Tem sido um ano generoso para os fãs de videojogos, sobretudo para quem possui uma Nintendo Switch. Penso que apesar da Nintendo se ter contido no salto tecnológico da sua consola, continuou a focar-se num dos seus maiores trunfos, a criatividade, de modo a cativar a atenção dos veteranos e de novos jogadores. O ano de 2023 ficou marcado com lançamentos como Fire Emblem Engage, Metroid Prime Remastered, Bayonetta Origins: Cereza and the Lost Demon e o regresso de The Legend of Zelda.

Entretanto, para eventualmente fechar o ciclo Switch, nas últimas Nintendo Direct foram anunciados novos títulos dedicados aos protagonistas do reino cogumelo, chegando primeiro às nossas mãos a mais recente aventura da série Super Mario Bros. No regresso ao 2D, Super Mario Bros. Wonder é um novo jogo que naturalmente vai deixar qualquer um de sorriso no rosto, cumprindo bem o seu objetivo de divertir e surpreender.

Depois de Bowser se apoderar do castelo

Em Super Mario Bros. Wonder, Mario e amigos partem para o reino Flor a convite do Príncipe Florian, mas como é habitual Bowser com o seu exército interrompe a festa e apodera-se da flor fenomenal. Deste modo, Bowser funde-se com o castelo do príncipe Florian, transformando-se numa gigante fortaleza flutuante. Com o caos instalado no reino, Florian e a tropa cogumelo unem-se para impedir que os planos do inimigo número um de Mario tenham sucesso.

Desde o princípio o que começa logo por se diferenciar é a presença de vários personagens controláveis além de Mario. Ao longo da jornada, podemos alternar sempre que quisermos entre Luigi, Peach, Daisy, os Toads, Toadette, os Yoshis e o Coelharápio, mas estes dois últimos divergem dos restantes por serem imunes ao dano dos inimigos e por serem incapazes de usar itens de transformação. Como o próprio jogo recomenda, Yoshi e o Coelharápio são a escolha indicada para os jogadores menos experientes ou mais jovens que pretendem passar um bom tempo sem que a dificuldade seja uma barreira.

Os veteranos Takashi Tezuka e Koji Kondo fizeram parte da equipa de desenvolvimento de Super Mario Bros. Wonder.

Estamos perante um novo jogo de plataformas 2D que bebe das suas origens, algo que já sentia falta desde Super Mario Bros. World (Super Nintendo). Continuamos a ter a presença de um mapa-mundo onde os níveis se encontram, e temos como objetivo passar vários desafios, inimigos, armadilhas e obstáculos para conseguir-mos alcançar o topo da bandeira no fim de cada nível. Contudo, a Nintendo deu um passo à frente relativamente à proposta habitual, apresentando um conjunto incrível de níveis que proporciona uma das experiências mais imaginativas da história de Super Mario.

Um nível transformado pela Flor Fenomenal

O desenho de níveis (Level Design) foi projetado à volta de ideias genuínas e bastante criativas, algo que vai ficando progressivamente mais evidente a cada fase que vamos descobrindo. Existe um cuidado único, onde os níveis dos sete mundos disponíveis são sempre distintos um dos outros, e para além disso, vão sendo inseridas mecânicas que nos motivam a usar novas abordagens perante as adversidades. Dentro de cada zona, há também pormenores a preencher os cenários com vida, nomeadamente elementos de fundo que nos aproximam da natureza fora dos níveis. Não houve nenhum momento em que me tenha sentido cansado, mesmo quando retornava a visitar os níveis para descobrir os restantes segredos, incluindo as decamoedas flores que ficaram para trás.

A acrescentar, parte disto deve-se à presença da Flor Fenomenal, a grande novidade deste título que modifica por completo a fisionomia dos níveis, quase como se fossemos transportados para o universo fantástico de Mario no País das Maravilhas. Temos de tudo, desde chuva de hipopótamos, mudanças de perspetivas, flores cantantes, canos minhoca, animais furiosos a percorrer o cenário a toda velocidade e até a mudanças de aspeto que nos fazem assumir o papel de um Goomba ou até de uma gosma capaz de caminhar pelas paredes. É fascinante perceber que este patamar criativo acaba por alterar por completo a forma de jogar, tornando a experiência bastante imprevisível e entusiasmante onde na maioria das vezes somos surpreendidos com uma panóplia de detalhes e conceitos que o jogo nos tem para oferecer.

