Durante muitos anos, a série Super Robot Wars parecia uma miragem no Ocidente, não só por ser um produto de nicho, mas também pelo enorme desafio que representava em termos de licenciamento. No entanto, o lançamento de Super Robot Wars 30 marcou uma abertura inesperada, permitindo que a franchise começasse finalmente a prosperar também deste lado do mundo. Quatro anos depois, agora com Super Robot Wars Y, vamos descobrir se a Bandai Namco Entertainment e a Bandai Namco Forge Digitals conseguiram replicar o mesmo impacto com uma fórmula já amplamente consolidada.
Super Robot Wars Y centra-se em duas facções que em tempos lutaram pela supremacia. Os Spacenoids, comandados por Char Aznable, o lendário anti-herói da série Mobile Suit Gundam, enfrentam os Earthnoids, liderados por Lelouch Vi Britannia, o príncipe revolucionário da série Code Geass. No centro deste conflito está Echika Y. Franburnett, herdeira da cidade-fortaleza voadora conhecida como A. Advent, que acaba de completar quatorze anos.
A partir deste momento o jogador é convidado a escolher o seu piloto. Tal como nos jogos anteriores, existem dois protagonistas possíveis. Desta vez são os irmãos Tsukinowa, Cross e Forte, dois descendentes NINJA incumbidos com a missão de proteger Echika. As suas personalidades revelam-se desde o início. Cross demonstra maior ponderação, enquanto Forte revela um temperamento mais impulsivo.
Mais uma vez Super Robot Wars Y reúne universos de várias séries mecha anime. Entre as quais estão novidades tais como, Code Geass: Lelouch of the Re;surrection, Mobile Suit Gundam: The Witch from Mercury e Getter Robo Arc.

Aqui o jogo corrige uma das falhas mais evidentes do capítulo anterior, a narrativa. Em Super Robot Wars 30, a história mostrava-se demasiado desconexa, sem bases sólidas, e introduzia pilotos na equipa sem motivo ou contexto. Ao passo que em Super Robot Wars Y a narrativa parte do Zero Requiem, ou seja, um evento canónico que representa os momentos finais de Code Geass R2, o que por si só a torna mais envolvente. As personagens também acompanham esta tendência com interações mais orgânicas e compatíveis com a sua identidade. Algumas demonstram simpatia ou mesmo desprezo pelas séries de origem, o que lhes confere maior autenticidade. No título anterior heróis e vilões aparentavam ser todos amigos, o que criava uma sensação artificial. Em Super Robot Wars Y estas interações também condicionam combinações narrativas inesperadas, tais como a ligação entre Mobile Fighter G Gundam e Aura Battle Dunbine, ou as mudanças aprofundadas entre Mobile Suit Zeta Gundam e Char’s Counterattack.
A nova seleção de pilotos traz, no entanto, alguns inconvenientes. Em jogos passados a variedade de mechas era mais cativante. Neste capítulo a escolha segue uma linha mais clássica. Ausentes estão os EVA de Neon Genesis Evangelion ou o Scope Dog de VOTOMS. Ainda assim, a presença de sempre tímida Suletta, de Mobile Suit Gundam: The Witch from Mercury, e o lendário Kaiju, Godzilla acrescenta um sabor especial à experiência. Gostaria que a produção arriscasse mais neste aspeto, pois existe ainda muito para explorar. Quem não gostaria de controlar os Guymelefs de Vision of Escaflowne, o Rahxephon ou até mesmo a nave de Spike Siegel de Cowboy Bebop. Quando a produção se voltar para o universo dos videojogos, então sim abrir-se-ão verdadeiras portas ao permitir a inclusão de mechas como os de The Legend of Heroes, Patter Matter, Valimar, Testarossa e Ordine, ou as E.S. units da série Xenosaga, por exemplo. Por agora a atenção recaiu sobre os Kaiju, com Godzilla, e sobre os Tokusatsu, como se confirma com o DLC de Kamen Rider. É justo reconhecer esse esforço e atribuir o devido mérito.
Contudo, o maior cartão de visita da série continua a ser o controlo dos diversos mechas e o núcleo da jogabilidade mantém-se inalterado. O jogador assume o comando das unidades em combates táticos em grelha e forma equipas diversificadas para enfrentar ameaças cada vez maiores. Cada personagem apresenta motivações, dúvidas e dilemas próprios, mas cedo se percebe que apenas um objetivo comum e o espírito de camaradagem podem garantir a sobrevivência. Echika, com o poder de gerar energia Y, sustenta o planeta e apoia os esforços de reconstrução após a guerra. Entretanto, a intervenção governamental deixa claro que os pequenos conflitos não passam de um prelúdio para intrigas políticas de maior escala.

