Os Phantom Thieves of Hearts estão de regresso! O JRPG do P-Studio da Atlus que agora manifesta elementos associado ao estilo Musou e desenvolvido pela renomeada equipa da Omega Force (Dynasty Warriors e Hyrule Warriors: Age of Calamity), traz consigo a continuação do vasto universo de Persona 5 sem perder a sua essência, aliado a um grupo heterogéneo de heróis que se unem para curar o coração da sociedade altamente inflamado pela crueldade proveniente das tecnologias do mundo atual. Lançado originalmente a 20 de Fevereiro de 2020 no Japão pelo nome de Persona 5 Scramble: The Phantom Strikers está agora no Ocidente desde o dia 23 de Fevereiro de 2021 intitulado de Persona 5 Strikers.

Depois do jogo anterior representar um ano letivo complexo, como é habitual para a série Persona, com regresso de Joker a Tóquio meses depois dos eventos de PS5, os heróis desta incrível aventura resolvem aproveitar e tirar as férias que tanto mereciam ao longo do verão. Apesar da comemoração, durante aquela noite, Lavenza (a residente do Velvet Room) reaparece avisando o protagonista de uma “potencial calamidade” que pode acontecer ao “futuro que ele recuperou”. Depois de isso acontecer, Joker, Morgana e Ryuji viajam para o interior de Shibuya com propósito de comprar ferramentas de acampamento sob o concelho de EMMA, uma nova Inteligência Artificial popular pela sua assistência digital que consegue fazer previsões incrivelmente precisas e respostas para a vida quotidiana. No entanto, cativados por um evento público organizado por uma ídolo conhecida por Alice Hiiragi, Joker recebe pelas mãos da mesma um cartão de visita para “Wonderland”. Este cartão convida o leitor a inserir a palavra-passe “Wonderland” no aplicativo EMMA, e para surpresa dos três, dirige-os para um local desconhecido no Metaverso que no qual encontram outras pessoas do mundo real a terem os seus desejos roubados, nada mais, nada menos pelas ordens da própria ídolo Alice.

A aventura expande-se a partir daqui, onde os jovens em viagem pelas diferentes cidades do Japão terão de por vezes, parar a diversão para investigarem a verdade por detrás da origem das Prisões. Ao contrário do que poderíamos esperar, Persona 5 e Strikers partilham dos muitos elementos que fizeram a série sobressair. Alguns deles como a exploração, o argumento bem construído e os temas apoiados em situações reais continuam intactos sem perderem a qualidade que tanto os fãs apreciam até hoje. Estes mantêm-se integrados nos mesmos temas sociais sombrios que assolam a sociedade japonesa. Em Strikers, em algumas das situações, vamos confrontar celebridades problemáticas com desejos nocivos ou políticos oprimidos que nos vão transportar mais uma vez para dimensões distorcidas do metaverso, criadas a partir dos desejos negativos do coração das pessoas.

As dimensões cognitivas paralelas ao mundo real agora apresentam-se pelo nome de Prisão. Aqui, são concebidos e governados pelos monarcas. Eles são indivíduos cheios de mágoa que utilizam o metaverso para alcançarem a vingança contra aqueles que os prejudicaram de alguma forma. O convívio entre os protagonistas com os monarcas carrega uma carga especialmente dramática e emotiva, refletindo as verdadeiras razões dos seus atos. Como já é habitual da Atlus, os boss em Persona 5 Strikers continuam a ser complexos, repletos de situações traumáticas que serão familiares para alguns jogadores. Acima de tudo, a representação da nossa realidade onde a difamação social no mundo digital causa graves transtornos a nível pessoal, é aqui bastante evidente.

Já não é nenhuma surpresa a quantidade de personagens jogáveis que podemos encontrar neste estilo de jogo. Aqui, a dinâmica está simplesmente focada em nove guerreiros e um de suporte, sendo que dois deles são novidade para o elenco. Sophia é uma IA que se autodenomina de companheira da humanidade ao estilo de EMMA com quem Joker e Ryuji se deparam no início da primeira masmorra. A sua presença será notada dentro do telefone de Joker no mundo real, mas também como um novo membro do grupo no interior do Metaverso. É a partir dela que virão os maiores julgamentos de valor, até porque sem conhecimento do que significa ter emoções, acaba por automaticamente dizer aquilo que sente sem colocar filtros. Por outro lado, temos o investigador da polícia de Kyoto, Zenkichi Hasegawa, o experiente do grupo que será uma mais-valia para estarmos informados sobre as investigações. Ambos adequam-se de forma perfeita ao jogo e deixam honoravelmente as suas marcas no enredo. Sophia rapidamente se tornou uma das mais carismáticas entre os protagonistas, ao passo que as provocações entre o investigador e os Phantom Thieves se tornam calorosos momentos de humor.

As Prisões, ainda que sigam algum do conceito dos Palácios, como o método de infiltração, têm alteradas algumas das suas estruturas. Estes novos reinos são essencialmente parecidos às paisagens labirínticas mentalmente distorcidas do quinto título da série, mas maiores e mais dinâmicas. No seu interior deixaram de existir tesouros, para dar lugar aos Core, objetos com um contexto pessoal conectados à vida dos Monarcas que dão acesso a outras áreas no interior das masmorras. Ainda assim, enquanto percorremos os corredores, vamos continuar a achar inúmeros itens, cofres e locais ocultos. Outra das mudanças está ligada ao envio das Calling Card. Agora, antes de as enviarem para o antagonista principal de cada prisão, temos de regressar ao mundo real para irmos de encontro ao Trauma Cell de cada Monarca onde vamos ter de enfrentar um boss resistente que guarda as chaves da entrada para o confronto final de cada prisão.