Menu das insígnias

Além disso, Mario e amigos têm agora à disposição as insígnias, medalhas com poderes especiais que vão sendo desbloqueadas ao longo da aventura em áreas exclusivas ou nas lojas do Poplin. Com as mesmas, adquirimos habilidade para saltar mais alto, planar, nadar mais rápido ou até mesmo evitar a morte quando colocamos o pé em falso num penhasco ou outro artifício como águas ácidas ou lava. Ao todo, existem 24 insígnias e graças a elas conseguimos personalizar a nossa experiência e escolher sabiamente a mais indicada para os obstáculos que cada nível apresenta. Porém, apesar de serem capacidades úteis e reconfortantes, teria preferido que os protagonistas principais, como por exemplo Mario e Peach, não sobressaíssem pelas insígnias mas sim pelo que conhecemos das suas características e habilidades.

A aventura é igualmente marcada com o regresso das transformações e claro da adição de três novas. Além do célebre Supercogumelo, da Flor de fogo e da estrela de invencibilidade, temos a nova maçã elefante que como o nome indica transforma o jogador num corpulento elefante com o poder de derrubar tudo à sua frente e até armazenar água na tromba para regar plantas e adquirir moedas, a Flor de Bolha que nos permite lançar bolhas capazes de prender os inimigos, criar atalhos ou alcançar locais de difícil acesso e por fim o Cogumelo Broca que para além de permitir que andemos por debaixo do chão e teto, é indicado para nos proteger dos inimigos terrestres.

Mais à frente desbloqueamos um oitavo mundo que contém níveis especiais com a dificuldade mais alta do jogo.

No que diz respeito ao multiplayer, confesso que a vertente online deixou um pouco a desejar. Para além do modo cooperativo local, ou seja, entre amigos e família, esperava que o modo online fosse mais do que explorar os níveis do Reino Flor ao lado das silhuetas de jogadores de todo o mundo. Senti falta de conteúdo extra dedicado a estes modos, acredito que tornasse a experiência mais animada em conjunto.

Cordilheira Pompom

Depois de finalizar Super Mario Bros. Wonder, se há algo que ficou gravado na minha memória é o seu lado técnico e visual onde não encontrei nenhum ponto negativo para apontar. Os modelos dos personagens e inimigos são brilhantes, os cenários do Reino da Flor são dinâmicos e extremamente bem produzidos, assim como as animações que os personagens possuem ao interagir com os elementos dos cenários, adicionando expressividade às diversas situações. Em momento algum vi acontecer erros ou sequer quedas de frame. Para um ano carregado de jogos com problemas nestes parâmetros, Super Mario Bros. Wonder é de fato um milagre.

Felizmente, o lado sonoro consegue acompanhar a qualidade do que é apresentado visualmente, sobretudo quando começa a tocar aquela melodia que nos leva a viajar no tempo. Outro destaque é que o jogo está totalmente localizado em Português. Para além dos textos, contamos com a presença das flores tagarelas que falam com vozes em Português. São uma alegria constante, para além de desempenharem um papel importante, uma vez que vão fornecendo informações sobre o que está a acontecer, dando dicas ou levantando o nosso ânimo ao longo do jogo. Por outro lado, tivemos o lançamento de Kevin Afghani na voz de Mario e Luigi, podendo dizer que fez um trabalho espetacular em que as icônicas expressões dos dois canalizadores ficaram um mimo na sua voz.

Super Mario Bros. Wonder mostra que a série Super Mario Bros. continua a ser a melhor do seu gênero. É uma proposta fascinante que não teve receio de explorar novos caminhos com as suas novidades e mecânicas arrojadas. Mas, acima de tudo, gostei realmente da criatividade à volta dos níveis, da presença das Flores Fenomenais e de toda a imprevisibilidade.

Super Mario Bros. Wonder é uma lufada de ar fresco nos dias de hoje, um jogo obrigatório para os jogadores que procuram uma aventura ousada, criativa e sobretudo divertida.

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