A funcionalidade “Spirits”, já bem conhecida na série, ativa habilidades especiais. No início, o baixo SP limita a sua utilização, mas à medida que a história progride torna-se cada vez mais relevante. O jogador tem de decidir se deve gastar SP para eliminar rapidamente hordas de inimigos ou guardar recursos para o confronto com um boss.
Entre as novidades encontra-se o “Assist Link”, que permite a intervenção de aliados de suporte através da função “Assist Crew”. Estes aliados oferecem curas, reforços de estatísticas e outras ajudas. Com a experiência, evoluem e desbloqueiam novas capacidades, incluindo diálogos especiais em níveis mais avançados. Já o “STG Memory”, que retira inspirações da Sphere Grid ou Folios da série Final Fantasy, funciona como uma skill tree. Ao completar níveis e acumular “MXP”, é possível desbloquear nós que concedem vantagens, algumas subtis, tais como recuperar cinquenta pontos de vida adicionais, um valor pouco expressivo num universo em que a “vitalidade” das unidades atinge milhares.
O jogo alcança um equilíbrio interessante, pois mostra-se suficientemente complexo para os fãs do género, mas acessível para quem não pretende aprofundar demasiado as suas mecânicas. Importa destacar a forte presença de diálogos, já que metade do tempo é passada a ler e a outra metade a combater e a gerir unidades.

O modo história mantém o mesmo fluxo, dividido entre missões principais e secundárias. As primeiras fazem avançar o enredo principal, enquanto as opcionais expandem o leque de personagens e desbloqueiam interações adicionais. Este sistema ramificado conduz a diferentes caminhos narrativos. Entre missões, pequenas cutscenes apresentam diálogos breves em imagens estáticas, onde se destacam o tom descontraído de Forte e a emotividade de Cross.
A dificuldade normal apresenta-se acessível e oferece quantidades generosas de recursos monetários para otimização e melhoria das unidades. Nos níveis de dificuldade superiores, o equilíbrio altera-se significativamente e os inimigos representam uma ameaça real, como tal exigem uma gestão mais criteriosa dos recursos disponíveis.
A interface foi modernizada, mantendo-se simples, funcional e em conformidade com a identidade visual clássica da série. Entre os elementos de destaque encontram-se os mapas, agora com maior detalhe e profundidade, as cutscenes estáticas e as animações de combate reformuladas, que recriam de forma fiel os ataques icónicos de cada mecha. Novos movimentos foram introduzidos, inclusive para unidades já conhecidas para reforçar a diversidade de opções estratégicas em combate.
A componente audiovisual contribui diretamente para a experiência. A banda sonora varia entre composições orquestrais e eletrónicas, complementadas por efeitos de passos, explosões e impactos metálicos que reforçam a sensação de peso dos confrontos. O elenco japonês de vozes acrescenta intensidade dramática às sequências narrativas. Na edição Ultimate, os jogadores têm ainda acesso às músicas originais das aberturas de cada série representada, que podem ser configuradas como temas de combate para os respetivos mechas. Esta edição, contudo, apresenta um custo elevado de cerca de 100 euros, que podem ser justificados pela inclusão de conteúdos adicionais, tais como a Season Pass com seis unidades extra, que incluem Fuuto PI: Kamen Rider, além de créditos, missões extra, chips e outros bónus que garantem um inicio de jogo bem mais simples e suave. Se mais de 50 horas com robôs à batatada não forem suficientes este valor ainda faz mais sentido.
Devido à sua simplicidade gráfica em 2D, Super Robot Wars Y praticamente não oferece opções de configuração visual. As únicas disponíveis são a intensidade do anti-aliasing, até X8, e o modo de exibição. Foi precisamente nesta última que encontrei um detalhe curioso: o jogo não suporta resoluções superiores a Full HD, ou seja, 1920×1080. Pelo estilo gráfico, isto não representa um problema relevante, mas os jogadores mais exigentes neste ponto não irão encontrar suporte para 4K nem para taxas de fotogramas acima dos 60 FPS.
Apesar de não introduzir mudanças radicais, Super Robot Wars Y apresenta melhorias significativas na componente visual, um sistema de combate com novas mecânicas que reforçam a sinergia entre as equipas e uma narrativa mais coesa. No entanto, a sua estrutura mantém-se demasiado próxima do título anterior, o que pode transmitir uma sensação de familiaridade excessiva aos jogadores veteranos.
Para os fãs de mechas e SRPG, continua a ser uma experiência indispensável, graças ao equilíbrio sólido entre estratégia e espetáculo visual. Ainda assim, a falta de verdadeira inovação poderá limitar o seu impacto a longo prazo, sobretudo num género que já vive muito de fórmulas consolidadas. Por outro lado, a acessibilidade e clareza da jogabilidade tornam-no uma excelente porta de entrada para novos jogadores que queiram descobrir a série ou até o seu género.