Desenvolvido pela Ashibi Co. em colaboração com a Game Arts, o estúdio responsável pela série, e publicado pela GungHo Online Entertainment, Lunar Remastered Collection traz de volta dois dos JRPGs mais marcantes dos anos 90: The Silver Star e Eternal Blue. Com atualizações visuais, novas opções de dobragem e pequenos ajustes na jogabilidade, esta coletânea respeita os originais ao mesmo tempo que os moderniza para as atuais gerações.

Lunar: The Silver Star foi lançado originalmente para a Sega Saturn em junho de 1992 no Japão. Lunar: Eternal Blue foi originalmente lançado para a Sega Saturn em dezembro de 1994 no Japão.

Uma das melhores qualidades dos jogos Lunar é a sua história. Em Lunar: The Silver Star acompanhamos Alex, um jovem sonhador que almeja tornar-se o próximo Dragonmaster, o lendário guardião do mundo. Guiado por esse ideal, parte numa jornada ao lado de Luna, a sua amiga de infância que tem um papel importante para narrativa, e de Nall, uma criatura híbrida entre gato e dragão que, apesar do tamanho, tem um papel vital na aventura.

Lunar: The Silver Star – Luna a cantar suavemente

O ponto de partida é familiar: a procura pelos quatro dragões que testarão Alex e, por fim, o reconhecerão como digno do seu legado. O que começa por ser uma jornada de amadurecimento rapidamente se entrelaça com temas mais profundos — profecias, divindades, traições e revelações pessoais — que potenciam a história para além da tradicional narrativa do herói.

Mesmo seguindo a estrutura dos clássicos do género, The Silver Star surpreende pelo que faz com os seus personagens. A construção emocional de Alex e Luna, por exemplo, é envolvente e sincera, com uma relação que amadurece naturalmente e que transmite o afeto verdadeiro. Do mesmo modo, os personagens secundários adicionam carisma e personalidade à aventura, inclusive os vilões que se destacam com uma presença verdadeiramente magnética.

Outro ponto a realçar da narrativa está na sensação de aventura tangível. O mundo de Lunar é rico em detalhes e a maneira como ele se apresenta ao jogador — cidades com vida, lendas antigas e NPCs memoráveis, que em conjunto contribuem para que a jornada seja mais significativa. Além disso, a escrita combina perfeitamente os momentos dramáticos com as passagens leves e bem-humoradas.

Lunar 2: Eternal Blue – Hiro numa das suas aventuras arqueológicas.

Lunar 2: Eternal Blue eleva a narrativa a outro patamar. Decorrido mil anos após os eventos do primeiro jogo, Eternal Blue apresenta-nos Hiro, um aventureiro curioso e Lucia, uma misteriosa jovem enviada de outro mundo com uma missão importante nas suas mãos: encontrar a deusa Althena e impedir o despertar de um mal ancestral.

A coletânea oferece dois modos de jogo: O Classic Mode que mantém a jogabilidade e as dobragens originais e o Remastered Mode que adiciona novas dobragens, textos revistos e melhorias na qualidade de vida, incluindo skip nas cutscenes, gravação automática, inventário partilhado etc.

Uma premissa simples que nas primeiras horas se transforma numa jornada cheia de mistérios, reviravoltas e revelações que desafia os personagens a repensar sobre a fé e o destino. É uma história que não só expande o universo de fantasia apresentado em The Silver Star, como também o aprofunda com a construção de um mundo mais complexo. As cidades, os mitos, as lendas e os conflitos são apresentados com uma densidade emocional e política mais acentuada.

A respeito das cutscenes animadas, são maiores e mais elaboradas que as do primeiro jogo, reforçando os acontecimentos importantes da narrativa. Mesmo assim, tal como no anterior, o foco permanece nos personagens. Fiquei rendido à relação entre Hiro e Lucia, como também aos seus companheiros que vão entrando no grupo ao longo da aventura. Cada um destes personagens é construído com a sua própria história, motivações e momentos marcantes.

