Estamos no final do período Edo, no “Bakumatsu”, uma altura bem conturbada na história do Japão, onde o Xogunato Tokugawa e as facções Anti-Xogunato se envolvem numa acesa luta pelo poder impulsionada pela chegada ao Japão dos países ocidentais. É neste fundo histórico que a Team NINJA nos apresenta Rise of the Ronin para PlayStation 5.

A maioria dos jogadores está familiarizada com os excelentes jogos da Team NINJA, desde Nioh a Wo Long: Fallen Dynasty, e uma das perguntas mais pertinentes que devem estar a colocar é, Rise of the Ronin é um Soulslike? E a resposta é não, Rise of the Ronin não é um jogo Soulslike. Achei importante responder logo no início da review a esta questão, pois acho que vai determinar a decisão de muitos em comprar ou não o jogo.

Rise of the Ronin não é um Soulslike

Embora Rise of the Ronin represente o explorar de uma nova fórmula por parte da Team NINJA, nada temam, pois, o seu estilo está bem patente em todo o jogo, aliás desde os momentos iniciais passando pela personalização do personagem e pelo estilo estratégico e reativo de combate, este é inconfundivelmente um jogo Team NINJA.

Rise-of-the-Ronin-criação-personagem-screenshot

No início de Rise of the Ronin somos presenteados com uma breve contextualização do período histórico que o Japão está a passar e saltamos para a personalização das nossas personagens, que é em tudo semelhante ao que já vimos a Team NINJA fazer anteriormente. E começam as escolhas, e este jogo está cheio delas, antes de partirmos para a nossa aventura temos de selecionar a afiliação da nossa personagem, desde “Assassínio” a “Sabotagem”, são 6 escolhas que têm pela frente e que vão determinar as habilidades iniciais e especiais da personagem e as armas com as quais vai ter melhores resultados.

Nioh 2 foi lançado em 2020 e Wo Long: Fallen Dynasty em 2023

Somos depois atirados para um pequeno mapa e aqui tive algum receio sobre o tipo de jogo que a Team NINJA me iria apresentar, vamos escolher o tipo de armas que vamos utilizar, passamos por uma espécie de tutorial a explicar as mecânicas de jogo e fazemos a nossa primeira missão, só então 1 hora depois, o jogo finalmente mostra a sua verdadeira cara e coloca-nos num enorme mapa aberto.

Retrato fantástico do Japão

Chegamos assim a uma excelente representação do Japão, desde o ambiente da época, passando pelos vislumbres do início da ocidentalização do Japão com a introdução da arquitetura ocidental nos edifícios, moda e costumes, tudo é credível, tudo foi muito bem implementado. É perfeitamente notório o cuidado que a Team NINJA teve na reconstituição deste período da história do Japão, e sem dúvida nenhuma que esta excelente construção de mundo serviu de base para poderem contar uma grande epopeia.

Tal como o nome do jogo indica nos somos um Ronin, um samurai que não tem um daimyo, ou seja, não possuía um mestre. Os eventos iniciais do jogo retratam isso, esta é a maior penitência que um guerreiro samurai pode sofrer, pois fica “preso” a uma vida desonrosa sem um sentido para a sua existência, no entanto, o nosso Ronin tem algo que o motiva, a perda da sua metade. Acontece que fazemos parte da “Ameaça Oculta”, um conjunto de guerreiros de elite que trabalha em duplas chamadas de “Lâminas Gémeas” e nos momentos iniciais do jogo perdemos a nossa parceira e faremos de tudo para conseguir reencontrar esta nossa metade perdida, nem que isso signifique moldar a história do Japão.

Vamos assim encontrar em Rise of the Ronin todo um mundo geopolitico que vamos ter de navegar e aqui as nossas decisões vão moldar o rumo da história. Podemos optar por uma posição neutra, podemos aliar-nos às forças governamentais ou então às facções Anti-Xogunato.

Rise of the Ronin tem uma enorme rejogabilidade

Vão ser múltiplas as ocasiões em que vamos ter pela frente decisões difíceis que significam alinhar-nos à um determinado grupo político. Narrativamente o jogo faz-nos duvidar muito do lado que escolhemos, podemos começar o jogo a pensar que os “rebeldes” são a força mais ponderada, para passadas algumas horas estarmos convencidos que o futuro do Japão passa pela abertura das suas fronteiras e costumes aos ocidentais. É claramente propositado este tipo de narrativa e acaba por retratar muito bem o “Bakumatsu” onde não existia propriamente um lado “certo”. Claro está que isto dá a Rise of the Ronin uma enorme rejogabilidade, desde optarem por uma via totalmente Anti-Xogunato como totalmente a favor do Xogunato, ou então, andarem a saltar entre estas duas vertentes, que é a principal narrativa que o jogo tenta impingir ao jogador.

