Sem lar, sem rumo e sem ninguém para servir… esta é a vida de um ronin, um guerreiro que vagueia pelo mundo com a sombra como a sua única companheira. Na sua essência este ser é um vagabundo em busca de algo que não é fácil de encontrar ou colocar por palavras. De certa forma todos somos ronins da vida porque tentamos encontrar o nosso próprio caminho e o nosso lugar no mundo ao longo da nossa existência. Mas será que a Team Ninja encontrou o seu rumo numa nova casa ainda mais exigente do que a sua de origem?
A história de Rise of the Ronin apresenta imensos paralelos com a popular série Rurouni Kenshin (Samurai X), porque também retrata o seu período histórico, o Bakumatsu, ou seja, a reta final da era Edo que antecede a famosa Restauração Meiji que serve de pano de fundo para ambas as obras. Embora Rise of the Ronin seja do mesmo estúdio que desenvolveu a série Nioh, aqui decidiu apostar numa narrativa com alto rigor histórico ao invés de enveredar e integrar ficção, Yokais e outras figuras mitológicas na sua história. O jogo retrata os últimos dias do implacável Xogunato Tokugawa e o início da modernização do Japão com a chegada dos chamados Navios Negros do ocidente. Na minha ótica esta abordagem favorece o produto final porque além de ser um jogo também atua como um autêntico testemunho histórico. Em Rise of the Ronin o jogador é convidado para encarnar uma das lâminas gémeas, uma dupla que guerreiros que foi acolhida pela Cutileira, que após uma conspiração governamental além de precisar de sobreviver às intrigas do shogunato também vai ter de lidar com membros que desejam restaurar a autoridade imperial e as invasões vindas do outro lado do mundo. Cabe ao jogador decidir se vai tomar uma abordagem mais ativa nos acontecimentos ou se vai manter-se neutro no meio desde vendaval de sangue, glória e espadas.
Apesar de ter um começo um pouco tumultuado e repetitivo, como o jogo pede emprestados alguns elementos da série Nioh o seu ritmo e mecânicas rapidamente melhoram, até porque toma algumas liberdades históricas sem destoar da representação histórica do Japão. Como muitos jogos em mundo aberto o jogador é atirado para uma série de missões primárias e secundárias para completar, eventos aleatórios para participar e dezenas de colecionáveis para reunir. Julgo que este é o primeiro jogo que a Team Ninja lançou com elementos de mundo aberto, por isso é normal que recorra ao caderno de apontamentos de jogos do género. Não foi de estranhar que no meio de mapas congestionados de ícones não tenha encontrado inovações neste quesito.
A história de Rise of the Ronin pode ser concluída entre 25 a 30 horas, dependendo do nível de dificuldade escolhido e da habilidade do jogador. No entanto, com dezenas de missões secundárias, colecionáveis e desafios o jogo sem surpresa vai ultrapassar as 70 horas. O ambiente é bem construído e estabelecido, no entanto, as paisagens apesar de um tanto despidas não deixam de ser belas e relativamente bem elaboradas. O mapa não é muito vasto, e as três cidades principais, ou seja, Yokohama, Edo, e Quioto não estão interligadas diretamente embora existam meios de transportes, tais como cavalos, em cada cidade para a travessia. No entanto, cada arco narrativo transporta o jogador a uma dessas regiões, a viagem entre as três ocorre através de uma mecânica própria por isso recomendo “limparem” o mapa de ícones antes de passarem para a próxima cidade.
Respeitante a mecânicas, estamos perante um jogo da Team Ninja, por isso sem surpresas soube desde muito cedo que a jogabilidade seria um elemento de grande qualidade e destaque. À semelhança dos jogos da série Ninja Gaiden, o combate de Rise of the Ronin é também incisivo e cirúrgico, sendo que o nosso ronin está equipado com um gancho que pode ser utilizado para travessia rápida ao estilo da série Tenchu ou Sekiro: Shadow’s Die Twice. Contudo, o jogo retira as suas maiores inspirações da gameplay de outro jogo, uma vez que tal como em Ghost of Tsushima a política de combate consiste em reduzir a barra de resistência do inimigo para o executar com um golpe mortal.