A interface do combate em The Silver Star

O sistema de combate por turnos de Lunar: The Silver Star e Lunar: Eternal Blue é a prova de que a simplicidade, quando bem executada, pode continuar a ser eficaz mesmo décadas depois. Ambos os jogos seguem uma estrutura tradicional dos JRPG: ataques básicos, uso de magias que consomem a mana, uso de itens e defesa.

Como é normal, cada personagem possui as habituais classes: guerreiros, magos, curandeiros, o que confere uma identidade distinta aos membros do grupo. Ao contrário de muitos RPGs dos anos 90, onde os personagens permaneciam imóveis durante as lutas, em Lunar podemos mover os mesmos, pelo campo onde o alcance dos ataques físicos e magias depende da distância entre os alvos. Isto adiciona uma camada extra à estratégia que, embora não torne o sistema muito complexo, torna-o mais envolvente.

Por outro lado, a simplicidade do combate joga a favor do ritmo do jogo. Como há uma boa dose de batalhas, especialmente em masmorras ou em momentos de grind, o fato de ser direto e intuitivo impede que a experiência se torne cansativa. Principalmente porque precisamos de ganhar experiência para evoluir o nível dos personagens e angariar dinheiro para comprar novos equipamentos para nos prepararmos para as batalhas contra os chefes.

O remastered acrescenta pequenas melhorias ao sistema de combate que torna tudo mais fluido: a possibilidade de aumentar a velocidade do combate, novos comandos ligados à estratégia e, talvez o mais prático, um sistema de partilha de inventário entre os personagens, algo ausente nos títulos originais. São ajustes frequentes que, ainda que subtis, fazem diferença na qualidade de vida sem alterar a essência do combate tradicional do jogo.

A interface do combate em Eternal Blue

Muitos jogadores, talvez achem o sistema de combate obsoleto comparado aos RPGs da atualidade. Apesar disso, Lunar continua a ser coerente, acessível e funcional, um reflexo fiel ao espírito da série: direto ao ponto e divertido.

A banda sonora da Lunar Remastered Collection foi composta por Noriyuki Iwadare, o compositor responsável pelas músicas originais de Lunar: Silver Star Story e Lunar 2: Eternal Blue. Neste remastered, Iwadare compôs uma nova faixa intitulada “Looking up at TERRA”.

Na componente visual, Lunar Remastered Collection é um verdadeiro presente para os fãs, não por reinventar, mas sim por respeitar e aprimorar ambos os títulos com atenção. Continuamos a ter o mesmo estilo pixel art 2D característico dos JRPGs dos anos 90, mas com mais polimento, o que torna esta nova versão não só mais bonita, como também mais encantadora.

Para além da agradável transição para o formato 16:9, que amplia significativamente a forma como o mundo do jogo é apresentado, Lunar Remastered Collection trouxe consigo um cuidado especial com as suas animações em estilo anime. As célebres cutscenes animadas, que sempre foram um dos pontos altos da série, têm agora outro fulgor, fazendo com que os momentos chave da narrativa consigam ser ainda mais impactantes.

Os cenários em pixel art apresentam bons pormenores e detalhe.

Os sprites e os retratos dos personagens foram igualmente melhorados, mantendo o charme dos originais, mas com linhas mais limpas e cores mais vivas. Os cenários, por sua vez, estão mais nítidos, com os pequenos detalhes a fazerem toda a diferença.

Ambas as versões contam ainda com uma nova dobragem em inglês, que consegue preservar o espírito e a personalidade das interpretações originais. Para os fãs do áudio em japonês, a boa notícia é que as vozes em japonês também estão disponíveis.

Uma das reviravoltas de The Silver Star

Para jogadores como eu, que de vez em quando regressam aos clássicos dos RPG, Lunar Remastered Collection é um regresso mais do que merecido. As novidades podem ser subtis, mas são inteligentes e bem aplicadas, tendo o propósito de modernizar a experiência sem comprometer o que torna esta série tão especial. A narrativa continua a ser o grande coração da série, com personagens cativantes e momentos emocionantes que ainda hoje permanecem na minha memória. Este remaster é uma excelente porta de entrada para quem nunca teve a oportunidade de jogar a série Lunar e, para os fãs de longa data, é simplesmente obrigatório.

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