Vão explorar cidades como Yokohama, Quioto e Edo (antigo nome de Tóquio)

Rise of the Ronin é excelente a mostrar ambos os lados da história. Vemos a resistência à ocidentalização e vemos a luta pelos costumes tradicionais do Japão, mas vemos também a marcada Xenofobia para com os estrangeiros, o racismo patente e que não importam os meios desde que os objetivos sejam alcançados, nem que para isso inocentes tenham de sofrer. A luta pelo poder, os vários países e os seus subterfúgios para dominarem os governantes japoneses e até doenças como a cólera são retratados no jogo.

Rise of the Ronin arquitetura ocidente

Embora narrativamente o jogo esteja pensado para dar ao jogador uma ampla liberdade de movimentos e afiliações políticas, tal estilo narrativo acaba por em alguns momentos ser contraproducente e mostrar algumas debilidades dos escritores da história. Com uma história a fragmentar-se em tantos arcos narrativos, muitas vezes surgem algumas incongruências, ou situações pouco naturais e forçadas, como estarem a combater um personagem e irem fazer uma missão do outro lado do mapa e subitamente encontram esse personagem que até vai na vossa equipa fazer uma missão. A situação é explicada e tentam racionalizar este tipo de situações, mas não deixa de passar um ar demasiado artificial num jogo que preza pela imersão do jogador na sua narrativa.

Associado a uma narrativa interessante temos um gameplay a condizer e Rise of the Ronin é daqueles jogos que é difícil de largar e as horas vão passar a voar.

Uma boa narrativa é pautada pelas suas personagens e em Rise of the Ronin são muitas, mas mesmo muitas. O jogo utiliza um sistema de “Laços” onde basicamente vão encontrando os personagens principais da história e gerindo a vossa relação com eles. Estes personagens podem participar em missões especiais da história combatendo ao vosso lado e cada um vai ter os seus próprios atributos e características especiais que terão efeito em combate. Devem por isso fortalecer os vossos laços com esses personagens obtendo assim múltiplas opções de fala que vos vão dar uma maior visão sobre o personagem e a história, e vão também ter a opção de dar prendas aos personagens fortalecendo assim os vossos laços. Claro está que um dos desafios é adequar o tipo de prenda aos gostos particulares de cada personagem. Conforme a vossa afinidade com alguns personagens cresce, são até desbloqueados alguns recursos do jogo.

Rise of the Ronin laços screenshot

Rise of the Ronin é um jogo tão vasto que ao contrário de muitos jogos, não apresenta imediatamente nas primeiras horas todos os personagens com os quais vão interagir, estes são apresentados faseadamente e passadas 30 horas de jogo ainda existem personagens para conhecerem e interagiram, impressionante.

Estes personagens podem ser encontrados num mapa enorme em mundo aberto, e quando pensam que ainda têm muito que explorar nesse mapa, é apresentado um outro igualmente grande e quando pensam que não há mais, eis outro mapa… Rise of the Ronin é massivo.

Rise of the Ronin é massivo

Rise of the Ronin Massivo screenshot

O mundo de Rise of the Ronin é o típico que encontramos em outros jogos de aventura em mundo aberto. Temos a nossa casa que podemos até decorar, tratar de um jardim e receber visitas, temos marcos para descobrir, missões principais, missões secundárias, combates para libertar certas áreas, áreas ligadas a fações, lojas variadas, segredos para descobrir, e muito mais.

Rise of the Ronin, um jogo de Checklists?

Cada jogo tenta introduzir a sua marca que o diferencia dos restantes e em Rise of the Ronin fiquei com a ideia de que o jogo foi buscar tudo o que os outros jogos têm, daí a afirmação em cima. Se o jogo A tem X, então Rise of the Ronin vai ter isso, se o jogo B implementou Y, então Rise of the Ronin também vai implementar isso, se o jogo C faz Z, então Rise of the Ronin também vai fazer isso. Rise of the Ronin consegue assim ser um jogo com muito mais que fazer do que os outros, mas são coisas que de uma maneira ou outra já vimos anteriormente.

Ok, já falai do sistema de laços em cima, o que vão encontrar mais no mundo de Rise of the Ronin? Vão ter um gancho para saltaram para cima de edifícios, correrem por telhados e até utilizar em combate, vão subir a torres para libertarem áreas até com um som relativamente familiar, vão ter uma planador nas costas que podem utilizar, um cavalo para percorrerem longas distâncias, vão ter áreas do mapa para visitarem e apreciarem a vista, se em Ghost of Tsushima têm pássaros e raposas, em Rise of the Ronin vão ter cães e gatos envolvidos nas mecânicas de jogo, vão poder mergulhar, e muito mais.

O que vai acabar por diferenciar Rise of the Ronin vai ser o sistema de combate aprimorado pela Team NINJA. Vamos ter um combate mais metódico e reativo, com um maior enfase no contra-ataque.

Dentro deste tipo de jogos Rise of the Ronin poderá ser um jogo mais difícil, mas nada ao nível dos anteriores jogos da Team NINJA. Aliás, vão ter a opção de ajustar a dificuldade entre três níveis e se um adversário se revelar muito difícil, a tradicional solução passa por fazer missões secundárias e aumentar o nível e poder da personagem.

