Ghostrunner foi um jogo que desde que foi apresentado pelos polacos da One More Level recebeu a atenção de todos devido à sua gameplay imprópria para cardíacos incrivelmente precisa e uma estética cyberpunk que cada vez mais marca a atualidade. Tendo em conta estes valores e a mais de dois milhões e meio de cópias, a One More Level volta a aliar-se à 505 Games para um segundo episódio verdadeiramente intenso… a todos os níveis.

Tal como o seu antecessor, Ghostrunner 2 é um jogo de plataformas de ação na primeira pessoa. A história desenrola-se mediante uma série de níveis onde os jogadores enfrentam inimigos e obstáculos enquanto utilizam as suas capacidades de ninjas cibernéticos. O principal método de ataque continua a ser a katana que é capaz de cortar os inimigos ao meio com um único golpe, mas também podem bloquear (e devolver) tiros ou utilizar um shuriken para atacar à distância. Tal como um Ghostrunner que se preze desse nome, os jogadores podem correr ao longo das paredes, planar e utilizar um gancho para chegar a sítios remotos. Um dos movimentos mais úteis e importantes na jogabilidade de Ghostrunner é o “dash”, que se executa ao premir o gatilho direito do DualSense, se claro estiverem a utilizar este comando no PC. Este movimento não só serve para alcançar maiores distâncias, como também é uma ferramenta indispensável em combate pois pode e deve ser utilizada para os jogadores se desviarem das investidas inimigas. No entanto, esta ação consome energia da barra de resistência, que também é utilizada para bloquear ataques, pelo que vai ser necessário ponderar muito bem a sua utilização e escolher cuidadosamente quando é utilizada.

Devolver ataques é uma nova mecânica que requer treino até ser bem executada

Estas são as funcionalidades herdadas do primeiro episódio, mas como Ghostrunner 2 expande todos os elementos do seu antecessor também inclui uma panóplia de novas funcionalidades. A maioria destas é desbloqueada à medida que se avança nos níveis, pelo que o jogo da One More Level tem uma progressão ótima. Por exemplo, temos uma árvore de habilidades que foi amplamente melhorada que permite aos jogadores permitir/favorecer um estilo de jogo. No lair, o local que visitamos entre níveis, os jogadores podem investir os pontos de experiência que foram recolhidos até ao momento para comprar chips que conferem novas habilidades. Contudo, para equiparem estes chips, devem ter memória RAM suficiente no seu ninja. Por isso em primeiro lugar vai ser necessário adquirir chips roxos espalhados pelos níveis. Esta é uma forma muito inteligente do jogador se sentir recompensado porque além do seu ninja cibernético se tornar mais poderoso, também permite que sejam dominadas técnicas avançadas, dado que a maioria dos chips roxos estão em áreas de difícil acesso e vai ser necessário recorrer, emparelhar e esquartejar diversos inimigos. De salientar que a exploração dos níveis em Ghostrunner 2 está muito mais vertical o que também dá azo a momentos incríveis e extremamente gratificantes para o jogador.

Vasculha tudo! Os chips roxos podem estar nos locais mais inóspitos

Dentro destas habilidades também encontramos as chamadas habilidades “Ultimate”, que são técnicas poderosas que conferem habilidades quando surgem momentos de maior aperto porque demoram algum tempo a recarregar. Estas são extremamente modelares e podem ter a forma de um poderosíssimo raio laser da palmas da mãos ou abrandar o tempo durante alguns segundos. Outra novidade em Ghostrunner 2 é o modo “Roguerunner.exe”, que literalmente transforma o jogo num roguelike com os jogadores a ter de selecionar diferentes caminhos e habilidades para chegar à missão final. A gameplay também brinda os jogadores com momentos muito variados que vão para além do habitual combate e parkour, como, por exemplo, ter de acertar numa série de objetos num nível no tempo indicado, segmentos a bordo de uma moto e fazer hacking a sistemas. Estas opções, como um todo, conseguiram não só fazer de Ghostrunner 2 um grande jogo de ação como também um fantástico jogo de plataformas na primeira pessoa. É realmente satisfatório completar os percursos utilizando todas as nossas capacidades e sem falhar. Contudo, a maior qualidade de Ghostrunner 2 é também a sua maior fraqueza e tudo depende do perfil e expetativas de cada jogador.

