Começo por admitir que não sou um jogador assíduo desta franquia da Capcom. A minha primeira experiência com o jogo aconteceu demasiado tarde, com Monster Hunter World. Embora o título tenha várias qualidades impressionantes, não consegui gostar o suficiente para continuar na altura. Talvez tenha sido por começar a jornada muito depois do lançamento e por achar que as suas mecânicas não eram tão acessíveis para quem estava a entrar pela primeira vez naquele universo. No entanto, com o recente lançamento de Monster Hunter Wilds, decidi dar uma nova oportunidade e, felizmente, fui surpreendido por uma aventura que oferece uma narrativa mais envolvente e uma jogabilidade mais acessível e acolhedora para novos jogadores.

O jogo começa com um grupo de exploradores que encontram no deserto um jovem chamado Nata, inconsciente e ferido. Após a sua recuperação, Nata revela ser oriundo das Terras Proibidas, uma região misteriosa do Velho Mundo que se acreditava estar isolada há vários séculos. Perante esta descoberta, é organizada uma expedição e, como parte dessa missão, um caçador de elite com uma equipa especializada e o seu companheiro amigato são destacados para explorar as regiões desconhecidas das Terras Proibidas, para descobrirem mais sobre aquelas terras, ao mesmo tempo que ajudam Nata a encontrar o seu povo que acreditam estar em perigo.

O meu caçador prestes a entrar numa luta

Após dezenas de horas no jogo, percebemos que a Capcom com Monster Hunter Wilds tem como objetivo levar a série até um público mais vasto. Isso nota-se logo pela narrativa que até ao seu final serve como género de tutorial para ensinar os jogadores a utilizar as ferramentas que são oferecidas ao longo da jornada para enfrentarmos os monstros inóspitos que vivem nestas terras.

Monster Hunter Wilds vendeu mais de oito milhões de cópias em três dias após o seu lançamento.

Diferente dos jogos anteriores, a narrativa de Monster Hunter Wilds ganha mais destaque, dando ênfase ao nosso caçador que desta vez tem voz, abordando temas como a sobrevivência, respeito pela natureza e a relação com as criaturas selvagens deste mundo. Para além das personagens serem mais ativas e cativantes, a produtora japonesa preocupou-se em trazer profundidade ao enredo, que para além dos vários mistérios, nos permite interagir e conhecer os costumes das tribos locais, levantando também questões sobre o propósito de um caçador.

Além disso, o jogo faz um ótimo trabalho ao transformar as tradicionais caças aos monstros em algo mais profundo e significativo. Cada missão, cada novo monstro que enfrentamos e até mesmo os pequenos detalhes descobertos durante a exploração desempenham um papel crucial para enriquecer a narrativa.

Os momentos mais emocionantes de Monster Hunter Wilds são sentidos durante os combates contra os colossais monstros que habitam as regiões das Terras Proibidas. Para os enfrentar, temos à disposição quatorze tipos de armas, incluindo espadas, martelos, lanças, entre outras, cada uma com o seu próprio conjunto de movimentos e mecânicas que exigem aprendizagem e domínio.

Embora cada arma tenha características diferentes, algumas são mais fáceis de manusear, destacando-se pela velocidade ou pelo alto poder de dano. No meu caso, comecei por optar por uma glaive de inseto, aproveitando os seus buffs e toda a sua mobilidade para atacar rapidamente à distância e no corpo a corpo. No entanto, mais tarde decidi experimentar o martelo como segunda opção, priorizando golpes mais poderosos para atordoar e derrubar criaturas de grande porte com mais eficiência.

Como caçadores de elite, temos ainda acesso a diversas armadilhas que podemos colocar nos cenários contra os inimigos, inúmeros itens de cura e também uma arma de longo alcance que dispara balas com diferentes efeitos.

Monster Hunter Wilds trouxe novidades para o combate que representam uma evolução em relação aos títulos anteriores, mudando a nossa abordagem perante as batalhas. Entre as adições mais marcantes estão o Focus Mode e o Focus Strike. O primeiro permite direcionar ataques e bloqueios com o analógico direito, proporcionando maior precisão para atacar os pontos específicos das criaturas. Além disso, este modo deixa expostas as áreas vulneráveis dos monstros, como feridas ou pontos fracos, tornando a estratégia de combate ainda mais tática e eficiente. Enquanto que o segundo tira proveito das feridas que foram abertas para causarmos danos ainda maiores. Com esta nova abordagem, tornou-se ainda mais fácil atingir as partes específicas dos monstros que precisamos para criar novas armas e armaduras.

Jin Dahadd, um dos grandes monstros de Monster Hunter Wilds

Digamos que é um sistema bastante útil e divertido, que adiciona intensidade e dá um toque de novidade ao combate. Esta acessibilidade certamente agradará aos novatos, mas pode não ser tão bem recebida pelos jogadores mais experientes, acostumados a caçadas mais complexas e desafiadoras.

