Riqueza, Fama, Poder. One Piece, a majestosa obra de Eiichiro Oda que conseguiu reunir estas características celebra atualmente o seu 25.º aniversário e atravessa um momento de qualidade e destaque que jamais imaginaríamos. Certamente que os videojogos fazem parte deste rol de produtos, e One Piece Odyssey a produção da ILCA.lnc publicada pela Bandai Namco Entertainment promete continuar esta senda de grandes sucessos.

É comum encontrar na maioria das adaptações para videojogo de animes bastante repetição no seu gameplay, visuais algo datados e uma licença como o principal fator para o seu destaque e vendas. São raros os casos onde uma licença não foi o principal mote. JoJo’s Bizarre Adventure: Eyes of the Heaven e Dragon Ball FighterZ, são dois exemplos onde as produtoras foram mais além de um nome de prestígio. Enquanto o título de JoJo’s Bizarre Adventure atuou quase como uma sequela para JoJo’s Bizarre Adventure: Stone Ocean, Dragon Ball FighterZ fomentou interesse devido ao seu gameplay. Ao longo dos anos One Piece recebeu inúmeras versões para videojogo, porém, apenas um punhado das mesmas podemos considerar como produtos de qualidade.

Lim é a responsável pela perda de habilidades dos Chapéus de Palha

Numa altura em que One Piece conquistou o seu merecido destaque qualitativo e quantitativo, a Bandai Namco Entertainment e a ILCA formaram uma aliança para nos brindarem com uma aventura bem fora dos padrões habituais de One Piece. Este elemento pode parecer ainda mais bizarro porque o seu género é completamente distinto, dando azo a um total abandono da sua célebre ação frenética, ou seja, um JRPG do mais clássico possível por turnos. Veremos como a tripulação dos Chapéus de Palha se vai aventurar por mares nunca antes explorados.

É difícil situar One Piece Odyssey narrativamente na série, dado que os Chapéus de Palha já visitaram Dressrosa, e alguns dos seus elementos de escrita se contradizem não fazendo sentido situar o jogo canonicamente. Gosto de pensar em One Piece Odyssey como um dos seus geniais filmes, em que desfrutamos de uma história e eventos originais. Nesta grande odisseia, o capitão e a tripulação dos Chapéus de Palha naufragam na misteriosa ilha de Waford com um Thousand Sunny completamente desfeito. Escusado será dizer que esta ilha também esconde inúmeros tesouros e segredos.

Desde o seu início que One Piece Odyssey integra o “Power scalling” das personagens na sua própria escrita e contexto de jogo. Nesta fase os piratas são portadores de imensas técnicas poderosas e se fossem transitadas para as batalhas, as provas que o grupo teria de enfrentar seriam demasiado fáceis e sem desafio. Como se não bastasse, um dos objetivos desta aventura é a recuperação em pleno de todas as suas técnicas e poderes, que consequentemente contextualizam o objetivo principal a alcançar pelos jogadores.

Os cubos de habilidade são o principal foco da história

Para recuperarem os seus poderes, os chapéus de palha devem conquistar as suas memórias. Felizmente contam com a ajuda de Adio e Lim, duas personagens criadas pelo próprio Eiichiro Oda. Num cômputo geral constatamos que One Piece Odyssey é muito mais do que jogo que partilha um nome célebre na sua caixa, dado que apresenta uma história original mesmo que narre eventos bem célebres de alguns dos seus melhores arcos, tais como o Water 7 ou o resgate de Ace. One Piece Odyssey promete reviravoltas interessantes nos momentos mais inesperados e desperta de imediato as atenções quer de novatos como dos fãs mais fervoroso mundo de One Piece.

One Piece Odyssey faz da sua aparente fraqueza uma das suas maiores virtudes. Estamos na presença de um JRPG do mais clássico possível, caso não saibam a ILCA foi a produtora responsável pelo grande Dragon Quest XI: Echoes of an Elusive Age. Este elemento é imediatamente identificado não só nas batalhas por turnos como na sua própria estrutura. Combates com um ritmo metódico, exploração de masmorras e resolução de enigmas, criação de itens e outros objetos são características base de qualquer JRPG clássico.

