Ocasionalmente, séries de videojogos decidem explorar conceitos e contextos fora do seu habitual. Em Like a Dragon: Ishin! a Sega transforma as suas personagens, habitualmente membros dos Yakuza da sua série Ryū ga Gotoku, em samurais pertencentes ao Shinsengumi, no final do período Edo no Japão. 

Uma pequena lição de história: durante o período Edo no Japão, o país era liderado pelo shogun, um líder militar, tendo o imperador sido relegado a uma posição puramente simbólica. Durante esta era, o Japão tem um contacto preocupante com navios vindos do Oeste, que causam com que se inicie uma revolução para voltar a colocar o imperador no trono. Na cidade que hoje em dia se chama Kyoto, reúnem-se forças díspares dos revolucionários leais ao imperador e da força policial do shogun, os Shinsengumi. 

O nosso protagonista, um samurai chamado Sakamoto Ryoma, leal ao imperador, vê o seu pai adotivo ser assassinado em frente aos seus olhos por alguém que ele vem a descobrir pertencer aos Shinsengumi. Daí, ele viaja para Kyoto e infiltra-se nesta organização sob o nome de Saito Hajime, uma figura histórica real… embora o Ryoma seja mais bonito.  

Sempre muito sério, também.

Para os fãs de anime, também, ou na verdade de qualquer parte da cultura japonesa, este contexto será também familiar. O período Bakumatsu, o final da era Edo, e a revolução Meiji são tópicos bastantes populares, seja em séries, em filmes ou em mangá. Rurouni Kenshin, conhecido em português como Samurai X, é uma série icónica que decorre imediatamente após este período, e que discute muitos dos temas falados também neste jogo. Fãs da série certamente encontrarão cenários e acontecimentos familiares neste jogo. 

Mas falemos do jogo: Like a Dragon: Ishin! é um excelente simulador de Mahjong Riichi. …Espera não, não é isso. Like a Dragon: Ishin! é uma história comovente de um samurai que ajuda a população de Kyoto com os seus vários problemas… Também não me soa bem. Like a Dragon: Ishin! é o relato das aventuras de Sakamoto Ryoma para se tornar o campeão de Kyoto de Hanafuda Koi-Koi! 

Brincadeiras à parte, Like a Dragon: Ishin! é um jogo de acção hack and slash, em que o jogador pode trocar livremente entre quatro sistemas de combate: desarmado, com espada, com revólver, ou com espada e revólver. Existem um sistema de combos, em que mais acções são desbloqueadas à medida que se vai progredindo com um sistema de grafos, o que torna o combate divertido e frenético. 

Isso magoou os meus sentimentos, amigo.

Mas os fãs da série sabem que estes jogos são também conhecidos pela sua quantidade honestamente absurda de actividades para além da história principal e do combate. Minijogos que vão desde dois jogos de ritmo diferentes, um jogo de memória a servir udon e corridas de galinhas, para clássicos como Mahjong, Shogi, Poker, e o meu favorito, Hanafuda Koi-Koi. Para além disto, temos também histórias extra sobre os cidadãos de Kyoto, uma quinta para tratar, refeições para experimentar pela cidade, equipamento para coleccionar, peixes para pescar, e amizades para formar com personagens progressivamente mais caricatas. 

Existe uma história muito boa no meio de tudo isto, no entanto. As cutscenes são excelentemente cinematográficas, parecendo mesmo que estamos por vezes a ver um filme de samurais exceptional, repleto de intriga política, traição, decisões difíceis… e porque não fazer uma pausa para ir dançar buyo? 

Não seria um jogo desta série sem a Baka Mitai.

Em termos gráficos, o jogo tem de bom e de mau. Os designs das personagens principais são bons e distintivos, e as animações estão bastante bem-conseguidas nas cutscenes. No entanto, o restante das personagens sofrem um bocado pela idade do jogo original. São feios, falando em bom português. 

As actuações de voz, presentes em japonês ao longo da história principal, estão simplesmente excelentes. O Takaya Kuroda, voz do Ryoma, apresenta-se em particular destaque, com uma actuação de excelência, transmitindo as emoções que o Ryoma sente ao longo da história com perfeição. 

O resto do elenco está também excelente, no entanto.

A cidade de Kyoto está também realizada com sucesso, as suas ruas interessantes de se percorrer, havendo sempre a possibilidade de se tropeçar numa batalha, numa história extra, ou apenas num bilhete de lotaria. Cada zona da cidade é distintiva, com a sua própria personalidade e personagens caóticas a acompanhar, desde os barracos de Mukurogai ao luxo de Gion. 

No fundo, aquilo que Like a Dragon: Ishin! tem é muito carinho. As histórias são capazes de tocar nos nossos corações, seja a narrativa principal, com os seus temas de família e lealdade, ou as pequenas histórias extra, em que Ryoma faz o seu melhor para melhorar a vida dos cidadãos de Kyoto, e no processo, melhora também o nosso dia. 

Uma cidade que rapidamente se torna uma segunda casa.

TL;DR: Jogar Like a Dragon: Ishin! é encarnar Sakamoto Ryoma em todos os momentos do seu dia, seja durante a sua missão para encontrar o assassino do seu pai, seja durante os momentos em que decide passar o dia a ser carteiro. Mas na verdade, este é o charme do jogo, a total liberdade que o jogador sente para passar o dia a dedicar-se a tudo menos a explorar o enredo principal. Existe sempre algo que apetece a uma pessoa fazer, nem que seja só jogar Hanafuda Koi-Koi durante 3 horas seguidas. 

Não, eu não tenho um problema, não sei do que falam.

Prós: 

  • Combate divertido e dinâmico;
  • História interessante com excelente produção; 
  • Imensas actividades extra para todos os gostos; 
  • Boas opções de acessibilidade.

 

Contras: 

  • Falta de legendas em português;
  • Maus gráficos de personagens secundárias;
  • Eu ainda não percebo como jogar Mahjong 🙁 
Carolina Moreira
Com background de informática, e gosto em videojogos a combinar, mas aficionada de histórias em qualquer formato, juntou-se à equipa do OtakuPT em 2023 para dar uma opinião pessoal sobre o entretenimento que nos chega às mãos.
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Sergio
Sergio
24 , Fevereiro , 2023 18:44

Uma review muito bem executada e escrita fantástica. Parabéns.