Desde que foi apresentado para a Xbox Series nos The Game Awards 2019 que Senua’s Saga: Hellblade II recebeu a atenção de todos pois é a continuação de um jogo que ganhou múltiplas distinções em todo o mundo caracterizado por um grafismo de elevada qualidade, excelente sonoplastia e uma protagonista intrigante. Passados sensivelmente 7 anos veremos se a Ninja Theory conseguiu replicar o efeito do primeiro jogo.

A história acontece uns meses após a conclusão da primeira aventura, com uma jovem guerreira Celta mais ciente e capaz que parte numa viagem até à Islândia para se vingar dos vikings que destruíram a sua aldeia e escravizaram o seu povo. Claro que esta não vai ser uma tarefa fácil, isto porque além de enfrentar criaturas baseadas na mitologia nórdica, Senua continua à mercê da sua Psicose, uma perturbação mental que faz com que as pessoas tenham uma percepção distorcida da realidade. No jogo este elemento é retratado através das fúrias, vozes interiores que não lhe dão um minuto de descanso e que oferecem “conselhos”, cabendo ao jogador discernir se estes conselhos são benéficos ou se vão mergulhar ainda mais a jovem nas suas próprias trevas. Senua’s Saga: Hellblade II introduz o jogador a este elemento de uma forma única, afirmo mesmo que nos últimos anos foi raro encontrar um jogo que me envolve-se pessoalmente desta maneira.

Os acontecimentos são demonstrados através de confrontos viscerais e visões aterradoras. Não faltaram momentos onde pude sentir o desespero e a angústia da protagonista através da representação esmagadora da sua condição que me ofereceu uma visão pessoal do que estava a observar e até sentir. Dizer que a experiência proporcionada por Senua’s Saga: Hellblade II foi mais ambiciosa, aterradora e imersiva que o primeiro jogo não é exagerado até porque a Ninja Theory contou durante o desenvolvimento deste jogo com a colaboração do Dr. Paul Fletcher, um profissional especializado no campo da psicologia humana da universidade de Cambridge.

Contudo, no departamento de jogabilidade pouco mudou. Novamente estamos perante uma aventura curta e linear, aproximadamente 12 horas, com uma abordagem ainda mais cinematográfica. À semelhança do jogo de 2017, a jogabilidade está dividida em duas partes: resolução de puzzles e batalhas. Os primeiros não parecem ter sofrido quase nenhuma evolução, pois vão convidar os jogadores a explorar cenários vastos em busca de formas para visualizar runas e outros elementos no ambiente. A principal diferença são os ângulos que quando são vistos de uma certa forma desbloqueiam novas vias de interação. A simplicidade também voltou a transitar para as batalhas uma vez que Senua volta a enfrentar inimigos em arenas fechadas em duelos que se sucedem e utilizando combos simples de apenas um botão, contudo, senti uma Senua mais responsiva nos momentos de defesa, esquivas e principalmente de aparas.

No entanto, as animações e as coreografias durante os confrontos foram vastante melhoradas porque foram adotadas técnicas de captura de movimentos mais modernas e refinadas, para terem uma ideia as coreografias de combate do capítulo anterior demoraram cerca de 2 dias a serem capturadas e com Senua’s Saga: Hellblade II foram precisos mais de 2 meses. Isto porque a Ninja Theory decidiu inspirar-se na célebre batalha dos bastardos de The Game of Thrones para as desenvolver e à semelhança do episódio final da galardoada série da HBO também estão a acontecer dezenas de acontecimentos à volta da protagonista. Durante estes momentos também senti uma física mais robusta e realista porque o peso das armas foi muito melhor conseguido e as expressões humanas super detalhadas permitiram sentir um realismo fora de série!

Este é realmente o mote de Senua’s Saga Hellblade II. Assim que calçamos as botas de Senua deparámo-nos com o primeiro jogo “verdadeiramente” desta geração. Estamos perante um dos jogos mais impressionantes no cômputo visual da história! Os modelos de personagens, as suas expressões faciais, efeitos de luz e sombras, cenário, enfim tudo é hiperrealista e único, podem crer que jamais viram e experienciaram algo semelhante num videojogo. Como se não fosse suficiente, a produção da Ninja Theory viajou até à Islândia para capturar com precisão os seus deslumbrantes cenários e até utilizou adereços e atores reais para criar um maior realismo.

