Os jogos de plataformas costumavam ser um dos géneros mais predominantes dos anos 90 com Super Mario Bros., Sonic The Hedgehog, Megaman, Kirby, Donkey Kong e muitos mais a receberem lançamentos constantes e a ocuparem as nossas prateleiras. No entanto, com a descoberta do 3D grande parte destes lançamentos deram lugar a géneros mais realistas e cinematográficos. Felizmente a era de ouro das mascotes gradualmente tem vindo a aumentar em qualidade e número, não só através de indies como também de jogos de maior orçamento tais como os recentes ASTRO BOT e Sonic X Shadow Generations que até ocupam várias postos nas listas dos The Game Awards 2024. Porém, por muito bons que estes dois jogos sejam é inegável que ambos carecem daquele espírito característico da primeira metade dos anos 90 e é com base nesta premissa que a Knights Peak e a VEA Games apostam em Nikoderiko: The Magical World para preencher esta lacuna no mercado.

A base deste jogo é o regresso a uma época mais colorida, simpática e vibrante do género, que começa por colocar nas nossas mãos um par de mangustos antropomórficos chamados Niko e Luna, que se parecem bastante com a primeira versão de Max, uma das mascotes dos gelados Olá, enquanto saltam e recolhem itens colecionáveis, que não escondem as suas heranças, e conquistam desafiantes bosses ao serviço do maléfico Grimbald. Embora estejamos na presença de um novo jogo é inegável não sentirmos que está preso às suas raízes mais contemporâneas, quer seja para o melhor como para o pior.

O jogo retira a sua essência do clássico Donkey Kong Country, onde controlamos um símio numa estética maioritariamente 2D até ao final de um nível, que é representado por uma gaiola com itens para libertar.

Pelo caminho, encontramos inimigos com rotinas básicas, pirilampos para recolher, letras que formam a palavra N-I-K-O, ao mais clássico estilo de Donkey Kong Country/Land, diamantes, chaves para desbloquearmos mais percursos, mapas de tesouros, enfim, uma panóplia de colecionáveis que honram as séries referidas uns parágrafos atrás.

Evidentemente que para chegar ao fim do jogo não é preciso recolher nenhum em particular e basta chegar ao final de cada nível, enquanto pelo caminho conquistamos encontros com bosses desafiantes. Este facto é um dos maiores males do jogo porque a sua dificuldade é bastante irregular, mais um elemento herdado de Donkey Kong Country.

No entanto, algo em que senti uma incrível lufada de ar fresco foi no level design que introduz transições entre os planos 2D e 3D de uma forma muitíssimo suave, intuitiva e sem nenhuns carregamentos pelo meio. Quanto mais joguei mais senti que esta devia ser definitivamente a direção que Crash Bandicoot 4: It’s About Time devia ter enveredado, ou seja, uma gameplay fluída, simples e sem recorrer a gimmicks absurdamente complexos. Aliás penso que estas transições 3D foram uma direta referência aos níveis 3D das primeiras aventuras do marsupial tresloucado amante de frutas Whumpa.

Tal como o marsupial, os nossos corajosos heróis podem saltar, fazer investidas para o chão a partir do ar ou fazer um carrinho para se desviarem e derrubarem inimigos. Por vezes, podemos apanhar objetos e atirá-los, mergulhar ou utilizar montadas ao mais puro estilo Donkey Kong Country que incluem um sapo que cospe gelo, um dinossauro que cospe fogo ou um cavalo marinho para a dupla se mover mais depressa e conquistar os inimigos debaixo de água.

Este mundo fantástico está dividido em 7 áreas com vários níveis de zonas temáticas de jogos comuns neste tipo de jogos, ou seja, selvas, templos perdidos, zonas cobertas de neve e claro seções abordo de um carrinho das minas. Podemos optar por participar sozinhos nesta aventura ou acompanhados, claro que o modo cooperativo é sempre mais divertido, no entanto, o ritmo acelerado de alguns níveis faz com que existam muitas ocasiões onde um jogador deixa o outro para trás e desaparece completamente do ecrã e é necessário que ambos voltem a estar perto um do outro para prosseguirem no nível. Infelizmente não existe modo cooperativo online.

Por isso, se um dos dois jogadores morrer, vai surgir rapidamente dentro de uma bolha ao estilo de Yoshi’s Island, mas se o outro jogador a rebentar pode fazer com que ambos continuem no jogo. Não temos limite de vidas, embora um humilhante painel de avaliação nos mostre quantas vezes morremos.

Depois de terminar um nível, visitamos um mapa mundo onde podemos optar por voltar atrás para revistar outros já conquistados, avançar para o próximo ou entrar numa espécie de loja onde podemos trocar os itens recolhidos por baús. Uma das melhores opções é trocar moedas especiais por montarias que podemos invocar sempre que quisermos num nível, desde que as tenhamos disponíveis.

Os baús mais baratos costumam dar prémios mais simples, enquanto os baús “Premium” dão recompensas mais requintadas, realmente não estava à espera de encontrar mecânicas gacha num jogo deste género.

A nível visual o jogo é incrível e cativa de imediato miúdos e graúdos com cenários coloridos e pormenorizados onde controlamos personagens simpáticas e vibrantes. Embora estejamos na presença de um jogo graficamente pouco exigente que pode ser executado sem nenhuns compromissos em qualquer PC ou outro dispositivo móvel, tais como as portáteis Steam Deck, ROG Ally, MSI Claw e Lenovo Go, existem momentos dotados de uma direção artística incrível onde a iluminação brinca com as silhuetas das personagens e os efeitos de paralax atribuem densidade nos cenários, os níveis aquáticos são um verdadeiro testemunho a esta afirmação. Para quem esta familiarizado com a série Ori deve ficar com uma ideia do que falo.

O som também não fica nada atrás dos seus visuais. As faixas musicais compostas pela lenda viva conhecida como David Wise, assentam que nem uma luva em toda a ação e momentos. Para quem não conhece este ilustre senhor foi um dos compositores da banda sonora de Donkey Kong Country na Super Nintendo, algo que é notório quando ouvimos as melodias tribais em grande parte dos níveis.

Nikoderiko: The Magical World é um testemunho moderno de uma era onde tudo era mais colorido, alegre e vibrante. O jogo homenageia os maiores clássicos do seu género sem atribuir elementos modernos demasiado complexos para cativar miúdos e graúdos de coração jovem que vibravam cada vez que encontravam uma mascote estampada na frente de uma caixa de jogo para consolas.

Bruno Reis
Vindo de vários mundos e projetos, juntou-se à redação do Otakupt em 2020, pronto para informar todos os leitores com a sua experiência nas várias áreas da cultura alternativa. Assistiu de perto ao nascimento dos videojogos em Portugal até à sua atualidade, devora tudo o que seja japonês (menos a gastronomia), mas é também adepto de grandes histórias e personagens sejam essas produzidas em qualquer parte do globo terrestre.
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