Nickelodeon All-Star Brawl 2 é a continuação do aparentemente bem-sucedido jogo de combate de plataformas que reúne muitas das personagens que fizeram as delícias de jovens que nas suas infâncias assistiram às suas séries animadas na SIC. A controversa dupla Ren & Stimpy, duas das quatro Tartarugas Ninja, uma dupla de Castores Zangados, e poderosos Avatares, estas são apenas algumas das coloridas personagens deste verdadeiro festim animado que volta a reunir o passado, o presente e o futuro da célebre empresa de desenhos animados. Embora o primeiro jogo tenha ficado aquém das expetativas para a maioria, a GameMill Entertainment, a Ludosity e os Fair Play Labs voltaram a unir esforços para criar um jogo que reúne os desejos e recomendações de fãs que nunca deixaram de acreditar num produto mais robusto e com maior qualidade.

Super Smash Bros., foi um jogo revolucionário para o seu tempo, aliás vou mais longe a rotular a Nintendo como uma das produtoras que melhor suaviza géneros violentos, visto que conseguiu criar um jogo de luta com cariz familiar (Super Smash Bros.), um survival horror divertido e festivo (Luigi’s Mansion) e um shooter onde o foco não é tingirmos corpos de sangue, mas sim pintar um cenário de vermelho e outras cores (Splatoon). Nickelodeon All-Star Brawl 2, retira essencialmente inspirações de Super Smash Bros., mas do seu episodio mais competitivo até ao momento, Super Smash Bros. Melee. Contudo, a sua essência permanece a mesma como noutros jogos de luta de plataformas, ou seja, acumular uma grande quantidade de dano através de ataques ligeiros e especiais antes de enviar os adversários pelos ares ou borda fora com um ataque metódico ou poderoso. Os comandos também são inalteráveis, ou seja, atuam em função da direção e do facto das personagens estarem numa posição. Por muito estranho que vos possa parecer todos estes elementos são incrivelmente simples de serem executados, porém oferecem uma complexidade muito própria a quem decidir destapar as suas camadas, de salientar que estas características são de imediato apelativas a praticamente todos os públicos.

Por um lado temos o público casual que apenas deseja divertir-se com os seus amigos ou família, do outro os jogadores profissionais que com os seus talentos e mestria são capazes de cativar e inspirar os maiores palcos de desportos eletrónicos mundiais. Como já afirmei anteriormente o segredo reside na simplicidade, o mote de um jogo de luta de plataformas, neste subgénero não existem golpes especiais à base de comandos nem outras combinações complicadas. Vamos pegar na personagem Sponge Bob para vos exemplificar. Enquanto o seu ataque neutro é uma rápida sucessão de palmas, a mesma combinação de botões e manípulos no ar gera um ataque de curto alcance de 360.° onde usa os icónicos óculos. Os especiais envolvem normalmente uma mecânica única, tais como uma recuperação para fora do palco definida para o seu Especial aéreo, ou Especial para baixo que é normalmente utilizado para reforços específicos de uma personagem, por exemplo, o Garfield a comer lasanha para reforçar o poder de ataque.

Mike e Leo decidiram ceder o seu lugar a Don e Raph nesta segunda edição do jogo

Por último, temos os ataques “Charge”, que infelizmente não causam tantos danos como os ataques leves ou especiais, mas possuem um poder de lançamento devastador! Também são muito limitados porque só permitem ataques neutros, para cima ou para baixo, mas se os jogadores mantiverem o botão específico pressionado estes podem ser “carregados” para causar mais danos ou introduzirem um efeito de ricochete quando os adversários chocam nas plataformas em alguns cenários. O charge neutro de Sponge Bob faz balançar uma rede, enquanto a charge para baixo faz com que o habitante quadrado do fundo do mar rode as ancas em círculo, num movimento conhecido como “Brings It Around Town”, finalmente o charge para cima faz com que utilize o arco-íris também conhecido como poder da imaginação num curto espaço de tempo à sua volta. Tal como os outros ataques, estes também mudam no ar, e o conhecimento e alcance destes permitem aos aos jogadores dominar a sua personagem e consequentemente a dos seus adversários.

