Stranger of Paradise: Final Fantasy Origin, desenvolvido pelos veteranos da Team Ninja (Koei Tecmo) que nos trouxeram Final Fantasy Dissidia NT e publicado pela Square Enix, é uma espécie de prequela em jeito de universo alternativo do Final Fantasy original, celebrando os 35 anos da série e do lançamento do primeiro jogo na Nintendo original.
O jogo apresenta-nos inicialmente três personagens – o protagonista Jack e os seus companheiros recém-adquiridos, Ash e Jed, a quem mais tarde se juntam as duas guerreiras Neon e Sophia. Todos os nosso heróis são amnésicos, mas têm em comum o facto de terem na sua posse cristais que reagem à presença uns dos outros, e uma vontade enorme de destruírem Chaos (a suposta fonte do mal do mundo em que se situam).
Há elementos que certamente irão parecer familiares a quem jogou a versão original de Final Fantasy, com a nossa história a descolar no reino de Cornelia e uma audição com o Rei, que apesar do seu ceticismo por a party só constar com três heróis iniciais em vez dos quatro Warriors of Light das profecias, nos entrega a missão de aceder ao Shrine of Chaos, e mais tarde, já com a companhia de Neon, a missão de restabelecer os quatro cristais elementais para salvar o mundo.
Apesar deste inicio de narrativa familiar, a partir daqui tudo se desenrola com alguns twists inesperados para este tipo de “prequela” e, infelizmente, qualquer discussão leva facilmente a spoilers, mas posso dizer que o encaixe com o plot original de Final Fantasy é fantástico e decididamente um dos pontos fortes de Stranger of Paradise. Dito isto, devo dizer que não existe um open world, estando toda a exploração presa a cada nível individual do jogo, assim como apesar de ser possível interagir com personagens das cidades, essas interacções parecem inconsequentes (assim como um pouco escondidas pelos menus do jogo), acabando por falhar um pouco o feel de Final Fantasy.
Por outro lado, a dita exploração dos níveis e o combate dinâmico será familiar a quem jogou Final Fantasy XV e VII Remake, com claras inspirações de ambos. É possível desenvolver as personagens através de um Job System, onde cada Job tem 30 níveis, uma skill tree e desbloqueia consequentes Jobs, cada vez mais avançados, e com intuitos de utilização diferentes, sendo possível a Jack equipar dois Jobs e efectuar um quick change a qualquer altura, inclusivamente durante uma batalha, com os parceiros relativamente mais limitados. Embora hajam diferentes dificuldades para escolher, na dificuldade standard é notável o salto dos monstros normais para os bosses das dungeons, o que vai acabar por promover um pouco de grinding para levelar um pouco mais.
E é aqui que temos de começar a crítica mais dura… Embora o sistema de combate e a evolução das personagens em termos jogáveis sejam sólidos assim como a exploração com sistema de checkpoints e limite de poções curativas, claramente inspirado pelos jogos Souls-like. Já a disposição das dungeons, assim como o seu design repetitivo e com assets que facilmente se tornam reconhecíveis de umas salas para as outras, fazem o jogo parecer pouco polido…
Mesmo em termos gráficos, fora das cutscenes e cenas em que nos é possível interagir com outras personagens, o jogo torna-se notavelmente fuzzy, mesmo no modo de fidelidade gráfica, o que em conjunto com o já mencionado problema de repetição de assets e a falta de um open world ou até a simples possibilidade de exploração de cidades acaba por dar um feeling de produto inacabado…
Também de notar é o tom geral das cutscenes do jogo. Ao contrário da seriedade normalmente associada à série, Stranger of Paradise toma maioritariamente um tom extremamente campy, a roçar muitas vezes o nonsense completo, lembrando mais o estilo da série Devil May Cry do que outra coisa, mas com as personagens a manterem a sua compustura e pseudo-edgyness em vez da self-awareness de Dante e companhia, o tom acaba por ser hit-or-miss.
Desta forma, Stranger of Paradise torna-se um jogo que certamente agradará aos fãs de Final Fantasy XV e VII Remake pelo seu sistema de combate, e aos fãs do Final Fantasy original pela sua ligação ao plot, que dá uma nova perspectiva interessante ao mesmo. Não descurando que o impacto inicial será muito provavelmente estranho, e que a falta de polimento está sempre presente, é um jogo que irá premiar quem conseguir passar das suas horas iniciais com uma experiência diferente de Final Fantasy.
Review por Tiago Vasconcelos.