Uma das mais estranhas adaptações cinematográficas acabou por se traduzir num enorme sucesso. Nada nem ninguém imaginaria que em 2020, Sonic The Hedgehog fosse aclamado pelos fãs e pela crítica, ainda mais quando neste meio as obras adaptadas deixam muitíssimo a desejar quer em caracterização como em narrativa. Dois anos depois e completamente sedentos por uma segunda parte, vamos descobrir se Sonic continua a percorrer a mesma estrada de qualidade.

Sonic The Hedgehog 2 foi o primeiro jogo a obter lançamento mundial em simultâneo

Esta continua sensivelmente onde a primeira parou. Sonic após derrotar o maléfico cientista Dr. Robotnik, dedica a sua vida a defender a pacata cidade de “Green Hills” e as suas áreas circundantes atuando como herói. No entanto, o seu amigo, Tom Wachowski “Senhor dos Donuts” indica-lhe que ainda é demasiado imaturo, e não mede as consequências dos seus atos mesmo que sejam nobres, já que ao capturar um simples bando de ladrões destruiu praticamente um quarteirão. Embora Sonic, possua um coração puro, ainda é muito cedo para se considerar um herói, mas sem pressa porque a sua hora haverá de chegar. O primeiro passo para tal, vai ser tornar-se responsável pelo lar dos Wachowski, enquanto estes viajam até ao Havai para participarem num casamento durante um fim de semana. Enquanto tudo parece calmo, uma raposa prodígio da tecnologia procura por Sonic, para o avisar que Knuckles o último da tribo que extinguiu a de Longclaw, também pisou o solo do planeta Terra juntamente com o megalómano Dr. Robotnik, que regressa determinado a livrar-se de Sonic de uma vez por todas!

Este póster é uma alusão à versão de Sonic The Hedgehog 2 ocidental da SEGA Mega Drive

A principal causa porque os jogos recebem lançamento em solo norte-americano às terças foi devido ao Sonic 2sday.

Sonic The Hedgehog 2, tomou como molde essencialmente os jogos para a SEGA Mega Drive, Sonic the Hedgehog 2, Sonic The Hedgehog 3 & Knuckles, e uns pequenos elementos das aventuras da SEGA Dreamcast, Sonic AdventureSonic Adventure 2, e um gostinho de Sonic Heroes. Embora não seguisse de fio a pavio os eventos destes jogos, criou algo bem mais interessante e único. Realmente temos de dar os parabéns ao trio de guionistas Patrick Casey, Josh Miller e John Whittington, e ao realizador Jeff Fowler, porque além de um conhecimento muito vasto da série e de toda a sua franchise, pegaram nos elementos base destes jogos e exemplarmente canalizaram-nos para o contexto do tempo e do espaço desta realidade cinematográfica sem perder pitada do seu carisma e identidade. Os eventos do filme mostram uma maior maturidade quando comparados aos que assistimos na sua prequela. Estamos também na presença de um filme com uma narrativa bem mais coesa e com uma escrita repleta de acontecimentos que mesmo com um ritmo bem mais característico dos jogos -especialmente aos do Sonic com as íris verdes- não os dispersou ou os atirou pela janela, um efeito que verificamos no recente Morbius, por exemplo.

Trailer português de Sonic 2 - O Filme

Também sentimos igualmente uma maior maturidade nos seus atores. Ben Schwartz, abraçou completamente este Sonic, e a sua personalidade irreverente, porém inocente. Jim Carrey, encarnou uma versão do Dr. Robotnik bem mista. Acreditamos mesmo que após o primeiro filme, o celebre ator, fez o seu trabalho de casa, e pegou nos diversos “media” de Sonic para não só se aproximar fisicamente desta personagem, como criar uma mais próxima e identificativa do cientista. Basicamente, Jim Carrey, bebeu a excentricidade e comicidade do Dr. Robotnik, que assistimos em The Adventures of Sonic The Hedgehog, e o narcisismo demente do Dr. Robotnik de Sonic SATam, criando um equilíbrio entre estas várias personalidades. O resultado é uma versão muito mais própria, onde não sentimos que estamos a assistir a um Ace Ventura de bigode, mas sim a uma personagem diferente das que são geralmente encarnadas pelo hilariante ator. Muitos franziram o nariz quando descobriram que Idris Elba iria encarnar o poderoso Knuckles The Echidna, já que o ator não encaixaria no perfil da personagem. Meus caros amigos, não só o conseguiu como ultrapassou todas as nossas expetativas. Idris, pegou nos elementos base do echidna vermelho, força bruta; ingenuidade; compulsividade; pouco senso comum e introduziu-os na personagem.

Tails foi criado para permitir que os irmãos mais novos pudessem jogar Sonic The Hedgehog 2.

