Blades of Fire é um jogo de ação e aventura lançado pela 505 Games e desenvolvido pela MercurySteam, o estúdio conhecido por trabalhar nos títulos Metroid Dread e Castlevania: Lords of Shadow. Desta vez, a produtora espanhola seguiu um novo rumo com o seu novo IP, misturando influências claras da série mais recente de God of War com a estrutura metroidvania que já domina.

O jogo leva-nos para Ashrath, um reino onde o aço foi amaldiçoado pela Rainha Nerea, transformando-o em pedra, o que acabou por deixar os habitantes indefesos. Na pele de Aran de Lira, um ferreiro portador de um martelo sagrado e ao lado de Adso, o seu companheiro astuto e inteligente, devemos forjar as nossas próprias armas e encarar os desafios até chegar à rainha para restaurar o equilíbrio do reino.

O objetivo central do jogo é claro desde o início: alcançar a Rainha Nerea e impedi-la de consumar o domínio completo sobre o reino. Para isso, precisamos de superar uma série de desafios, enfrentar os soldados e as criaturas, resolver quebra-cabeças ambientais e derrotar os chefes imponentes que guardam o caminho até ao confronto final.

Melcart, um espirito carismático e ao mesmo tempo chato.

Ao contrário do que imaginava, o enredo é contado de forma fragmentada, através de conversas, de apontamentos que Adso vai fazendo ao longo da jornada e dos personagens secundários que vamos encontrando. Não há cutscenes longas e muito expostas, o que exige que prestemos atenção e exploremos bem os ambientes para descobrir mais sobre a sua história. Esta abordagem não é exatamente uma novidade, mas não deixa de ser bem executada. Os eventos são revelados de forma gradual, integrados de maneira orgânica à exploração, o que mantém o ritmo envolvente. O jogo confia no ambiente e nos detalhes para contar a sua história — e, no fim, recompensa quem investigar cada parte do mapa.

No entanto, a narrativa não está isenta de falhas. Embora o protagonista seja bem construído, muitos dos personagens que cruzam o seu caminho nem sempre têm o desenvolvimento que mereciam. Notamos isso com Adso, o seu fiel amigo, cujo conhecimento e curiosidade ajudam Aran a entender melhor o mundo. A relação entre os dois, que inicialmente promete um laço forte e emocional, acaba por não se aprofundar como esperado, perdendo impacto à medida que a história avança. Outro exemplo é Melcart Akda, um espírito carismático e ligeiramente senil que surge com potencial para equilibrar o tom sombrio do jogo com humor e leveza, mas acaba limitado a falas repetitivas.

Apesar dessas falhas, a história de Blades of Fire conquistou-me na maioria das vezes. A construção do lore é cuidadosa e detalhada, e a forma como a narrativa liga a exploração ao ambiente cria uma experiência divertida e cativante.

O inicio do mini jogo da forja.

O sistema de forja é o verdadeiro núcleo de Blades of Fire e é a partir dele que se determina o poder do protagonista em combate. Ao longo da jornada temos um arsenal composto por sete tipos de armas — como adagas, espadas, martelos, machados, entre outros. Cada uma delas oferece estilos e estratégias diferentes, permitindo-nos adaptar a vários inimigos. Para as forjar, é preciso reunir materiais específicos obtidos durante a exploração ou combate. Já as variações dessas armas só são desbloqueadas se derrotarmos um número específico de vezes os inimigos, já que cada um carrega consigo o projeto da arma que utiliza.

Além da variedade, cada tipo de arma em Blades of Fire possui estilos de ataque únicos, com vantagens e limitações que exigem atenção durante o combate. Dominar essas diferenças é essencial para causar dano de forma eficiente e adaptar-se a cada tipo de oponente.

Na primeira fase da criação das armas, a escolha e combinação dos materiais tem um peso decisivo, afetando diretamente os atributos como o poder de ataque, defesa, durabilidade e o consumo da stamina. O equilíbrio entre estes elementos é crucial: uma arma extremamente forte pode ter baixa resistência ou consumir mais stamina, enquanto uma mais duradoura pode comprometer a velocidade ou a capacidade defensiva. É um sistema desenhado para nos incentivar a ter diferentes tipos de armas no inventário, para estarmos preparados para as várias situações durante o combate. Como cada monstro exige abordagens específicas, ter um leque de opções em mãos torna-se um bom plano para encarar os obstáculos com mais flexibilidade.

As bigornas espalhadas pelo mapa funcionam como pontos de apoio essenciais: permitem aceder à forja, servir como pontos de viagem rápida, reparar armas danificadas, reciclar e recuperar tanto a vida como os frascos de cura.

Além disso, no final da criação da nossa arma, Blades of Fire introduz um pequeno mini-jogo que simula a etapa final da forja: cada martelada conta para que no fim consigamos obter a melhor qualidade em estrelas – cada estrela representa a oportunidade extra de restaurarmos a nossa arma que se vai desgastando com o uso.

O sistema de forja destaca-se pela sua complexidade e impacto direto na dinâmica de combate. A possibilidade de criarmos armas únicas, moldadas segundo as nossas preferências, oferece uma camada estratégica que eleva a experiência além do convencional. A diversidade de combinações elimina a existência de uma “arma perfeita”, promovendo a experimentação e a personalização.

