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    Sonic Triple Trouble-16 bit – Análise

    Vivemos numa época curiosa, onde os próprios consumidores também desenvolvem os seus próprios jogos nos tempos livres. Noah N. Copeland, um grande fã dos jogos clássicos de Sonic The Hedgehog, desde muito cedo perguntou a si próprio as seguintes questões “e se Sonic 3 & Knuckles tivesse uma continuação?” e se essa fosse ainda na SEGA Mega Drive?”. Para responder a estas dúvidas, Copeland, inspirou-se num jogo do mesmo ano, mas que teve lançamento noutra consola, neste caso na portátil da SEGA.

    Sonic Triple Trouble (Sonic & Tails 2 no Japão) foi um jogo desenvolvido pela Aspect que recebeu lançamento originalmente para a SEGA Game Gear em 1994 -no Brasil recebeu também lançamento em 1997 para a SEGA Master System. Este acreditou que a narrativa do jogo de 8 bits se encaixaria numa possível continuação na de 16 bits. Após 5 anos de trabalho árduo, e com o jogo instalado nos nossos computadores, podemos afirmar com toda a certeza que Copeland produziu algo muito especial, muito mais do que um simples remake.

    Sonic Triple Trouble 16-bit decorre logo após os instantes finais de Sonic 3 & Knuckles. Com a ilha flutuante de regresso aos céus, um novo amigo, e depois de Super Sonic ter evitado que Dr. Robotnik se tivesse apoderado da Master Emerald, Sonic The Hedgehog e Miles “Tails” Prower decidem partir em busca de novas aventuras. Durante uma noite de tempestade a bordo do tornado, a dupla avista uma ilha remota e decide explorar. Muito surpreendidos descobrem que foi neste local que a maioria dos escombros do Death Egg e do Super Egg Robo caíram no planeta. Sem avisar e das sombras surge um Super Egg Robo comandando pelo Dr. Robotnik ainda mais mortífero que os seus antecessores. Sem pensar demasiado, Sonic, utiliza o poder das Esmeraldas do caos em sua posse e transforma-se em Super Sonic novamente para enfrentar o seu inimigo de longa data. Mais uma vez o ouriço dourado da lenda triunfa, mas um cientista que se preze desse nome tem sempre um plano B, sendo que utiliza um dos braços da sua invenção para devolver Super Sonic ao seu estado normal e separar as esmeraldas do caos do seu corpo. Robotnik quase se conseguiu apoderar das jóias não fosse uma estranha energia emanar no local, e apenas ter tempo para agarrar uma das esmeraldas e fugir. Assim que Sonic desperta, parte numa perseguição para evitar mais uma vez que o seu inimigo utilize as esmeraldas do caos para fornecer energia para uma nova e devastadora invenção, o Atomic Destroyer.

    Os próprios menus transportam-nos imediatamente aos períodos áureos de Sonic

    Como um problema não vem só, Sonic e Tails descobrem que Knuckles The Echidna voltou a aliar-se com o Dr. Robotnik e que Nack The Weasel, um caçador de tesouros, também está à procura das 7 esmeraldas do caos porque acredita que se tratam de pedras preciosas. Conseguirão Sonic e Tails conquistar este problema… em dose tripla?

    Em primeiro lugar é preciso salientar que a história original do jogo se afastou um pouco da sua origem, foi inspirada na adaptação dos comics da archie de Sonic The Hedgehog e teve de ser ligeiramente modificada para se ambientar à narrativa de Sonic 3 & Knuckles. Este efeito na teórica geralmente é contraproducente. Copeland é certamente uma exceção à regra, sendo que conseguiu unir as duas histórias de uma forma tão orgânica que parece que estamos mesmo perante a continuação de uma das mais aclamadas aventuras do ouriço azul. Em primeiro lugar é preciso destacar o imenso respeito que Copeland teve não só com o jogo original como também pelo período áureo da mascote da SEGA. Desde início ao fim, o jogo manteve um requinte e apresentação dignas de um jogo criado por uma empresa. Desde o próprio menu que junta elementos das versões ocidentais e orientais do jogo original, às opções onde pudemos avistar característica boxart dos jogos Sonic clássicos, até aos sprites que apresentam um misto entre “novo” e contemporâneo, se claro nos debruçarmos em produtos desta época.