Claro que não estaríamos a falar de uma continuação sem novidades na gameplay e é neste parágrafo que encontramos algo muito especial. No Brawler da Nickelodeon foi adicionada uma mecânica muito específica que modifica por completo o “modus operandi” de quase todas as personagens e do próprio jogo. Se os jogadores desejarem podem melhorar o poder de ataque ou o efeito de qualquer ataque durante o movimento se mantiverem premido o botão “Slime”, uma nova mecânica muito semelhante aos EX Moves de Street Fighter que presta homenagem ao antigo programa da Nickelodeon, You Can’t Do That On Television onde miúdos de carne e osso eram regados com gosma verde como penalidade por fracassarem numa prova.

Para exemplificar esta novidade vamos pegar novamente no Sponge Bob. Os jogadores ao recorrerem ao “Slime” fazem com que a esponja humanoide solte maiores bolhas de sabão quer em tamanho como quantidade com o seu especial neutro. Contudo, se Bob reunir três barras de slime, os jogadores podem gastar todas para criar um ataque muitíssimo poderoso que pode mudar o fluxo do combate. O Slime também possui outras propriedades, tais como cancelar um ataque para encadear um combo, ou reforçar o seu escudo. Esta última é claramente uma mecânica herdada de Super Smash Bros. Melee, porém, a forma como adota todas as mecânicas Slime, como um grande núcleo, faz com que se destaque quer deste jogo como da concorrência.

Embora o jogo seja definitivamente divertido nos combates por vezes sinto que lhe falta um pouco de essência e nesta fase julgo que está ainda muito desequilibrado. Por exemplo, o ataque neutro de Jenny Wakeman tem umas hitboxes do mais duvidoso, os ataques leves da dupla Ren e Stimpy são tão eficazes que os jogadores não precisam de nenhum dos seus ataques de charge e a recuperação aérea da avó de Arnold não funciona em algumas saliências. Acredito que este desequilíbrio aborreça e afaste a demografia competitiva.

Mesmo assim Nickelodeon All-Star Brawl 2 é um produto muito mais robusto em quase todas as áreas, mas infelizmente existe uma onde os jogadores vão sentir muitas ausências, a lista de personagens jogáveis. Não me interpretem mal Nickelodeon All-Star Brawl 2 possui uma excelente lista de personagens. SpongeBob, Ren & Stimpy, Nigel Thornberry, Aang e Korra são regressos mais que esperados, mas o que é feito de Helga, Michael Angelo, Leonardo, Toph, Hugh, CatDog, Shredder (Destruidor), Oblina e Super Tosta em pó? Talvez num futuro pacote DLC, mas o certo é que a lista de regressos foi vastamente reduzida. Em contrapartida o jogo inclui um elevado número de personagens SpongeBob Square Pants, mas não inclui as quatro Tartarugas Ninja e personagens como El Tigre ou a avó de Arnold são adições do mais duvidoso, especialmente quando o próprio Arnold nem sequer se encontra presente neste festival animado e divertido, Squidward apenas parece ser uma desculpa para os incontáveis memes que foram criados na internet, acreditem o jogo recorre imenso a este elemento quer na caracterização das suas personagens como em movimentos. Também sinto que o jogo retira demasiadas inspirações de Super Smash Bros., por exemplo, Sponge Bob e Nigel, são praticamente skins alternativas de Super Mario e Jigglypuff, os movimentos embora divertidos e adequados às personagens poderiam ter mais variedade.