O mesmo acontece com o jogador e para conseguir vencer um duelo o jogador é incentivado a aparar os golpes do inimigo em sucessão, embora possa também bloquear ou desviar. O equilíbrio entre desafio e acessibilidade foi bem ajustado, ao contrário do que esperava de jogos desta empresa, permitindo que os jogadores escolham a experiência que melhor se encaixa no seu perfil, existindo ao todo três níveis de dificuldade. No entanto, alguns bosses fazem com que o jogo sofra alguns picos de dificuldade.
Ao todo o jogador pode equipar sete armas principais no seu samurai errante, cada uma com estilos próprios e únicos. Armas secundárias, tais como bombas, shurikens e até armas de fogo atribuem mais verticalidade e opções de combate ao jogador. Apesar de no papel este combate ser muito desafiante e satisfatório não consegue alcançar a sua plenitude devido a algumas inconsistências graves na inteligência artificial dos inimigos. Um paralelo que encontrei neste departamento foi com o recente Indiana Jones e o Grande Círculo, porque ambos apresentam mecânicas incríveis que são manchadas pela própria programação do jogo.
As texturas e o restante portefólio técnico também impedem o jogo de atingir patamares mais elevados. As animações e texturas medianas juntamente com um design artístico morno destoam imenso da beleza natural dos cenários, é pena porque julgo que com mais afinação poderia aproximar-se da beleza gráfica de Ghost of Tsushima: Director’s Cut, apesar de considerar ser um jogo recomendado para quem vibrou com a aventura de Jin. Porém Rise of the Ronin decididamente não vai seduzir o jogador pelo seu portefólio visual.
No entanto, o jogo toma outras vias para suavizar o seu departamento visual sendo a banda sonora um dos seus elementos. A mesma transporta o jogador imediatamente para o Japão feudal através da sua instrumentalização à base de shamisens, tambores, flautas e outros instrumentos tradicionais da época de onde retira registos.
Como Rise of The Ronin é um port de um jogo da Team Ninja originalmente lançado para a PlayStation 5 existe sempre o receio de que uma versão para o PC possa deixar algo a desejar em termos de recursos e desempenho. No entanto, ao contrário de outros jogos anteriormente lançados para o PC desta empresa pela Koei Tecmo este não é o caso. Além de suporte para resoluções nativas 4K e 8K, o jogo conta com uma panóplia de opções gráficas que vão desde o suporte ao ray tracing, taxas até 120 FPS, compatibilidade com monitores ultrawide e todas as tecnologias de super sampling da atualidade, nomeadamente a NVIDIA DLSS 3, AMD FSR 3 e a Intel XeSS 1.3.
No nosso computador com a configuração que já conhecem pude desfrutar da aventura das espadas gémeas sem nenhuns contratempos técnicos, exceto em raras ocasiões onde os shaders estavam a decompilar e assisti a algumas quebras de FPS, por isso deixo a recomendação de deixar compilar todos os shaders antes de iniciarem o jogo pela primeira vez para evitarem este efeito com mais frequência. Por incrível que pareça o jogo esta localizado em vários idiomas por texto onde constam o nosso português de Portugal e do Brasil. Contudo, nesta versão de análise apenas pude desfrutar do áudio em inglês e japonês. Segundo a página da Steam na versão final vamos ter suporte para áudio em Português do Brasil e outros idiomas, tais como o francês, espanhol e alemão. O jogo também possui em algumas instâncias feedback háptico através dos gatilhos do comando DualSense, mas comparado a outros títulos a sua implementação é quase nula.
Rise of the Ronin é uma aventura talhada para o jogador que anseia mais ação no Japão feudal. Apesar de apresentar um robusto sistema de jogo e uma gameplay profunda que permite acessibilidade a todos os perfis de jogadores, o seu grafismo, IA dos inimigos e um level design mediano não lhe permite descolar das alçadas dos mestres de onde apreendeu as maiores lições.