    À vista desarmada, o jogo parece um romhack de Sonic 3 & Knuckles, dado que Sonic e Tails apresentam os mesmos visuais e o jogo possui a mesma direção artística dessa aventura. Contudo, quanto mais jogámos este remake mais nos afastamos desta visão redutora. É certo que Sonic Triple Trouble 16-bit resgata imenso do seu congénere de 8 bits, isto na sua superfície, porque a sua essência é mesmo de um jogo novo, e intrinsecamente segmentado. Contrariamente a qualquer jogo 2D de Sonic, podemos alternar entre Sonic e Tails a qualquer momento. Um fator que achámos bem interessante é que se controlarmos uma personagem com um dos escudos elementais e esta for atingida por um projétil, obstáculo ou badnick apenas a que controlamos o perde.

    Os jogadores poderão desbloquear diversos extras

    Na nossa partida tivemos momentos onde Tails se vingou dos inúmeros “Tails abuse” que recebeu ao longo de anos. A par da produção da Headcanon e de Chistian Whitehead -os produtores de Sonic ManiaCopeland, também sabe o segredo para produzir um jogo Sonic 2D requintado. Ao contrário de muitos jogos do ouriço criados por fãs, onde literalmente para terminar um nível apenas temos de caminhar para a direita, este não só polvilhou todos as zonas com um level design que rivaliza com o de Sonic 3 & Knuckles, como em cada desenvolveu e criou gimmicks estabelecidas do jogo original e outras totalmente novas que exploram o melhor de cada ato. O “cart” de Sunset Park, os potes e frutos de Meta Junglira, a prancha de Snowboard de Robotnik Winter -que apresenta uma clara alusao aos créditos do segundo fiilme de Sonic-, ou os novíssimos corredores e gravidade de Atomic Destroyer não destoaram do fluir de jogo, pelo contrário, fizeram cada zona parecer mais única, devido ao gimmick ser a identidade do level design e contribuir para criar momentos mais metódicos de plataformas, além do já mencionados apenas correr para a direita.

    Acreditem, vão muitas vezes ter de retroceder em secções de níveis para encontrar um novo caminho, ou segmentos em plataformas onde saltos calculados serão vitais para prosseguir. Mesmo em momentos mais calmos devemos ficar vigilantes a todos os momentos e não apelar a uma passividade por nos sentirmos “seguros” em cima de uma minúscula plataforma, existem projéteis e posições inimigas destinadas a punir os ouriços mais desatentos, e nas zonas finais a dificuldade aumenta exponencialmente.

    Respeitante a atos Sonic Triple Trouble-16 bit conseguiu replicar o feito do seu possível antecessor, ou seja, a par de Sonic 3 & Knuckles, conseguiu contar uma história sem palavras. A forma como Noah N. Copeland conseguiu integrar as fases de Sonic Triple Trouble é do mais espetacular. É certo que quando o jogo original foi produzido, ninguém pensou como de uma ilha tropical os jovens jogadores passavam para uma estação de comboio ao anoitecer. Contudo, Copeland conseguiu integrar todas as zonas num mundo, genial. Adicionalmente este elemento não existe apenas de zona em zona, entre próprios atos atuam da mesma forma. Sentimos que Noah, retirou muitas inspirações de Sonic Mania, porque o segundo e por vezes terceiro ato de cada zona apresentam características e ambientes diferentes, algo que vimos na mais recente aventura oficial 2D de Sonic. Um elemento que achámos muito interessante foi a possibilidade de repetirmos os níveis de bónus se não conseguirmos obter a esmeralda do caos, pudemos tentar novamente a troco de uma das nossas vidas. Mesmo com anéis gigantes de bónus espalhados em abundância, foi frustrante perder uma corrida contra o Nack devido a cairmos do percurso, ou a bordo da sua Marvelous Queen conseguir alcançar uma das 6 esmeraldas do caos. Por favor, obtenham todas as 7 para enfrentarem o boss na “Final Trouble Zone”, o confronto final é do mais épico, digno de uma beam struggle de Dragon Ball Z. Convém também salientar que os referidos níveis de Bónus são parcialmente referentes aos do jogo original, dado que podemos ver Sonic a bordo do tornado. Embora a “Special Zone” -lar do Nack” não seja percorrida nesta etapa, Noah Copeland colocou-a no jogo, mas vão ter de se esforçar um pouco para a descobrir.