Embora o combate de One Piece Odyssey partilhe imenso de títulos assentes em elementos contemporâneos, certas mecânicas são apresentadas para o distanciar da sua ancoragem. O jogo presta uma especial atenção ao fluir dos combates. À semelhança de Final Fantasy X, a trilogia de Xenosaga, ou os jogos Trails of Series, os jogadores podem avistar de antemão os efeitos e turnos quer de aliados como de inimigos para se precaverem ou introduzirem novas táticas no combate. Porém, One Piece Odyssey não vive unicamente de ideias pré-estabelecidas. As próprias posições das nossas personagens em combate são uma das suas características. As mesmas colocam as personagens em situações dramáticas e convidam o jogador a desempenhar uma tarefa específica para a conquistar e ganhar experiência extra no rescaldo da vitória. Cada personagem também possui diversas características em combate que as distinguem umas das outras numa dinâmica de pedra, papel e tesoura, que de imediato polvilha as batalhas com diversidade e qualidade.

Estes elementos poderiam ser vastamente explorados se o jogo tivesse uma maior dificuldade. Não importam quais são as barreiras que os Chapéus de Palha têm de atravessar, todas são facilmente transponíveis mesmo sem “grind”. É sabido que One Piece tem um apelo também para o público jovem, mas julgamos que um jogo sem desafio se torna contraproducente para qualquer demografia. Seria uma boa ideia a Bandai Namco Entertainment lançar uma atualização onde introduz novos níveis de dificuldade porque com tanta variedade nas mecânicas seria incrível poder usufruir de um combate estratégico e revigorante no seu género.

Os elementos de One Piece Odyssey não começam e terminam nos campos de batalha, fora destes podemos utilizar cada uma das personagens para usufruir das suas habilidades. Luffy pode alcançar lugares e objetos distantes através dos seus braços de borracha, Chopper pode explorar pequenos orifícios e Franky criar pequenas pontes para unir um ponto a outro.

As batalhas contam com uma interessante mecânica de pedra, papel, tesoura

Adicionalmente, existem personagens que oferecem habilidades especiais nos acampamentos. Os efeitos são característicos das suas personalidades e elementos na série. Usopp pode criar munições que prejudicam os inimigos, Nico Robin pode fundir acessórios para aumentar os seus efeitos, e Sanji cozinhar pratos para oferecer diversas bonificações e estados em combate.

Como tal como em qualquer JRPG clássico que se preze, One Piece Odyssey também conta com tarefas secundárias. Convenhamos, neste parágrafo também poderia existir mais variedade. Sentimos que existem demasiadas “Fetch Quests” e as “Bounties” devido à dificuldade global do jogo não representam perigo para qualquer perfil de jogador. Se estes elementos fossem mais trabalhados poderiam conduzir One Piece Odyssey para portos muito mais qualitativos. Isto porque One Piece Odyssey é um grande jogo de One Piece, mas infelizmente precisava de mais tempo a velejar para ser um grande JRPG.

O jogo também é muito mais curto do que os normais no género, visto que apenas foram precisas 35 horas para assistirmos à sua conclusão. No entanto, com as atividades secundárias, cubos de habilidades e achievements para colecionar, o seu tempo de jogo é vastamente aumentado. Infelizmente o jogo também conta com algum backtracking nos momentos mais inóspitos. Não fadiga, mas sentimos ser desnecessário na maioria dos casos, e um pretexto para aumentar o tempo de jogo com os recursos presentes no mesmo.