Felizmente o mesmo não posso dizer dos itens que são referências ao legado da produtora de desenhos animados. Temos as bombas de tarte do SpongeBob, o boomerang do Sokka, a boom box do Arnold ou as botas de bronze da verdade de El Tigre, e isto apenas para citar alguns. Outro efeito que realmente me surpreendeu foi o código rollback no online, ao contrário do dial-up é muito robusto, também foi surpreendente encontrar adversários quando o jogo tinha poucos utilizadores no seu lançamento talvez por ser crossplay, mas nada dos Fair Play Labs se encostarem aos louros porque de futuro este pode ser um problema se abandonarem o suporte desta segunda parte em prol uma inevitável terceira, realmente espero ver mais variedade e equilíbrio porque nesta fase a avó de Arnold é uma escolha constante nas partidas online por ser uma personagem extremamente “broken”.

Squidward é a melhor definição de “lutador meme”

Mas e se o modo online “morrer”? Ao menos desta vez existem muitos e melhores modos para um jogador, para começar e ao contrário do seu antecessor todas as personagens possuem áudio com os atores de voz das suas séries o que certamente melhora a experiência em qualquer modo. A história estruturada foi como um roguelike e coloca o vilão de Danny Phantom, Vlad Plasmius, como principal destaque e cabe aos jogadores libertar do seu controlo as mentes das personagens da Nickelodeon. Os jogadores começam por controlar SpongeBob mas ao longo da viagem podem reunir mais aliados à sua causa, enquanto amealham moedas “Slimies” e “Blimps” que podem ser gastas em itens cosméticos, ou poderes úteis para as partidas seguintes, tais como curar entre níveis ou começar outra com um stock adicional de personagens. Embora seja repetitivo é divertido e mantém o jogo interessante para um único jogador, mantendo certamente vivo o fator de replay que tanto sentimos em falta neste subgénero de jogos.

Como já foi referido nesta análise Nickelodeon All-Star Brawl 2 é um jogo com um orçamento muito maior e esse fator também passa pelos seus elementos técnicos. Além das já citadas vozes para as personagens, o seu grafismo também foi vastamente melhorado. Quer os modelos de personagens como cenários estão muito superiores, basta compararmos estes elementos com os dos do jogo anterior e vemos de imediato as diferenças até porque as proporções e texturas estão muito melhores e com mais detalhe.

Claro que este é um jogo que não exige muito dos vossos componentes de hardware visto que o seu intuito é colocá-lo no maior numero de dispositivos, por isso era esperado que as suas opções gráficas fossem muito reduzidas, isto claro se tivermos em conta a necessidade de recursos de um jogo de cariz de animação. Além de resoluções até 4K a 30, 60 ou 120 fotogramas por segundo, o jogo conta opções de sincronização vertical (V-Sync), Antialising de 4x até 8x e qualidade de texturas de baixo a alto. Por isso não foi de todo surpreendente que o jogo não tivesse absolutamente nenhum problema em ser executado em qualquer um dos nossos dispositivos, ou seja, Steam Deck, ROG Ally ou uma build PC composta por composta por um processador AMD Ryzen 9 5950X, placa gráfica NVIDIA GeForce RTX 4090 MSI Suprim X, 64 GB RAM a 3600 MHz e uma unidade Samsung 990 PRO NVMe M.2 SSD. Infelizmente o jogo não possui suporte a textos em português, consta com 6 idiomas onde o mais surpreendente é o holandês.

Nickelodeon All-Star Brawl 2 é um jogo que limou todas as arestas do anterior. É evidente que o primeiro jogo foi feito com muita dedicação mesmo com recursos tão limitados, mas como neste segundo as produtoras tiveram um orçamento muito maior o resultado é um jogo muito melhor, mais rigoroso e com uma ambição muito maior. Apesar de necessitar de mais equilíbrio e de um plantel de regressos nesta fase, consegue ser apelativo por ter a ousadia de apelar a todos os públicos. Este é sem dúvida um exemplo do que a critica construtiva consegue produzir.

Subscreve
Notify of
guest

0 Comentários
Inline Feedbacks
View all comments