Este misto produziu as maiores doses de comicidade do filme, já que o clima tribal de Knuckles contradiz com as “nuances” modernas deste novo mundo, se nunca viram Knuckles a ler textos no “ Facebook Messenger“, preparam-se para muitas gargalhadas. Quanto à nova estreia é que não sentimos quaisquer diferenças, isto claro no bom sentido. Colleen Ann Villard, a atual raposa “Tails” representou tal e qual o seu papel neste filme como nos outros “Media”. A inocência, coragem e entusiasmo do jovem companheiro de Sonic, foi sentida do início ao fim do filme.

Os três elementos da personalidade de Tails, foram essencialmente os temas base do filme. Sermos fiéis à nossa verdadeira natureza, escutarmos a nossa voz interior e chegarmo-nos à frente quando a nossa hora chegar. Devido a estes e muitos mais valores, comicidade e mensagens estamos diante de um filme que pode ser desfrutado quer por crianças, como adultos de coração jovem. É certo que estes adultos vibraram e continuam a vibrar com as aventuras de Sonic nos videojogos e outros “media”, tal como a sua prequela este filme está carregado de referências quer dos jogos, como do próprio universo que Sonic percorre nos seus quase 31 anos. Água disparada em jatos das tampas de esgotos (Sonic Adventure), a luta entre Sonic e Knuckles (Sonic X), pose da capa (Sonic Adventure) e até uma nova versão do SANIC (com contexto) Mean Bean (Dr. Robotnik’s Mean Bean Machine), manual de instruções (SEGA Mega Drive) são apenas algumas das inúmeras referências que albergam neste filme, poderíamos enumerar muitas, mas não queremos destruir surpresas.

Vê aqui Sonic a falar japonês no trailer de Sonic the Hedgehog 2

Devido a campanhas promocionais da MacDonalds, Sonic The Hedgehog 3 teve de ser dividido em dois jogos.

Surpresa, não foi decididamente o efeito que caracterizou o resto do elenco humano, a parte do “Sr. Rocha”, o braço direito que desenvolveu um fascínio -bem preocupante- pelo seu mentor maléfico durante a sua ausência na “Mushroom Hill Zone”, o resto não apresentou mudanças significativas, apenas desempenhou os seus papéis como constatámos no primeiro filme, talvez só mesmo Tom, apresentou ligeiras mudanças, se bem que quase mínimas. Algumas cenas com atores de carne e osso não produziram a mesma sinergia, embora o efeito comicidade fosse sentido jamais as veríamos num filme de Sonic. O mesmo não podemos dizer dos efeitos “CGI” deste animado filme. Não só Sonic regressa com registos maiores deste elemento nesta parte, como a caracterização de Tails e Knuckles, e uma grande, grande surpresa que vão assistir nos minutos finais desta longa-metragem estão sublimes. A caracterização felpuda das personagens continua a transmitir um efeito orgânico, não cria inconsistências nos seus ambientes e assenta que nem uma luva no contexto e nas várias personalidades de cada personagem. O sorriso irreverente de Sonic, o olhar inocente de Tails, e a inexpressividade de Knuckles foram os seus maiores registos.

O filme também expande o “lore” de Sonic The Hedgehog nos cinemas, numa cena que retira moldes de “comics” somos apresentados aos eventos que assistimos inicialmente no primeiro filme, onde uma tribo de echidnas luta contra Long Claw e o resto dos guerreiros para se apoderar da esmeralda mestra, que aqui é essencialmente o destaque narrativo, e o elemento que faz avançar a narrativa até à sua conclusão. Acreditamos mesmo que é neste ponto que a série televisiva de Knuckles se vai debruçar.

Sonic & Knuckles foi tecnicamente o primeiro “DLC” para consolas.

Tal como a sua prequela, este filme abre portas para um terceiro filme. Além dos seus minutos finais serem puro “hype” podem crer que a revelação final ainda vai ser muito mais, nada nem ninguém estava à espera de tais desenvolvimentos, por isso já sabem fiquem até ao final dos créditos, realmente é um crime se saírem a meio, e perderem os eventos mais marcantes do filme num grafismo 16 bit.

Sonic The Hedgehog 2 é verdadeiramente uma evolução natural em todos os seus elementos e departamentos, sendo que uma narrativa muito mais próxima e caracterização dos seus jogos são os seus maiores constituintes. Se o primeiro filme erradicou os pilares de Sonic no grande ecrã, este sem sombra de dúvidas que os cimenta não só no seu espaço como na indústria. Não paramos de sorrir, rir e emocionar do início ao fim, e acreditamos que tal como o primeiro pode ser desfrutado por fãs e novatos nas andanças de Sonic. É com toda a certeza que dizemos também que estamos diante da melhor adaptação de um videojogo para o cinema, pois superou completamente a sua prequela e tornou-se na régua qualitativa nesta crescente produção de obras.

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