Outra característica incomum em One Piece Odyssey que é raramente encontrada na maioria dos jogos PC é o facto de estarmos diante de um jogo inspirado numa licença de anime que está bem otimizado. O jogo dispõe de um número maior de opções gráficas quando comparadas às que regularmente encontramos num jogo desta natureza. Além de resoluções até 4K, também conta com taxas de fotogramas desbloqueadas, e diversas opções gráficas, tais como filtros de antialisamento, qualidade das sombras, alcance de campo, qualidade pós-processamento de texturas e motion-blur. Também suporta rato e teclado, diversos comandos e conta com diversos presets gráficos para encaixar nos perfis de cada build. Felizmente, quer no nosso PC como no portátil, pudemos desfrutar do jogo sem quaisquer inconvinientes, erros ou instabilidades visuais.

O carisma e humor de One Piece é patente também neste jogo

Na nossa configuração no PC com todos os efeitos visuais ao máximo, o seu desempenho raramente oscilou dos 120 fotogramas por segundo. Quando passámos para o nosso Legion 5 Pro equipado com um processador AMD Ryzen 7 5800H, chipset gráfico NVIDIA Geforce RTX 3070 a 140w e 16 GB RAM, alcançamos sem problemas os 60 fotogramas por segundo a 2K (1440P). Contudo, e como a aventura de Chapéus de Palha suporta taxas muito mais elevadas, registámos 165 fotogramas por segundo constantes, para a alcançar tivemos de reduzir a resolução para 1080p (Full HD) e descer a qualidade das sombras e pós-processamento de texturas para “médio”. Achámos importante sublinhar este parágrafo e incentivar as produtoras de jogos baseados licenças de anime a irem mais além para servirem os jogadores com mais opções visuais e taxas de fotogramas superiores a 60.

Os visuais de One Piece Odyssey estão muito acima da média, temos personagens, humor e movimentos fielmente retratados, cenários incrivelmente vibrantes e detalhados, que combinam na perfeição com a fauna e a flora de Oda. No departamento sonoro encontramos mais um nome de destaque, isto porque todas as faixas musicais de One Piece Odyssey foram compostas por Motoi Sakuraba. Como seria esperado variam entre o épico, festivo e energético, algumas contam com os tradicionais cânticos deste ilustre senhor. Também sem surpresa o jogo apenas possui áudio em japonês com os seus seiyuu originais. One Piece Odyssey possui textos em 15 idiomas diferentes,um dos quais é o português do Brasil.

À semelhança de Gol D. Roger, One Piece Odyssey pode marcar o início de uma nova era para futuros produtos baseados em licenças de anime. Ao invés de jogarmos uma história que outrora fizemos até ao tutano, o jogo decide ser vanguardista e introduzir num novo género, momentos e mecânicas, todas envoltas num pacote de luxo que culmina num feito notável, criar o melhor jogo de One Piece até à data! Infelizmente se os elementos JRPG que suportam esta grande aventura fossem mais doseados e trabalhados certamente que colocariam One Piece Odyssey como um dos melhores jogos no seu género. 

Pros:

  • Aventura num género totalmente diferente e original
  • Vai além da sua licença
  • Selo de qualidade de Dragon Quest XI
  • História emocionante repleta de reviravoltas inesperadas
  • Introduz o seu género no contexto da história
  • Batalhas repletas de conceitos numa dinâmica de pedra, papel e tesoura
  • Caracterização de personagens e elementos da história e mecânicas de jogo
  • Jogo sólido e otimizada para o PC repleto de elementos visuais
  • Faixas musicais compostas por Motoi Sakuraba
  • Modelos e grafismos requintados
  • Seiyuu originais
  • Diversas opções de idiomas nas legendas

Cons:

  • Jogo sem desafio
  • Backtracking contraproducente
  • Atividades secundárias demasiado semelhantes
  • Pode ter pouca duração para os fãs de JRPGs
Bruno Reis
Vindo de vários mundos e projetos, juntou-se à redação do Otakupt em 2020, pronto para informar todos os leitores com a sua experiência nas várias áreas da cultura alternativa. Assistiu de perto ao nascimento dos videojogos em Portugal até à sua atualidade, devora tudo o que seja japonês (menos a gastronomia), mas é também adepto de grandes histórias e personagens sejam essas produzidas em qualquer parte do globo terrestre.
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