Ghostrunner 2 não é um jogo difícil, é um jogo extremamente difícil, dado que uma bala pode literalmente condicionar o progresso de um nível inteiro! Se a isso juntarmos a facilidade com que se cai nas fases de plataformas, perceberemos por que razão este é um jogo que evoca a maioria da filosofia dos jogos dos anos 80/90, ou seja, tentar, tentar e tentar até conseguir atingir a tão desejada mestria. Vou mais longe a batizar Ghostrunner 2 como “Speedrunner 2”, porque essencialmente é isso que cada nível é, um passo em falso e os jogadores vão ter de recomeçar tudo do zero. Julgo que foi a pensar neste publico que Ghostrunner 2 foi concebido, pois este é um jogo que requer perícia e muitíssima paciência. Morremos tantas vezes que perdemos a conta e é fácil os jogadores sentirem-se frustrados, mas aposto que quando conquistarem uma secção ou um nível, a satisfação será tal forma imensa que poucos jogos a conseguem transmitir. Por isso este elemento difere para cada um de nós e consequentemente o tempo para completar Ghostrunner 2 também, pois pode demorar cerca de 20 horas como nunca, tudo depende da habilidade nos controlos e de muita, mas mesmo muita, memória muscular.

As novas seções com a moto são tão intensas e espetaculares como frustrantes

Contrariamente ao esperado Ghostrunner 2 é um jogo de PC que mesmo sendo muito belo não possui um grande leque de opções gráficas. Além de resoluções até 4K a 30, 60, 120 ou 144 fotogramas (desbloqueados), o jogo não tem “presets” mas conta com opções de qualidade pós processamento, nas sombras, texturas e nos efeitos. Também dá a escolha aos jogadores de desativarem o Motion Blur, os efeitos de sangue, corpos desmembrados e reduzirem ou aumentarem o campo de visão. Na minha build, ou seja, um PC composto por um processador AMD Ryzen 9 5950X, placa gráfica NVIDIA GeForce RTX 4090 MSI Suprim X, 64 GB RAM a 3600 MHz e uma unidade Samsung 990 PRO NVMe M.2 SSD consegui executar Ghostrunner 2 em resoluções 4K entre 80 a 120 fotogramas por segundo com todos os efeitos visuais elevados ao máximo, ou seja, todos os elementos visuais elevados a “Epic” até com o ray tracing ativo. Contudo, tive de recorrer à tecnologia NVIDIA DLSS 2.4, infelizmente para já o jogo não suporta nativamente as tecnologias NVIDIA DLSS 3, porém com a manipulação de ficheiros é possível.

Embora seja muito belo, Ghostrunner 2 continua a ser um jogo visualmente muitíssimo semelhante

A filosofia de Ghostrunner 2 na Steam Deck é um pouco como o próprio jogo, ou seja, é difícil de ser executado, mas com alguns ajustes e muita paciência é possível desfrutá-lo na maioria das áreas. Este é um jogo onde julgo que é vital recorrer ao AMD FSR 2.0 em modo de Desempenho e reduzir alguns elementos gráficos ao mínimo para uma boa experiência na portátil da Valve. Ao recorrer a estes dois elementos pude desfrutar de quase do todo o jogo a 30 fotogramas fixos, as únicas exceções foram as cutscenes e algumas áreas mais congestionadas de inimigos onde baixou para quase metade. Este também é um jogo com o mercado portátil em mente, pois permite modificar a “UI” e aumentar o tamanho das legendas para que tudo seja mais legível num ecrã mais pequeno, também possui resoluções em 16:10, o que significa que os jogadores não vão desfrutar desta aventura futurista com as arcaicas barras negras em cima e em baixo.

No entanto, quando passei para o último aparelho na lista, ou seja, a ROG Ally, pude verificar que podia incrementar quase todas as áreas visuais do jogo com o recurso ao AMD FSR 2.0 em modo de “Qualidade” a 25w com praticamente com todas as opções visuais em alto, exceto nas sombras. De referir que inicialmente este jogo era incompatível com a Aura Sync da Armoury Crate, mas com a nova bios “333” não só é impressionante no pequeno ecrã da portátil como a 720p é executado entre 40 a 60 fotogramas por segundo sem praticamente nenhumas quebras de fluidez. Visualmente Ghostrunner 2 é muito semelhante ao seu antecessor, ou seja, retrata uma metrópole distópica onde os neons iluminam a cidade. A banda sonora embora continue a ser polvilhada com tons eletrónicos e futuristas, julgo que apresentou menos variedade do que no jogo anterior. O jogo está localizado em diversos idiomas onde novamente encontramos o português do Brasil.

Ghostrunner 2 é uma verdadeira espada de dois gumes. Por um lado, pode apelar aos jogadores que gostam de jogos difíceis e gratificantes, por outro afasta de imediato verdadeiras legiões de jogadores devido à sua imensa dificuldade. Apesar de não existir um meio termo entre uma e outra demografia não deixa de ser uma aventura extremamente interessante que elevou todas suas características ao máximo para produzir um dos jogos de ação mais intensos e viscerais de 2023. 

Bruno Reis
Vindo de vários mundos e projetos, juntou-se à redação do Otakupt em 2020, pronto para informar todos os leitores com a sua experiência nas várias áreas da cultura alternativa. Assistiu de perto ao nascimento dos videojogos em Portugal até à sua atualidade, devora tudo o que seja japonês (menos a gastronomia), mas é também adepto de grandes histórias e personagens sejam essas produzidas em qualquer parte do globo terrestre.
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