Porém, esta profundidade traz desafios. A curva de aprendizado é íngreme pois o jogo oferece poucas orientações claras sobre este sistema, o que pode dificultar a compreensão inicial. Muitas das melhores armas exigem materiais raros e decisões que não podem ser revertidas, aumentando o risco associado durante o processo. Outro ponto que pode frustrar é a constante deterioração das armas, obrigando-nos a repará-las ou a refazê-las com bastante frequência.

Aran pronto para enfrentar um grupo de esqueletos.

Fica claro nas primeiras horas de jogo que o combate de Blades of Fire inspira-se fortemente nas fórmulas estabelecidas de Soulsborne e pelo novo capítulo de God of War. No entanto, ao contrário da fluidez e espetáculo visto nas habilidades de Kratos e Atreus, aqui o foco recai mais sobre a estratégia e a leitura cuidadosa do adversário do que na dinâmica e ritmo acelerado.

A premissa baseia-se na defesa e no desvio, além disso, Aran pode direcionar os ataques a zonas específicas do corpo — cabeça, torso ou pernas — e a eficácia desses golpes depende da vulnerabilidade da armadura em cada área. É um sistema interessante que exige observação para sabermos quando e onde atacar, tornando os confrontos no fim recompensantes.

Os adversários apresentam um bom nível de desafio, o que contribui para tornar o combate mais tenso e cativante. Cada embate requer concentração e até mesmo os inimigos menores são capazes de nos castigar ao mínimo erro. No entanto, essa dificuldade torna-se excessiva em situações mais específicas — sobretudo quando estamos cercados por grupos em espaços apertados, como falésias ou espaços claustrofóbicos, onde a mobilidade é drasticamente limitada.

Nestas situações, um dos maiores obstáculos é o sistema de gestão de stamina, diretamente condicionado pelo tipo de armamento empunhado. Armas mais robustas drenam rapidamente a barra de stamina, deixando o nosso personagem exposto após uma sequência curta de ações. Apesar da intenção ser acrescentar profundidade ao combate, esta mecânica nem sempre resulta de forma equilibrada, podendo afetar o ritmo dos combates e gerar momentos de frustração.

Crimson Fort

Nos últimos tempos, é na exploração que tenho encontrado o maior prazer nos videojogos. Desvendar territórios desconhecidos, descobrir segredos bem escondidos e observar atentamente cada detalhe ambiental para compreender melhor o mundo que nos rodeia é uma experiência que valorizo profundamente. Blades of Fire responde muito bem a esse apelo, apresentando um universo de fantasia sombria com tons medievais, onde cada cenário parece contar uma história, algo que nos prende durante horas à procura de novos caminhos, desafios e tesouros escondidos. À semelhança dos metroidvania, o mundo é interligado, composto por aldeias abandonadas, pântanos, castelos degradados e mais. A abertura de atalhos e a revelação de zonas secretas ao longo do jogo alimentam aquela sensação habitual constante de descoberta e evolução que define o género.

Ironicamente, senti que o mundo pode ser demasiado confuso devido à ausência de um mapa detalhado. A vista do mapa, limitada a uma perspetiva plana e simplificada, dificulta a orientação em áreas mais complexas ou verticais. Embora seja possível marcar locais de interesse ou áreas inacessíveis, esta funcionalidade nem sempre é suficiente. Dei por mim, em várias ocasiões, perdido à procura de locais já visitadas. Compreende-se a intenção dos criadores em incentivar os jogadores a confiarem na sua própria orientação, promovendo uma sensação de conquista e surpresa a cada descoberta feita sem auxílio, ainda assim, a riqueza do design de níveis merecia um suporte cartográfico à altura, que complementasse a experiência em vez de a limitar.

A imagem fala por si.

Blades of Fire apresenta-se de forma sólida na PlayStation 5 com uma performance estável e sem grandes percalços técnicos. O mundo construído pela MercurySteam é visualmente apelativo, com cenários variados que evocam a estética dos clássicos de aventura da era PS2. A fantasia presente em cada região é bem explorada, oferecendo uma boa diversidade visual que convida à exploração. Ainda assim, nota-se alguma rigidez nas animações, especialmente nas transições de combate e nos movimentos mais pesados do protagonista.

A direção artística foi inspirada no filme de fantasia Excalibur, além das influências visuais das obras de Frank Frazetta e Gustave Doré.

Em termos sonoros, a banda sonora cumpre bem o seu papel, com composições orquestrais que acompanham eficazmente tanto os momentos ferozes como os de contemplação. No entanto, existe um erro evidente: a música de combate por vezes continua a tocar mesmo após o fim das lutas. Em contraste, o trabalho de voice acting é um dos pontos altos da componente sonora. As interpretações são convincentes e ajudam a dar personalidade às figuras que habitam este mundo, transmitindo emoção e identidade com naturalidade.

Para finalizar, Blades of Fire representa uma aposta ambiciosa da espanhola MercurySteam, combinando influências de God of War e Soulsborne com a estrutura dos metroidvanias. O jogo oferece um mundo interligado e desafiante, sustentado por uma narrativa sólida que, acaba por sofrer com a falta de desenvolvimento dos personagens secundários e pela ausência de um mapa detalhado. O sistema de forja é interessante e complementa bem o combate envolvente, embora as mecânicas exigentes possam causar alguma frustração.

Um jogo que se destaca pelos ambientes variados, enquanto a banda sonora atmosférica e o voice acting reforçam a imersão. É uma experiência cativante para quem aprecia ação e exploração, embora haja espaço para melhorias.

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