Depois de No More Heroes III fazer a sua estreia em 2021 como um exclusivo temporário na Nintendo Switch, o estúdio Grasshopper Manufacture resolveu potencializar o seu título lançando-o dia 11 de outubro de 2022 para PlayStation 5, PlayStation 4, Xbox Series X|S, Xbox One, PC. Nesta versão, os fãs podem esperar sobretudo diversas melhorias a nível técnico, as suficientes para dar vida à mente extravagante de Suda 51 que continua a apresentar aventuras divertidas, carregadas de humor e singularidade.

Travis Touchdown regressa ao papel de protagonista, mas desta vez, o anti-herói fica encarregado de proteger a Terra das poderosas garras do Príncipe Fu e da sua elite extraterrestre. FU, apesar de provar que poderia claramente atingir o seu objetivo, escolhe elevar a parada e Travis terá de o derrotar juntamente com os seus companheiros num torneio de classificação de super heróis intergalácticos, uma estrutura bem comum para os fãs da série, para este abdicar da Terra.

Na prática, estamos perante um objetivo muito simples: para termos acesso ao boss de cada capítulo e dar continuidade à campanha, o jogo obriga-nos a concretizar missões para angariar dinheiro. Apesar deste modelo parecer familiar, são as escolhas visuais e a mescla de conceitos que tornam a história mais animadora. Isto porque Goichi Suda, CEO da Grasshopper Manufacture, nunca escondeu a sua paixão pela cultura pop, especialmente pelo cinema, anime e videojogos. A continuação de No More Heroes é a prova disso, podendo-se notar semelhanças com a estrutura de uma animação japonesa, dividida por vários episódios acompanhados sempre de um genérico de abertura e de encerramento.

Ficamos a conhecer um pouco mais do que vai na mente de Suda 51, num podcast inserido na abertura de cada capítulo, onde Travis e o seu companheiro Bishop falam abertamente sobre os seus gostos e referências dentro do mundo do entretenimento que foram importantes para produção do universo de No More Heroes. Os personagens são as estrelas deste jogo. Tal como nos anteriores, temos personalidades excêntricas que as tornam distintas tanto para narrativa como para o combate. A apresentação dos antagonistas é igualmente algo admirável, sobretudo pelo modo de comunicar de cada um, lembrando o senso de humor de Akatsuki Yamatoya, utilizado na animação Gintama. Afinal, estamos diante do fim das aventuras de Travis, e a preocupação de Suda 51 com a narrativa é bastante percetível, mais especificamente no seu guião que exibe momentos de humor inteligentes e acessíveis ao jogador.

Em No More Heroes III a jogabilidade comparada a outros jogos da série, apresenta algumas melhorias significativas. O combate Hack and Slash continua a ser divertido mas com mecânicas mais rápidas e intuitivas, embora esteja longe da qualidade que Devil May Cry nos acostumou. Travis para além de contar com a sua espada laser e os seus golpes de luta livre, tem também a “Death Glove” que proporciona habilidades inéditas que podem por exemplo diminuir drasticamente a velocidade dos inimigos e não só. Além disso, temos agora as “Death Chips”, que acrescentam uma grande variedade de atributos e habilidades ao nosso anti-herói. A panóplia de inimigos é o que também torna a jogabilidade bastante prazerosa. Principalmente quando temos em campo vários inimigos que acabam por fazer com que o combate seja muito mais exigente.

Santa Detroy regressa no formato mundo aberto, dividida por cinco áreas diferentes, onde temos de realizar várias missões e tarefas mundanas, que em parte atendem ao propósito de nos entreter e de contribuir para juntar a moeda do jogo que pode ser usada na compra de itens para combate ou peças de roupa que mudam a imagem do nosso Travis. Parte das tarefas traduzem-se em mini-jogos que fazem parte do charme da franquia, tais como eliminar crocodilos gigantes, lutar contra alienígenas colossais, cortar relva ou desentupir sanitas, etc. Porém, ao fim de algumas horas a monotonia começa a dar de si, repetindo-se o mesmo ciclo de capítulo para capítulo. Infelizmente, este não é o único problema que podemos encontrar no mundo de No More Heroes. Durante a exploração, as zonas sofrem de um vazio constante e sem inspiração, semelhante ao que vimos na Nintendo Switch e que continua presente no port para as consolas da nova geração.

Quanto ao grafismo, não é surpresa nenhuma que esta versão, graças ao hardware das novas gerações, consiga uma melhor qualidade visual. Para além de correr a 60fps sem problemas, a imagem fica mais nítida, fazendo com que os movimentos em combate sejam mais evidentes. Ainda assim, não deixamos de encontrar algumas texturas morosas ou até mesmo datadas em certos elementos gráficos. No que diz respeito à banda sonora, esta destaca-se pela sua surpreendente diversidade em que nunca conseguimos adivinhar que género musical ouviremos a seguir. Desde faixas a lembrar o techno clássico de Detroit, passando por prog-rock, trance vertiginoso, hip-hop, electro, ou até mesmo r n’b, é sem dúvida uma compilação de estilos diferentes pelas mãos de vários compositores que demonstra na perfeição a ideologia de mescla e revivalismo que o diretor Suda 51 quis transmitir. A juntar ao bom acompanhamento sonoro encontramos também um maravilhoso voice acting tanto em inglês como em japonês.

Aproveitar o poder das restantes consolas foi uma mais-valia para este título: as melhorias no seu desempenho e na sua resolução fazem de No More Heroes III uma experiência mais apelativa e certamente divertida. Apesar de tudo, receio que a repetição cíclica gerada durante as missões possa de certo modo castigar os jogadores. No entanto, No More Heroes III é um título para ser recebido de mente aberta, que atenderá ao desejo dos fãs familiarizados com a pormenorizada excentricidade e criatividade de Suda 51.

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