O mais recente lançamento de Pokémon Legends: Z-A na Nintendo Switch e Nintendo Switch 2, surge com o propósito de revitalizar a série, combinando exploração em mundo aberto, batalhas mais dinâmicas e uma abordagem renovada. Mas será que consegue superar as críticas dos últimos anos e entregar uma experiência verdadeiramente renovada?
Diferente dos seus antecessores, Pokémon Legends: Z-A decorre inteiramente em Lumiose, uma cidade inspirada em Paris, onde os humanos e Pokémon coexistem em harmonia. A narrativa, que funciona como uma continuação direta de Pokémon X/Y, embora não exija conhecimento prévio desses títulos, centra-se nos Jogos ZA Royale, no mistério que envolve os Pokémon selvagens mega evoluídos e na ligação entre Zygarde e o enigmático dono do Hotel, AZ.
Apesar de interessante e acessível até para os jogadores mais jovens, o enredo, principalmente o mistério em torno das Mega Evoluções, acaba por não ser totalmente explorado, deixando a sensação de que poderiam ter ido mais além. Felizmente, o jogo compensa essa ausência com uma série de pequenas histórias e um elenco de personagens secundários bastante cativante. Entre figuras carismáticas e outras mais extravagantes, as interações com os colegas e aliados dão vida à cidade e acrescentam profundidade à experiência, tornando a jornada mais envolvente.

Embora Lumiose não seja uma cidade particularmente vasta, oferece várias áreas para explorar, repletas de pontos de interesse, tais como lojas de roupa, terraços dos prédios, mercados, centros Pokémon e outros espaços onde as criaturas se integram naturalmente no quotidiano. É comum ver Kakuna a repousar nas árvores, Trubbish a remexer nos contentores dos becos e Magikarp a chapinhar tranquilamente pelas águas. À primeira vista, a cidade parece animada, mas essa ilusão quebra-se com o tempo, o mundo é, na verdade, rígido, estático e labiríntico, com ruas e praças que rapidamente se tornam indistintas.
Ainda assim, está povoada por uma grande variedade de Pokémon e personagens com quem podemos trocar breves conversas. Estes pequenos diálogos ajudam a construir o mundo e dão maior credibilidade ao ambiente que nos rodeia, aprofundando a relação entre humanos e Pokémon e os desafios da sua convivência diária.
O jogo inclui várias ligações a Pokémon X/Y, personagens secundárias estão de volta, há menções a eventos passados e o lendário Zygarde volta a ter grande importância para a narrativa.
Dentro de Lumiose City temos ainda acesso às Wild Zones. Apesar de também encontrarmos criaturas a vaguear livremente pela cidade, que podemos enfrentar ou capturar, estas zonas funcionam como pequenos ecossistemas autónomos, cada um com espécies únicas e particularidades singulares. As primeiras áreas são relativamente simples e planas, mas, à medida que avançamos, surgem locais mais verticais, cheios de recantos, segredos e uma densidade de Pokémon tão elevada que é difícil evitar ser atacado.
O sistema de captura introduzido em Pokémon Legends: Arceus regressa em força. Podemos capturar Pokémon em abundância simplesmente atirando pokébolas, aproveitando a vegetação e outros elementos para nos escondermos. Também regressam os Pokémon Alfa, versões maiores e mais poderosas de certas espécies, que oferecem um desafio adicional e até recompensador.

Explorar as Wild Zones serve fundamentalmente para aumentar o nosso pokédex e como preparação para os grandes objetivos do jogo: os confrontos do ZA Royale e as batalhas contra os Pokémon Mega Evoluídos. Estes “torneios” funcionam como uma espécie de competição por rankings, em que os jogadores começam no Rank Z e devem progredir até ao Rank A.
À medida que a noite cai sobre Lumiose, novas áreas da cidade são assinaladas a vermelho no mapa, transformando-se em Battle Zones. Nesses locais, qualquer treinador que nos veja desafia-nos automaticamente, o que obriga a movimentar-nos com cautela e a procurar a melhor oportunidade para atacar primeiro e garantir vantagem contra o seu Pokémon. As vitórias concedem pontos, e, ao atingir o limite de um determinado rank, temos de desafiar um treinador específico para avançar na classificação.
Tal como acontece nas Wild Zones, também as Battle Zones evoluem com o avançar da campanha, tanto pelo aumento da dificuldade dos treinadores como pelo próprio design das áreas. As estruturas tornam-se mais verticais, os espaços mais complexos e as oportunidades de surpreender adversários menos previsíveis, o que torna a exploração mais intensa e dinâmica. Embora seja possível vaguear livremente e lutar contra todos os oponentes que encontramos, é recomendável procurar cartas que desbloqueiam missões e bónus de pontos, adicionando variedade ao ciclo de combates.
O problema é que após várias horas, o sistema de progressão por ranks começa a soar repetitivo, algo que me fez sentir falta dos minijogos presentes em Pokémon Scarlet & Violet, que quebravam melhor o ritmo entre combates.
As lutas contra os Pokémon Mega Evoluídos, porém, elevam o nível de diversão e desafio. Além de termos de estar atentos às orbes e à barra de Mega Evolução, é necessário desviar de ataques e reagir rapidamente às mudanças de ritmo. Há aqui uma componente estratégica sólida: escolher a equipa ideal, identificar os pontos fracos do inimigo e adaptar a nossa abordagem em tempo real é essencial para vencer. São os confrontos mais intensos e imprevisíveis, que se destacam como alguns dos momentos mais empolgantes da aventura.

