e diversas opções de acessibilidade, desde escolher quanto dano a Cereza leva, a como utilizar os seus feitiços, a quanta vida os inimigos têm. Permite a cada jogador customizar a sua experiência ao jogar Cereza and the Lost Demon, de tal modo que qualquer pessoa, por muita má que seja em multi-tasking, possa experienciar a história e o mundo desta aventura. 

Se tivesse de apontar algumas falhas ao jogo, diria que o mapa consegue ser um pouco difícil de navegar e que os gráficos em modo handheld se tornam um pouco granulados. Mas nada disto impede que a experiência do jogo seja divertida, quer seja a explorar a floresta, a destruir os covis das fadas, ou a experienciar a história com o estilo idiossincrático. 

Lutando contra uma fada em equipa!

TL;DR: Cereza and the Lost Demon é um jogo extremamente bonito de se jogar, especialmente num ecrã maior do que o da Switch. Tem uma jogabilidade diferente do normal, que no entanto é adaptável para qualquer nível de jogador. A música é excelente e a história é cativante, um conto de bruxas e família e amizade com demónios. E credo, é mesmo muito bonito. 

 

Prós:

  • Gráficos e artstyle líndissimos;
  • Jogabilidade diferente do normal e congruente com a história;
  • História interessante com narração de excelência;
  • Música espetacular, preciso da soundtrack para ontem;
  • Opções de acessibilidade extensas. 

 

Contras:

  • Um pouco granular em modo handheld;
  • Mapa ligeiramente confuso;
  • Sem opções em Português. 
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