O Universo Cinemático da Marvel conseguiu um feito pouco comum no mundo do entretenimento. Além de popularizar massivamente as suas obras para os cinemas, também conseguiu injetar nova vida em super-heróis desconhecidos para a maioria, tais como o Deadpool ou o Black Panther. Estes ícones resgatados chegaram mesmo a rivalizar com os mais consagrados da empresa tais como os X-Men, o Quarteto Fantástico, o Homem-Aranha, ou o Hulk. Um destes melhores registos são os Guardiões da Galáxia, um grupo bem louco de super-heróis espaciais que pelo seu humor conquistaram um espaço bem dedicado nos corações dos fãs. Estes receberam o seu segundo videojogo num momento bem caricato, pois Marvel’s Avengers, não foi nada bem recebido pelos fãs e pela crítica, devido a uma campanha aquém do esperado e uma confusão com microtransações. Devido a estes efeitos muitos temiam que as aventura do quinteto carismático seguisse o mesmo caminho, e isso fez com que as expetativas estivessem no mínimo.

O jogo Marvel’s Guardians of the Galaxy retira imensos elementos e caracterizações da obra realizada por James Gunn nos cinemas. Contudo, ainda no parágrafo de Marvel’s Avengers, não estamos na presença de uma história criada especificamente para um videojogo, mas sim de eventos que já viveram nas páginas dos seus comics. Quase todas as suas personagens partilham de elementos que assistimos no grande ecrã. O grupo liderado pelo carismático Peter Quill, AKA Star-Lord, é constituído por Drax, o Destruidor, a assassina Gamora, o felpudo Rocket (Racoon), e o seu companheiro Groot. Mas, quem é o Groot, perguntam vocês? O Trent espacial diria imediatamente “Eu sou o Groot!”. A única exceção a esta regra é a filha adotiva de Thanos que recorre aos seus elementos e caracterizações dos comics. Mesmo com um aspeto, e formas de agir diferentes, os fãs dos filmes não se vão sentir postos de lado nesta obra da Eidos-Montréal, editada pela Square Enix.

A nossa história começa numa galáxia muito, muito próxima…

A história de Marvel’s Guardians of the Galaxy decorre numa altura bem prematura, isto porque o grupo acabou de se formar há um par de meses. Esta premissa é por si bem apelativa para um videojogo, pois estamos perante o primeiro jogo de elevado orçamento da série, e para servir as personagens neste media nada melhor que partir do início para conhecer as suas motivações e o universo em redor.

O jogo transporta-nos até aos rescaldos da guerra galáctica, que afetou todo o universo e levou um grupo bem variado a juntar-se a bordo da nave Milano. O mesmo dedica-se a completar todo o tipo de missões em troca de uma boa bonificação, claro que os planos não correm como o previsto. Numa destas missões o grupo é destacado para capturar um monstro num planeta distante. De salientar que nesta fase o jogo apresenta um tutorial muito orgânico, sentimos mesmo integrado com a história a decorrer, não é forçado e não imprime linearidades obrigatórias no jogador. Claro, que isto é um videojogo, e se corresse tudo bem à primeira apresentavam os créditos e o nosso rico dinheirinho não tinha valor nenhum. É com muito prazer (consoante a perspetiva) que indicamos que vamos assistir a muita desgraça alheia, e o grupo acaba aprisionado. Isto porque ao invés de capturar um monstro Groosteco (isto sem ferir as suscetibilidades de árvores mais ou menos falantes), encontram uma amorosa lama colorida -não os censuramos quem não adora lamas coloridas? Rapidamente são intercetados, e mergulhados num enredo onde não vão faltar contas por pagar e até negociações escaldantes, com a guerreira e colecionadora de monstros, Lady Hellbender.

Quase todas as personagens são baseadas nas suas congéneres cinematográficas

Sem enveredarmos por spoilers, afirmamos com total certeza que a história do jogo está bem escrita, e os diálogos surgem em elevado número e duração e estão excelentemente bem representados, claro que podemos contar com imensas piadas disparadas para todo o lado, mas acreditem que também temos espaço para um ambiente sério e algum drama. Em suma, todas as suas dinâmicas inundam as personagens de carisma e produzem coesão entre as mesmas e o seu universo. Contudo, até o jogo atingir todo o seu potencial passam cerca de 4 horas, e falamos de uma aventura galáctica com cerca de 18 horas.