Contudo, a maior novidade que vamos encontrar neste título é o combate. As mecânicas de combate de Persona 5 Strikers agora misturam o conceito hack and slash e a fórmula RPG de estratégia de Persona 5 ainda que de forma acessível, mas diferente. Os combates por turnos dão espaço a cenários maiores e em tempo real com centenas de shadows por lutar, embora que não sejam as quantidades gigantes de inimigos como é corrente na série Dynasty Warriors. Entre acrobacias e combinações para manter o grupo são e salvo, será fundamental descobrir as fraquezas dos inimigos para os deixar indefesos e alternar entre os membros do grupo no momento certo. Os Phantom Thieves também usufruem de ataques mais velozes, esquivas e movimentos especiais. No entanto, o estilo RPG de Persona é sentido quando queremos aceder aos menus das habilidades dos Personas de cada personagem. Nesse momento o combate é pausado, permitindo o posicionamento tático da mira para podermos escolher o feitiço que queremos invocar de acordo com a quantidade de SP que contemos. O Baton pass, Showtime e o all-out attacks estão igualmente presentes. O Baton pass como o nome indica, permite alternar entre personagens em luta, o All-out Attacks permitirá que toda a equipa ataque simultaneamente, enquanto o Showtime, invoca um ataque mais potente manifestado por meio de uma incrível ligação entre o herói e o seu alter-ego. A ação permanece incrível, com um ritmo frenético na maioria dos encontros, porém não deixa de haver pequenos dilemas com os ângulos da câmara em ambientes sobrecarregados, o que é muito comum na maioria dos casos ligados ao estilo criado pela divisão da Koei Tecmo.

Temos também a possibilidade de selecionar quatro membros do grupo antes de entrar em campo. É relevante escolher com atenção os elementos que serão mais eficazes contra os inimigos para trazermos o grupo mais eficaz. Cada membro do Phantom Thieves transporta algum valor para a equipa, e é por isso mesmo que devemos usar cada um deles em diferentes pontos do jogo. Como por exemplo, algumas prisões manifestam inimigos que são fracos à luz ou ao fogo, tornando-se um lugar privilegiado para Ryuji e Ann.

Com ausência dos social link (Confidant em PS5), dispomos de outros métodos de melhoria mais simplificados para a performance do grupo. Esta passa por atualizar o novo sistema BOND gerado unicamente para Strikers. Este sistema permite que os membros do grupo beneficiem de vantagens exclusivas, pela troca de pontos especiais que podem ser reunidos quando vencemos batalhas ou mesmo ao longo das interações ou progressão da história para desfrutarmos de melhorias no HP, bónus durante a utilização do baton pass ou até de vantagens físicas de alguns dos heróis.

A dificuldade de Persona 5 Strikers é outro ponto relevante para os veteranos, mas demasiado intenso para principiantes. Na maior parte das vezes, os encontros podem ser complicados principalmente contra uma equipa reduzida de inimigos que indica por norma que são mais trabalhosos ou os boss principais, sendo aconselhável evoluírem os níveis dos vossos personagens ou aventurarem-se nas primeiras horas de jogo no modo fácil do jogo.

Durante os tempos livres, enquanto Joker e os seus amigos desfrutam das férias de Verão, P5 Strikers comporta-se de forma idêntica ao original. Através da nossa caravana vamos passar por diferentes locais do Japão. É um dos elementos atrativos deste jogo que nós trará diferentes paisagens como foi entregue no seu título anterior. Além disso, vamos cozinhar, poder conhecer novas pessoas e aprofundar as amizades com os companheiros, interagir com os objetos ou comprar novos itens. A partir deste processo conseguimos receitas, itens poderosos para usar nas prisões e melhores equipamentos para os Phantom Thieves.

Por fim, como em PS5, Joker continua a ser o único com o poder de controlar mais de um Persona de cada vez. Apesar da reduzida lista de Personas comparada à anterior, com o retorno da Velvet Room nas mãos de Lavenza, é possível criar a partir da fusão mais uma vez outras Personas de alto nível com várias habilidades elementares. Deste modo, a única maneira de conseguirmos outras Personas para este feito, será através da derrota dos inimigos, e não a partir de negociações, o que torna a tarefa mais exigente para os fãs que decidirem preencher a lista completa de Personas.

Quando falamos sobre o audiovisual, é impossível passar ao lado da criativa banda sonora de Persona. O trabalho de Shoji Meguro e Atsushi Kitajoh em Persona 5 Strikers continua a ser envolvente e incrivelmente energético. Torna-se inevitável em certas situações não pausar o jogo para continuarmos a apreciar a sonoridade. Do mesmo modo, o estilo gráfico de Strikers continua a fazer jus ao seu antecessor. Os acontecimentos principais mantêm igualmente a mesma animação cativante com o seu próprio estilo visual que se pode de igual natureza presenciar quando percorremos os menus vibrantes do jogo. Em grande parte, a qualidade da animação está soberba mas em contrapartida, em algumas cenas encontramos situações em que o ambiente apresenta texturas básicas bastante visíveis, dando a entender que esta nova aventura foi construída a partir da versão original de Persona 5.

Strikers mantém o ADN genuíno de Persona por completo. Como muitos outros spin-offs da série, a história envolvente com valiosos ensinamentos, embelezada num ambiente estonteante e uma banda sonora incrível, são mais do que motivos para regressarem a esta série derivada do universo Megami Tensei. Apesar das mecânicas em combate serem diferentes, as produtoras nipónicas conseguiram descobrir a melhor forma de manter a envolvência do combate de Persona 5 mas também de criar um diferente musou que conseguiu ser uma lufada de ar fresco. Persona 5 Strikers é uma aposta que recomendo, principalmente para os fãs assíduos da série.

O RPG de ação está disponível para PlayStation 4, Nintendo Switch e PC via Steam.

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