Aproveito para falar do sistema de combate de Pokémon Legends: Z-A, que expande as bases introduzidas em Arceus e as transforma em algo mais divertido, dinâmico e visualmente empolgante, sem perder a vertente estratégica que marca a série. As batalhas decorrem agora em tempo real, aproximando-se bastante do que vemos no anime. Durante os confrontos, podemos movimentar-nos livremente dentro de uma área delimitada, enquanto os nossos Pokémon nos acompanham, desde que não estejam a executar uma ação. Este detalhe é particularmente útil para evitar ataques inimigos ou escapar de habilidades que permanecem ativas numa determinada zona por alguns segundos. Além disso, o nosso protagonista pode desviar-se, já que os Pokémon selvagens também o atacam diretamente.
O museu da Lumiose City apresenta uma exposição dedicada ao passado de Pokémon, incluindo peças de Pokémon Legends: Arceus.
Para realizar ataques, é necessário mirar o inimigo e escolher o movimento desejado. Cada ataque exige um breve tempo de carregamento após ser invocado, o que adiciona uma camada extra de planeamento às batalhas. É fascinante observar os movimentos dos Pokémon e os efeitos dos golpes em tempo real, exigindo uma atenção constante para saber quando atacar, desviar ou reposicionar-se. Também é possível trocar de Pokémon instantaneamente, uma opção que ajuda a evitar danos ou adaptar-se rapidamente à situação.
Este “novo” sistema de combate reforça o elemento tático da série. A transição de um modelo baseado em turnos para um formato mais direto e em tempo real não retirou profundidade, pelo contrário, acrescentou-a. Todos os elementos clássicos permanecem presentes: itens equipáveis com efeitos passivos, itens de cura, vantagens de tipo e gestão de recursos continuam a desempenhar um papel primordial. Dominar este estilo de combate mais atual é certamente desafiante, sobretudo para os fãs de longa data. À primeira vista, pode parecer simples mas à medida que avançamos, o jogo vai entregando novas mecânicas e inimigos mais astutos, oferecendo momentos intensos e de pura diversão.

Para quem está a jogar ou viu os trailers, percebe que Pokémon Legends: Z-A não representa um avanço técnico em relação a outros exclusivos da Nintendo. Parte dos elementos são artisticamente descompensados e isso torna-se ainda mais evidente devido à constante presença dos mesmos. Todas as áreas da Cidade apresentam-se muito semelhantes entre si, tornando a navegação confusa, o que obriga a recorrer frequentemente ao mapa. Alguns pontos de interesse espalhados pela cidade não se destacam visualmente como seria desejável, sobretudo devido à falta de detalhe. Essa ausência torna-se ainda mais evidente quando observamos o horizonte a partir do topo de um edifício, onde se nota claramente a pouca atenção dada aos aspetos visuais de Lumiose.
As texturas em muitas zonas parecem imagens planas aplicadas sem empenho, transmitindo uma sensação de vida limitada ao cenário. Em contrapartida, os Pokémon e as personagens estão trabalhados com pormenor, revelando o cuidado e carinho dedicados a estes elementos, algo que gostaríamos de ter visto replicado nos elementos decorativos e arquitetónicos. Este problema não é novo, já se notava em Pokémon Scarlet & Violet, e parece que os pedidos da comunidade sobre melhorias gráficas não foram completamente atendidos. Do lado positivo, o jogo corre perfeitamente na Nintendo Switch 2 com os 60 fps de forma estável, com tempos de carregamento rápidos, garantindo uma experiência fluida.
Já a banda sonora evidencia toda a qualidade dos compositores, algo habitual para a série. Temos temas novos de excelente qualidade e músicas conhecidas dos jogos Pokémon adaptadas a um tom francês, reforçando a identidade de Lumiose e criando uma atmosfera agradável durante a exploração e as batalhas. Quanto ao trabalho de voz, em Pokémon Legends: Z-A continuamos a sentir a ausência delas nos momentos chaves. Mais uma vez, as vozes trariam com certeza mais ímpeto às cenas principais, fazendo-as soar menos artificiais. Para ajudar, também sentimos falta de legendas em português, um detalhe que limita a acessibilidade e afasta parte do público que gostaria de desfrutar da história na sua língua. Numa série desta dimensão e importância, é difícil compreender a falta de atenção a algo tão essencial para a imersão do jogador.

Pokémon Legends: Z-A é um jogo desafiador e divertido, especialmente graças ao seu sistema de combate renovado. A narrativa, a exploração das Wild Zones, o sistema de progressão por ranks e as batalhas garantem várias horas de entretenimento.
Por outro lado, o jogo revela sinais de um trabalho preguiçoso. O ciclo de jogabilidade tende a tornar-se repetitivo e as áreas pouco detalhadas de Lumiose City impedem que a aventura brilhe como deveria. Tal como referi na minha análise de Pokémon Scarlet e Pokémon Violet em 2023, estes erros começam a tornar-se recorrentes na série, algo preocupante para uma franquia com o peso e o legado de Pokémon.