A história é formada por 16 capítulos que uma vez terminados abrem caminho até ao “New Game +”. Muitos devem estar intrigados, mas porquê um “New Game +”? Neste jogo incrivelmente fantástico onde encarnamos um grupo de criaturas fofinhas? Passamos a explicar. Ao longo da nossa aventura somos confrontados com diversas situações onde temos de escolher uma ação. As mesmas abrem portas para outros desenvolvimentos na história. Podemos tomar rédeas e falar abertamente com líderes galácticos, ou encorajamos Drax, a partir para a violência? Será melhor vender o Rocket Racoon ou o Groot em troca de uma boa maquia? As mesmas também abrem portas para o desenvolvimento de personagens, pois são muitas vezes apresentadas situações onde uma velha rivalidade vem ao de cima e cabe ao jogador no papel do carismático líder acalmar os ânimos ou estabelecer laços de amizade com as mesmas. Realmente é fantástico como Marvel’s Guardians of The Galaxy, consegue introduzir elevadas doses de comédia sem desequilibrar a sua narrativa.

Ao longo de aventura seremos confrontados com algumas decisões que alteram o rumo dos acontecimentos

Igualmente fantásticas estão as mecânicas de exploração de cenários. Em certos contextos surgem alguns quebra-cabeças para os jogadores resolverem para prosseguirem a sua viagem. Estes são bem simples, e não constituem um grande desafio. No entanto, servem para imprimir uma maior diversidade entre o grupo. Através de um elemento retirado de outro célebre jogo de super-heróis; Batman: Arkham Asylum. Os jogadores podem utilizar o visor de Peter para analisar diversos elementos nos mapas. Em muitos será necessário pedir o auxílio dos nossos colegas para permitir a recolha de itens, ou alcançar outras partes do cenário. Gamora pode cortar cabos que impedem passagens, Groot pode criar plataformas de madeira, pontes ou andaimes, Drax destruir paredes, e Rocket hackear painéis ou escorregar em superfícies estreitas. Na maioria das vezes estas interações são necessárias para aceder a áreas opcionais onde estão escondidos vários colecionáveis. Os mesmos atingem desenvolvimentos muito semelhantes a The Last of Us Parte II, onde também revelam eventos passados vividos pelas personagens em documentos.

O jogador no papel de Quill será o elemento de união do grupo

Mas a nossa equipa de heróis carismáticos não deambula pelos mapas para obter lembranças para preencher o seu vazio existencial. Nos diversos ambientes também terá de combater todo o tipo de ameaças. Nestes momentos o jogo não brilha tanto como nos seus outros campos, na verdade, até se sente bem limitado e até um pouco repetitivo, se bem que traz algumas ideias frescas para a mesa. Infelizmente não podemos controlar cada um dos super-heróis de forma independente. Apenas é possível encarnar o Star-Lord nestes caóticos combates. Contudo, as deficiências do herói são colmatadas pelos restantes membros da sua equipa. Peter participa em combates corpo a corpo quando está próximo dos seus adversários ou a longa distância atinge os seus inimigos com as suas Blasters. No entanto, pode, por exemplo, pedir ao Groot para aprisionar inimigos ou criar plataformas de madeira para permitir um maior alcance enquanto os restantes colegas continuam a infligir danos nos diversos monstros galácticos e soldados espaciais, ou ao Rocket para atirar uma granada. Esta vertente de combate é reminiscente à que assistimos em Final Fantasy VII Remake, isto porque além de cada personagem ter movimentos específicos, os mesmos podem explorar as fraquezas dos adversários. Semelhante ao RPG até existe uma barra de “Stagger” debaixo dos seus pontos vitais. Evidentemente estas habilidades não estão disponíveis logo à partida e para as desbloquear será necessário recolher pontos de experiência. Em suma, podemos afirmar que Quill é a espinha dorsal da equipa, pois é o líder carismático que dá as ordens e que os seus colegas executam. Este elemento atingirá contornos ainda mais interessantes a meio da aventura quando Peter reunir todos os seus aliados, e numa vertente muito característica dos jogos Telltales motiva-os a participar na batalha com base no humor característico de cada membro. No papel este sistema de combate pode parecer diferente e até arrojado, contudo, devido à sua repetição e linearidade infelizmente cai em monotonia, e só volta a atingir novos patamares quando no final da aventura combatemos inimigos mais ferozes sendo exigidas novas abordagens.