Para quem prefere caçar acompanhado, outra novidade interessante é o novo sistema de S.O.S., que nos permite pedir ajuda até três NPCs caso não haja jogadores disponíveis. Fiquei realmente surpreendido com a extrema eficiência de cada um deles. Estes aliados conhecem bem os pontos fracos dos inimigos, ajudam em momentos críticos, usam armadilhas, atordoam os monstros, utilizam as suas habilidades de forma eficaz, entre outras ações.

Durante os combates, também podemos tirar proveito dos ambientes onde enfrentamos os monstros. Em alguns cenários, é possível derrubar estruturas sobre os inimigos ou até fazer com que eles fiquem presos em armadilhas naturais. Há até áreas específicas com besouros voadores que nos permitem usar o gancho para balançar no ar, ajudando a evitar ataques ou até mesmo a saltar para as costas dos monstros para atacá-los de forma mais eficaz.

Em Monster Hunter Wilds, existe também uma grande variedade de monstros, incluindo alguns bem conhecidos e outros que fazem a sua estreia neste título, como o Rey Dau, Jin Dahaad e Lala Barina. Como é costume na série, cada um deles é único com os seus próprios elementos, ataques e comportamentos, oferecendo desafios distintos e exigindo estratégias diferentes para serem derrotados.

Os ambientes jogo são incríveis

Falando sobre a exploração, temos um mundo verdadeiramente vasto. Embora ainda não estejamos diante de um mapa totalmente aberto em Monster Hunter, o jogo oferece várias regiões interconectadas de grandes dimensões, cada uma com o seu próprio ecossistema, onde a natureza e diferentes espécies coexistem. As regiões estão repletas de vida, variando de desertos a florestas e até zonas vulcânicas, com monstros a mover-se em bandos, predadores a caçar e pequenos animais e outros seres vivos que fazem parte da fauna de cada área. Além disso, há um sistema climático que afeta tanto os cenários quanto os combates.

Nos acampamentos é possível comprar itens, criar e melhorar o nosso equipamento e até fazer refeições que aumentam os nossos status.

Com a ajuda do nosso novo companheiro Seikret, podemos ainda mover-nos de forma mais rápida e prática pelas áreas do jogo de maneira automática, caso desejemos seguir diretamente para o objetivo. Durante esses momentos de deslocamento entre as diferentes regiões, podemos aproveitar para colher recursos, criar novos itens e afiar as nossas armas enquanto somos conduzidos até ao destino. Além disso, ao montarmos Seikret, podemos carregar duas armas e trocá-las facilmente, o que achei particularmente eficaz em missões que envolvem caçar mais de um monstro. Isto permite-nos levar uma arma eficaz contra cada um deles, dando uma maior versatilidade e adaptabilidade nos combates.

Na verdade, ainda que seja uma ação prática que nos permite focar em outras tarefas, colocarmos a deslocação em modo automático acaba por nos afastar um pouco da descoberta do mundo de forma mais autônoma. Na maioria das vezes dei por mim a percorrer o mapa sem prestar grande atenção aos detalhes, o que fez com que perdesse alguns itens assim como a oportunidade de apreciar inteiramente a beleza dos ambientes de Wilds.

O habitat de Lala Barina

A primeira coisa que notamos ao começar a explorar o mundo de Monster Hunter Wilds é a qualidade impressionante dos ambientes e monstros. As áreas abertas, repletas de biomas, são simplesmente deslumbrantes. Desde os desertos áridos, passando pelas densas florestas, até às imponentes montanhas passando por pântanos enevoados, cada região foi cuidadosamente criada com um nível de detalhe simplesmente fascinante. A iluminação, com efeitos de luz que reagem ao ciclo dia-noite e às mudanças climáticas, proporciona uma experiência visual única a cada expedição.

Os modelos dos monstros também são um grande destaque, com características visuais que os tornam ainda mais intensos e ameaçadores, tornando-os verdadeiramente memoráveis. No entanto, um dos pontos negativos que se destaca são as texturas do jogo, que em alguns casos demoram a carregar. Este problema ocorre com uma certa regularidade nos três modos gráficos disponíveis na PlayStation 5, sendo mais notável no modo Qualidade.

A banda sonora foi composta por Miwako Chinone.

Outro aspecto digno de destaque em Monster Hunter é a atmosfera sonora única que o jogo consegue oferecer. Grande parte disso deve-se à sua banda sonora. Em Monster Hunter Wilds, a música acompanha a nossa aventura de forma notável tanto na exploração como durante as caçadas, sendo uma parte essencial da experiência que contribui para aumentar a tensão e a emoção de cada momento, assim como os efeitos sonoros que são um dos pontos mais importantes para a imersão do jogo, desde os sons subtis da natureza, até aos rugidos imponentes dos monstros.

Monster Hunter Wilds representa a evolução certa da franquia, oferecendo uma experiência mais atrativa e acessível especialmente para novos caçadores. Com uma narrativa mais envolvente e um mundo extenso e vibrante, senti-me verdadeiramente imerso nas mecânicas do jogo e na emoção das caçadas. Embora possa sofrer de alguns problemas técnicos e o desafio seja um pouco mais leve do que em Monster Hunter World, a Capcom trouxe algumas ideias interessantes que certamente irão elevar a série a novos patamares.

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