Atravessamos uma era onde os videojogos inspirados em animes de grande sucesso estão a receber lançamentos cada vez mais frequentes. One Piece Odyssey, Jujutsu Kaisen: Cursed Clash e SAND LAND, foram apenas alguns dos jogos que nos últimos anos encheram as bibliotecas dos fãs de jogos de anime, e claro, era uma questão de tempo até um jogo de Spy x Family também receber o seu merecido destaque neste universo. Com duas temporadas de grande sucesso e um filme nos cinemas vamos descobrir através desta análise se a nova aposta da Bandai Namco Entertainment continua uma verdadeira onda de sucesso para a família Forger.

Para começar julgo que o conceito de jogo apenas poderia ser descoberto se tal como a Anya pudéssemos ler a mente dos programadores da Groove Box Japan. Isto porque o jogo pouco foi divulgado e o seu lançamento até apanhou de surpresa muitos dos jogadores, inclusive eu, por isso tudo o que joguei, vi e senti foi novidade. A ideia base deste jogo é muito simples, basicamente tentamos construir memórias ou recordar acontecimentos que foram boas lembranças que aconteceram durante a primeira temporada da série anime num álbum fotográfico. Se estavam a pensar participar num jogo de ação ou espionagem junto dos Forgers podem perdem as esperanças visto que grande parte deste jogo se foca no quotidiano da família na ótica do membro mais novo, a traquina, mas ternurenta, Anya Forger enquanto participamos numa panóplia de minijogos.

Tanto para fazer e desfrutar

Panóplia é pouco para caracterizar os minijogos de SPY X ANYA: Operation Memories, porque o jogo conta com 15 destes, felizmente alguns são muito divertidos e chegam a complementar a série, tais como o jogo do mata ou os cozinhados da Yor. De salientar que em alguns destes também controlamos Loid em missões furtivas e a sua esposa numa espécie de beat’ em up cronometrado. No entanto, o minijogo mais importante de todos é o de tirarmos fotografias junto da família para cativar as atenções do instrutor Henderson e do resto da academia Eden. Para adicionar uma camada de elegância às fotografias podemos mudar o aspeto do Loid, da Yor, da Anya ou até do cão Bond com penteados e adereços através da recolha de moedas que Anya recebe pelos seus esforços ou pelo seu desempenho nos minijogos.

Os minijogos assumem várias formas e géneros

Infelizmente é aqui que começa e termina SPY X ANYA: Operation Memories, porque o jogo carece do mesmo problema da sua fonte, um propósito. No jogo apenas vivemos o quotidiano dos Forgers numa história que podia ser adaptada para um capítulo da obra de Tatsuya Endo, o autor do mangá, ou como um novo filme anime nos cinemas. Depressa também senti uma ligeira repetição devido ao seu ciclo, que é muitíssimo parecido da série PERSONA. Ou seja, apenas temos disponíveis um punhado de ações disponíveis para gastar em atividades em cada dia. Ao acordar temos uma interação breve com a família, de manhã e à tarde o dia é passado na academia, à noite foco é o jantar em família, e aos fins de semana uma saída entre todos os membros da família no oceanário, parque de diversões, restaurante ou outros 7 locais.

Contudo, julgo que este grau de simplicidade também é bem-vindo para uma demografia muito especifica e que faz jus ao próprio conceito da série, a família. Este é um daqueles jogos que devido à sua simplicidade pode ser desfrutado por qualquer um, desde crianças, a casais, especialmente se forem fãs da série porque para desfrutar ao máximo do jogo é necessário ter o mínimo de conhecimentos das personagens e situações. Numa nota geral devo reconhecer que a produção da Groove Box Japan fez um ótimo trabalho a honrar a sua fonte neste jogo porque pegou em situações que passaram quase despercebidas na série, tais como a limpeza da casa, ou o jogo de cartas na academia e atribuiu-lhe uma valente dose de protagonismo e muito humor, especialmente pelas caretas e pela forma como são encaradas pela Anya, podem contar com a sua celebre expressão sorridente estampada numa multitude de situações.