    Além das áreas conhecidas poderemos visitar novas criadas especialmente para esta versão

    Sonic Triple Trouble-16 bit também possui alguns extras bónus para desbloquear. Um modo de história competitivo -com interações entre personagens- onde rebentamos balões ou recolhemos anéis, ou a possibilidade de jogar com Knuckles no modo de história normal ou Nack e Metal Sonic no modo livre.

    O som é outro grande elemento de destaque nos jogos Sonic The Hedgehog. Mais uma vez Noah N. Copeland esteve à altura do desafio, e criou remixes 16 bits a emular o chip de som YM2612 de faixas musicais não só do jogo original como também de outras na série, como foi o caso do célebre tema de Metal Sonic que ouvimos desde que participámos na sua corrida em Sonic CD. Também e à semelhança de Sonic 3 & Knuckles e Sonic Mania cada zona apresenta a mesma melodia com algumas modificações sonoras entre atos para se destacarem e ambientarem o cenário.

    Quem acompanha esta análise deve estar a perguntar a si próprio se Sonic Triple Trouble 16-bit é um jogo perfeito. Bem, perfeito é utópico, é essencialmente uma condição ou elemento gerado em nós para nos atribuir segurança e confiança. No entanto, se não fossem certos “senãos” a obra de Noah N. Copeland estaria perto de alcançar esse feito. Para começar existem alguns segmentos que se fossem mais medidos não se sentiriam tão arrastados, como foi o caso do ato 2 de Tidal Plant Zone onde Sonic e Tails comandam um submarino e o jogo se torna próximo um run and gun muito calminho e até confuso. A impossibilidade de modificar resoluções, e a inexistência de filtros de imagem fez com que o jogo tivesse um aspeto demasiado pixelizado até mesmo para “standards” SEGA MEGA DRIVE em ecrãs de grandes dimensões. As físicas, embora muito parecidas às suas origens, foram um obstáculo a navegar entre plataformas, ou nos flippers e bumpers dos níveis de bónus. Para finalizar gostaríamos de ter um melhor suporte para comandos, dado que não nos foi possível mapear botões ou utilizar o “Botão D”, apenas podemos utilizar os analógicos, um efeito contraproducente numa aventura clássica. Acreditamos que pelo menos este último quesito vai ser retificado brevemente numa atualização.

    Sonic Triple Trouble 16-bit é um título dotado de uma qualidade tão elevada que nos faz crer que estamos perante um produto comercial. Mais do que um simples remake de um jogo 8 bit, é essencialmente um verdadeiro manual de como produzir um jogo quer de Sonic como de outro IP. Realmente começamos a achar ser necessária uma nova categoria nos The Game Awards “Jogos criados por fãs” porque a nosso ver projetos deste calibre são também criações de conteúdo, merecem ser reconhecidas, e esta categoria devia ser abrangida e não sendo só alusiva a YouTubers. Por favor SEGA contrata este homem, e junta-o com a Headcanon e Christian Whitehead na produção de um novo Sonic 2D, ou Sonic Mania, porque Copeland sabe mesmo o que é ser “way past cool”. Não hesitem e vão já transferir este jogo gratuito para os vossos PC.

    Bruno Reis
    Bruno Reis
    Vindo de vários mundos e projetos, juntou-se à redação do Otakupt em 2020, pronto para informar todos os leitores com a sua experiência nas várias áreas da cultura alternativa. Assistiu de perto ao nascimento dos videojogos em Portugal até à sua atualidade, devora tudo o que seja japonês (menos a gastronomia), mas é também adepto de grandes histórias e personagens sejam essas produzidas em qualquer parte do globo terrestre.

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    Marcio RogerioD
    Marcio Rogerio
    9 , Agosto , 2022 18:54

    Bacana, vou jogar.

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