Vão encontrar os típicos inimigos em quantidade que serão facilmente eliminados e depois terão os Boss, esses sim com uma dificuldade mais elevada, que podem até colocar um maior desafio a quem não está habituado a este tipo de gameplay. Aqui registei que em alguns casos temos Boss com níveis de dificuldade que podem frustrar alguns dos jogadores com alguns picos de dificuldade a surgirem em alguns encontros.

A maneira como o sistema de combate está construído vai privilegiar o contra-ataque e também o conhecimento prévio dos padrões de combate dos adversários, sendo que alguns dos adversários mais tardios no jogo ao longo do combate vão alterar o seu comportamento de ataque.

Impactante e desafiador

Se morrerem num combate voltam para o posto anterior de gravação e é criada uma nota sobre o adversário que vos matou, se o matarem recuperam a progressão conseguida, se morrerem novamente e não conseguirem a vingança, perdem a progressão.

A luta onde temos uma barra de vida e outra de vitalidade utilizada para desferir golpes especiais, pode parecer simples, mas por trás temos algo mais complexo. O jogador vai ter duas armas, duas principais e outra secundária, mas a juntar a isso vamos ter vários estilos de combate que podemos selecionar para essas armas se adequarem ao adversário que temos pela frente. E claro, temos muitos tipos de armas para estratégias diferentes, nas principais temos desde catanas, a sabres, passando por lanças e nas secundárias temos desde arcos a revolvers e espingardas passando por um lança-chamas e claro as confiáveis Shuriken.

Na armadura temos o tradicional, proteção para a cabeça, roupa, luvas, calçado e charms, e claro tanto a roupa como as armas têm vários tipos de raridade. E podem até fazer melhoramentos. Temos também objetos que vão utilizar para curar e aplicar buffs temporários. Achei este sistema adequado para o jogador casual, mas que também oferece um bom nível de profundidade para aqueles jogadores que querem mergulhar a fundo na otimização do seu personagem e estilo de combate.

Como qualquer RPG que se preze não poderia faltar a árvore de habilidades, e claro que Rise of the Ronin decide colocar 4 para o personagem, cada uma com 6 colunas para irem desbloqueando. Para apimentar ainda mais a coisa, para além dos pontos de habilidade que vão ganhando com o progredir do jogo e gastando na árvore, existem também habilidades que só podem ser desbloqueadas com “Pontos Específicos” que estão ligados a certas missões importantes ou relacionados com personagens individuais, forcando assim o jogador a enveredar pelas missões secundárias do jogo para desbloquearem certos tipos de habilidades.

Rise of the Ronin Árvore de Habilidades

Rise of the Ronin e o multiplayer

Rise of the Ronin tem um sistema de CO-OP que podem utilizar em missões. Se jogarem a solo vão para combate com personagens dos vossos “Laços” controlados pela IA do jogo, no entanto, podem pedir ajuda a outros jogadores, criando uma instância onde outros jogadores online ocupam a posição de um dos personagens controlados pela IA, ajudando assim naquelas missões mais difíceis. Vão ter também claro a opção de procurar por outros jogadores que colocaram pedidos de colaboração. Este foi o segmento do jogo que tive maior dificuldade em testar por sermos poucos jogadores online antes do lançamento do jogo.

Graficamente Rise of the Ronin é um jogo Team NINJA

Para o bem ou para o mal Rise of the Ronin é indiscutivelmente um jogo Team NINJA, é notório que se esforçaram para melhorar graficamente o seu motor de jogo, mas isso até acaba por destacar ainda mais as limitações técnicas do jogo.

Rise of the Ronin screenshot geisha

Em Rise of the Ronin encontramos uma enorme ambivalência gráfica, em certos momentos temos cenários belíssimos, uma atmosfera espetacular, um excelente retrato do Japão e da sua beleza, e noutros momentos temos objetos de uma baixíssima resolução, pop up de objetos e um campo de visão encurtado para esconder as limitações do motor de jogo. Quando num mesmo jogo temos excelentes componentes visuais lado a lado com elementos muito pobres, as partes menos bem conseguidas ganham mais destaque.

A componente gráfica é mesmo o calcanhar de Aquiles de Rise of the Ronin. No jogo vão ter três modos gráficos, um para dar prioridade aos FPS, outro para dar prioridade aos Gráficos e um terceiro ao Ray tracing.

Rise of the Ronin opções gráficas

O aspecto sonoro do jogo está adequado, combina bem com o que esperamos de uma história ambientada neste período histórico no Japão, mas coloquem o Idioma de Áudio em Japonês, o idioma em inglês está muito mal conseguido. Rise of the Ronin apenas dispões de legendas em português.

Aventura épica!

Rise of the Ronin é o que um verdadeiro jogo AAA deve ser, oferece ao jogador uma grande experiência que se prolonga por muito tempo, num mundo muito rico e interessante. É um jogo que de início me suscitou algumas dúvidas, mas que à medida que as horas foram passando me conquistou completamente e saio do jogo rendido ao que a Team NINJA conseguiu realizar. Rise of the Ronin é assim um jogo que é definitivamente Obrigatório para qualquer jogador quer seja fã do Japão, ou que simplesmente queira experiênciar uma aventura épica.

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