Nem mesmo o Sr. e a Sra. Smith japoneses ficaram de fora

O mesmo posso dizer do aspeto visual global do jogo, por vezes até pareceu que estava a ver um episódio do anime. Estamos na presença de um jogo belo não só pelos seus grafismos, como também pela sua direção artística que se assemelha muitíssimo à obra da Clover Works x WIT STUDIO. Desde tons suaves de cores nas personagens e nos cenários, passando pela UI do próprio jogo, tudo tem um enorme respeito pela sua fonte, ainda mais quando tudo é narrado pelos próprios seiyuu da série. Neste paragrafo o único problema que mancha este quadro quase perfeito são as animações das personagens em alguns momentos porque não têm a elegância da animação que nos habituámos a ver e são um pouco rígidas e lentas quando supostamente não o deviam ser.

Também um pouco aquém são as opções gráficas do jogo. No menu apenas temos disponíveis as escolhas:

  • Modo de Ecrã
  • Mudança de Resolução
  • Taxa de Fotogramas
  • Qualidade das Texturas
  • Anti-Aliasing

Infelizmente não existem “Opções de Sombras”, “Bloom”, ou “Presets Gráficos”. Embora estejamos diante de um jogo belo, é pouco exigente graficamente.

Contudo, temos o outro reverso da medalha porque este é um jogo que assenta que nem uma luva na temática de uma portátil com a Steam Deck LCD. Com as opções predefinidas e apenas 10w pude desfrutar das traquinices da Anya a 60 fotogramas fixos sem me preocupar com carregamentos durante bastantes horas. O mesmo pode ser dito da ROG Ally onde a única mudança foi poder desfrutar ao jogo a 1080p a 120 fotogramas por segundos fixos, e sem recorrer à tecnologia Fluid Motion Frames da AMD.

Quanto à nossa tradicional build de secretária não é preciso acrescentar muito mais neste parágrafo visto que foi desfrutada em resoluções 4K a 120 fotogramas por segundo sem quebras e devido ao elevadíssimo número de textos disponíveis pude ajudar a Anya na criação do projeto escolar com textos em português do Brasil e os seus “Waku Wakus” na sua língua original, porque o áudio em japonês por todos os seiyuu do anime é o único disponível com uma banda sonora que é de tal forma autentica que parece também saída do anime.

Anya é o fio central da história. É literalmente a única personagem que sabe das responsabilidades e deveres do seu pai na Operation Strix e da verdadeira identidade da sua mãe. Também foi quem escolheu estes e até o cão Bond, e mesmo quando olhamos para as outras personagens na agência ou na academia e para as suas relações interpessoais, a Anya é o planeta que todos orbitam. A relação de Twilight e Yor baseia-se na sua preocupação comum com Anya! E mais do que tudo, são os objetivos de Anya que nos interessam enquanto fãs por isso não é de estranhar que este é um jogo feito à sua imagem e valores. Porque acreditem que o núcleo desta história não são as aventuras de um espião famoso, ou de uma assassina impetuosa, mas sim o de uma menina de cinco anos que desde que disse “FAMÍLIA” puxou todos os cordelinhos de todos com toda a sua pequena força para nos demonstrar que a simplicidade pode e deve também ser apelativa.

Não percam a oportunidade de também fazer parte do álbum fotográfico da família mais famosa da era moderna do anime mesmo que por vezes pareça simplista e repetitiva. 

Bruno Reis
Vindo de vários mundos e projetos, juntou-se à redação do Otakupt em 2020, pronto para informar todos os leitores com a sua experiência nas várias áreas da cultura alternativa. Assistiu de perto ao nascimento dos videojogos em Portugal até à sua atualidade, devora tudo o que seja japonês (menos a gastronomia), mas é também adepto de grandes histórias e personagens sejam essas produzidas em qualquer parte do globo terrestre.
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