Para fechar com chave de ouro o capítulo do realismo a talentosa equipa da Ninja Theory voltou a incluir o som como um dos principais elementos da jogabilidade. À semelhança do primeiro jogo, deixo a recomendação de desfrutarem Senua’s Saga: Hellblade II em total silêncio e através de headphones com tecnologia de som 3D para se imergirem nas vozes, no mundo e na pele de uma jovem perturbada por um pesadelo sem fim!

Evidentemente que para atingir todo este portento visual é preciso equipamento à altura e para descobrir se temos um PC que corresponde às ambições da Ninja Theory coloquei a nossa tradicional build composta por um processador AMD Ryzen 9 5950X, uma placa gráfica NVIDIA GeForce RTX 4090 MSI Suprim X, 64 GB RAM a 3600 MHz e uma unidade Samsung 990 PRO NVMe M.2 SSD frente a frente com Senua’s Saga: Hellblade II. Felizmente parece ser o caso porque pude usufruir desta curta mais intensa grande aventura em resoluções 4K entre 90 a 120 fotogramas por segundo com todos os elementos visuais, preset em “Alto” com as seguintes opções ativadas:

  • Anti-Aliasing: Alto
  • Qualidade Pós-Processamento: Alta
  • Qualidade dos Efeitos: Alta
  • Qualidade das Sombras: Alta
  • Qualidade dos Reflexos : Alta
  • Qualidade da Iluminação Global: Alta
  • Volumetria: Alta
  • Qualidade das Texturas: Alta
  • Distância da Visualização: Larga
  • Efeitos de Vegetação: Alta

Este portento visual apenas foi alcançado devido à tecnologia de upsampling NVIDIA DLSS 3 que juntamente com a geração de fotogramas e NVIDIA Reflex produziu uma das mais robustas e visualmente impressionantes aventuras interativas. Para quem não está em posse de uma placa gráfica NVIDIA RTX 4000, a Ninja Theory também disponibilizou todas as tecnologias de supersampling da atualidade, ou seja, Intel XeSS, AMD FSR 3 e até a TSR (Temporal Super Resolution) porque Senua’s Saga Hellblade II é um jogo produzido através do vanguardista motor de jogo Unreal Engine 5.

Outro elemento que merece o devido destaque é o suporte “HDR” que além de ter as opções; Gama e Brilho em separado, também possui uma secção muito interessante, especialmente pensada na adoção crescente de dispositivos OLED como monitores. A Ninja Theory teve o especial cuidado de acrescentar uma opção para reduzir o brilho dos efeitos estáticos como a “UI” do jogo para prevenir a retenção de ecrã, mais conhecida como “burn-in” em OLEDS. Realmente esta é uma opção que devia ser adotada com mais frequência em jogos, especialmente em RPGs visto que apresentam quadros, mapas e outros elementos estáticos no ecrã em quase todo o jogo.

Quem também não foi esquecido foram os jogadores com deficiências visuais que dispõem de algumas opções visuais para não ficarem fora desta pequena grande aventura. Além de um modo especialmente dedicado para daltónicos também estão disponíveis diferentes graus de intensidade de cor e mapeamento de botões simplificado, curiosamente a tradicional opção de “motion blur” está presente neste menu, algo que como sabem desativo logo de imediato em qualquer jogo. O que também está presente é um incrível suporte de idiomas onde constam o português e o português do Brasil, infelizmente apenas podemos contar com áudio em inglês nestes e nos restantes 26 idiomas. Para finalizar também possui um modo dedicado aos streamers onde desativa toda a banda sonora composta novamente por Heilung e David Garcia.

Senua’s Saga: Hellblade II é uma aventura que seduz qualquer jogador devido à sua incrível componente visual. A Ninja Theory conseguiu lapidar e polir o seu diamante em quase todas as arestas. À semelhança do primeiro Metal Gear Solid estamos perante uma aventura breve, mas muitíssimo intensa que vos vai acompanhar durante anos devido à sua escrita, personagens e momentos. Não deixem que as vozes vos desviem de experienciar este jogo incrível e podem crer que assim que assistirem aos seus créditos o vão colocar como um dos grandes jogos de 2024.

Esta análise de Senua’s Saga: Hellblade II no PC foi elaborada tendo por base uma cópia do jogo gentilmente cedida pela Microsoft.

Bruno Reis
Vindo de vários mundos e projetos, juntou-se à redação do Otakupt em 2020, pronto para informar todos os leitores com a sua experiência nas várias áreas da cultura alternativa. Assistiu de perto ao nascimento dos videojogos em Portugal até à sua atualidade, devora tudo o que seja japonês (menos a gastronomia), mas é também adepto de grandes histórias e personagens sejam essas produzidas em qualquer parte do globo terrestre.
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