O sistema de combate é reminiscente ao de Final Fantasy VII Remake

Marvel’s Guardians of The Galaxy visualmente está mesmo, mas mesmo, muito perto dos seus congéneres no grande ecrã. As personagens estão incrivelmente detalhadas -temos também o modelo canino mais fofo-, os cenários onde a cor magenta marca grande presença estão magistralmente muito próximos das superproduções cinematográficas, e as animações especialmente expressões faciais são um regalo para os olhos, podemos mesmo dizer que assistimos a algumas das melhores num videojogo. Este requinte atinge novos patamares com as imensas opções gráficas do jogo, que além do suporte HDR também nos permite desfrutar de efeitos raytracing.

Para nossa grande surpresa o jogo com todos os efeitos ao máximo e com as opções de raytracing atinge entre 70 a 80 fps, se retirarmos esta interessante tecnologia o jogo não se evade dos 110 a 120 fotogramas por segundo. Esta foi uma agradável surpresa ainda mais quando estamos na presença de um jogo patrocinado pela NVIDIA e mesmo sem o suporte ao NVIDIA DLSS consegue atingir uma enorme qualidade em componentes de outras marcas.

Igualmente excelente é a sua banda-sonora que conta com um infindável número de canções célebres da década de 80, e que não só elevam a qualidade do produto como assentam que nem uma luva no espírito da aventura mesmo nos locais mais inóspitos, foi impossível não soltar uma gargalhada quando fomos “rickrolled” por um ser gigante. Além destes portentos técnicos esta louca aventura conta com várias opções de acessibilidade e a localização num abismal número de idiomas. Isto porque os nossos guardiões dominam 14 destas, e nas mesmas constam textos e áudio em português do Brasil.

O jogo conta com incríveis modelos de personagens e visuais

 

Marvel’s Guardians of The Galaxy, é um produto repleto de cuidado, dedicação, e um imenso respeito pela sua obra. Este chega ao mercado numa das piores alturas possíveis, e sem medo consegue provar que as aventuras puras e duras para um jogador onde o foco é a história e o desenvolvimento de personagens conseguem singrar sem recorrer a elementos online ou microtransações. Estamos perante uma das melhores adaptações de comics para videojogo, que devido este requinte consegue rivalizar com os seus episódios que assistimos nos cinemas uns anos atrás. Enquanto esperamos pelo terceiro nada melhor que fazermos também parte desta tripulação a bordo da nave Milano.

Prós e Contras de Marvel’s: guardians of the galaxy

 

 

+ Aventura para um jogador sem recorrer a elementos online
+ Enorme respeito pela sua fonte
+ Narrativa envolvente repleta de momentos humorísticos
+ “New Game +” abre portas para explorar outros desenvolvimentos narrativos
+ Excelentes visuais
+ Elementos e Banda-sonora repleta de êxitos da década de 80
+ Versão para PC bem programada e robusta
+ Uma lição a tomar pela indústria que prova o contrário do que foi dito
–  Sistema de batalha simples
–  Quebra-cabeças desinspirados e simplistas
–  Apenas podemos controlar o Star-Lord

Bruno Reis
Vindo de vários mundos e projetos, juntou-se à redação do Otakupt em 2020, pronto para informar todos os leitores com a sua experiência nas várias áreas da cultura alternativa. Assistiu de perto ao nascimento dos videojogos em Portugal até à sua atualidade, devora tudo o que seja japonês (menos a gastronomia), mas é também adepto de grandes histórias e personagens sejam essas produzidas em qualquer parte do globo terrestre.
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