Longe vão os tempos onde o desenvolvimento de videojogos em Portugal era apenas uma miragem no deserto. Empresas como a Nerd Monkeys ou projetos como TWELVE MINUTES marcaram destaque e receberam prémios em vários eventos mundiais de videojogos. Para continuar esta senda de sucessos, a Saber Porto Ltd. decidiu produzir o seu primeiro jogo “in house” e levar aos jogadores toda a ação do Paris-Dakar para o conforto das suas casas através do jogo Dakar Desert Rally.

O mesmo é uma representação fiel desta célebre competição. Ao longo de 30 etapas dispersas por diversos troços habitados por um clima dinâmico, os jogadores vão ter a oportunidade de cimentarem o seu legado ao encarnar as lendárias equipas do Paris-Dakar ou se preferirem criar as suas próprias e enriquecerem a sua garagem.

Respeitante a esta podem encontrar uma panóplia de veículos de duas a quatro rodas do mais variado. Carros, camiões, motos, jipes, buggies, e até moto quatro são as categorias que podemos conduzir nos modos de jogos “Sport”, “Professional” e “Simulation” (inexplicavelmente apenas desbloqueado em nível 25). O jogo dá a entender que faz do realismo o seu mote, contudo não podíamos estar mais longe da verdade. Isto porque no seu núcleo pulsa uma vertente muito arcade. Ficámos muito admirados quando constatamos que para avançar na competição devemos classificar-nos entre os oito primeiros a vencer uma prova. Este é um efeito demasiado arcade para o seu próprio bem, porque nesta competição avança quem registar os melhores tempos e não quem participa ou ganha numa corrida navegando de waypoint em waypoint. Como se não fosse bastante, também percorremos alguns cenários demasiado fantasiosos para esta competição, como navios e cemitérios de aviões.

Felizmente o desenvolvimento do jogo é bem equilibrado, e incentiva os jogadores a desenvolvem as suas capacidades e as da sua equipa. Cada prova requer um determinado nível antes que seja possível participar. O mesmo acontece quando apenas um determinado tipo de veículos é autorizado a competir. Cabe aos jogadores assimilar os melhores elementos para cada. É certo que de início vamos ter de realizar algumas experiências até atingirmos o ponto, mas este também é um fator da competição que sinceramente achamos patente e não nos pareceu contraproducente para a sua imagem.

Enquanto no modo Professional este registo é mais importante, no modo Sport é um pouco deixado de lado, visto que este é essencialmente um modo mais imediato. Atenção que este pode ser considerado um ponto negativo já que o mercado está inundado de apostas de simulação e Dakar Desert Rally nos remete para os salões arcade onde singraram grandes nomes da SEGA como SEGA Rally ou Daytona USA. Essencialmente achamos que foi neste quesito que Dakar Desert Rally se distanciou da competição, até porque os modos mais realistas inundam o mercado de jogos de condução modernos.

O modo Sport também pode ser descrito como o modo fácil de Dakar Desert Rally. Este oferece ajudas na navegação, reposicionamento de veículos, condutores menos experientes, custos de reparação muito mais baixos, etc. Enfim, um sem fim de elementos mais agradáveis para conduzirmos nas arenosas localizações da prova. O modo Sport pode dar uma ideia de simplicidade no papel, visto que todos elementos parecem estar aos comandos dos jogadores.

Os fãs da condução podem suspirar de alívio porque o jogo oferece nada mais nada menos do que 30 etapas dispersas em 430.000 km² de terra, numa escala de 1:5. Por outras palavras, podemos contar com um sem fim de corridas, sob condições atmosféricas variadas com ciclos de dia e noite, onde temos ao nosso dispor um enormíssimo número de veículos para escolher. De salientar que todos estes elementos são dinâmicos e mudam em tempo real obrigando jogadores a escolherem um veículo com base nesta condição. Infelizmente, alguns pontos negativos impedem o jogo de subir a pódios mais altos. Para começar a voz do copiloto é do mais entediante e robótica, não vão ser precisos muitos minutos para baixarmos o som do nosso equipamento, e um jogo que faz do todo-o-terreno a sua imagem de marca não o consegue ser. Além de um sistema de físicas punitivo e rudimentar, ambientes com pequenas rochas não são transitáveis, por vezes até ficamos encalhados e outros veículos batem em nós provocando um insólito -por vezes cómico- acidente em cadeia, isto porque a IA do jogo não se esquiva por nada de quem se interpõe no seu caminho.

Os NPCs, convenhamos, desempenham apenas o seu papel e existem por existir, sendo que graficamente são muito pobres. O mesmo não podemos dizer dos restantes elementos visuais. Os cenários e bólides foram recriados até ao mais ínfimo pormenor. Acreditamos que foi neste ponto que a Saber Porto Ltd. depositou as suas melhores energias, pena que as físicas tenham ficado bastante aquém, isto porque enquanto uns veículos parecem estar a flutuar outros parecem que se enterram nas areias e até em superfícies geladas. Pudemos desfrutar as nossas corridas na sua plenitude máxima quer na nossa configuração composta por um processador AMD RYZEN 5950X, placa gráfica AMD RADEON RX 6900XT e 32 GB DDR 4 RAM ou num portátil Lenovo Legion 5 PRO equipado por um processador AMD Ryzen 5800H e uma placa gráfica NVIDIA Geforce RTX 3070 a 140w com todos os seus elementos gráficos em “Epic”. Enquanto a configuração de secretária oscilou entre os 70 aos 110 Fotogramas por segundo em resoluções 4K, a portátil registou 140 fotogramas constantes a 2K, mas apenas com o recurso à tecnologia NVIDIA DLSS 2.3. Como não podia deixar de ser o jogo está localizado em português de Portugal, porem apenas nos textos.

Dakar Desert Rally é uma experiência que decidiu pensar um pouco fora da caixa ao oferecer um pacote mais simpático para o jogador menos experiente e casual. É de louvar a iniciativa do estúdio português na produção de um jogo diferente de tantos outros. Contudo, existe muito trabalho ainda a ser realizar na sua garagem para que Dakar Desert Rally faça a competição comer pó.

Pros:

  • Jogo oficial da competição
  • Experiência arcade focada para os jogadores mais casuais
  • Excelentes grafismos e efeitos visuais nas paisagens e veículos
  • Suporte a textos em português
  • Suporte à tecnologia NVIDIA DLSS 2.3
  • Número infindável de veículos

Cons:

  • Físicas extremamente duvidosas
  • Áudio do copiloto rudimentar e desinspirado
  • Inteligência Artificial pobre
  • Modelos dos NPCs muito básicos
  • Modo de simulação apenas disponível após horas e horas nas dificuldades mais básicas
  • Modo casual pode afastar os jogadores mais veteranos
  • Apenas suporte ao idioma português nos textos
Bruno Reis
Vindo de vários mundos e projetos, juntou-se à redação do Otakupt em 2020, pronto para informar todos os leitores com a sua experiência nas várias áreas da cultura alternativa. Assistiu de perto ao nascimento dos videojogos em Portugal até à sua atualidade, devora tudo o que seja japonês (menos a gastronomia), mas é também adepto de grandes histórias e personagens sejam essas produzidas em qualquer parte do globo terrestre.
Subscreve
Notify of
guest

0 Comentários
Inline Feedbacks
View all comments