Se estiveram atentos aos mais recentes desenvolvimentos da NIS America, depressa se vão aperceber que a editora tem sido incansável no lançamento dos jogos The Legend of Heroes no ocidente, quer os mais recentes como The Legend of Heroes: Trails into Reverie, como os mais antigos que perderam o barco no início da segunda década deste milénio, ou seja, The Legend of Heroes: Trails from Zero e The Legend of Heroes: Trails to Azure.

Um dos melhores “World Buildings” assente num leque de personagens carismáticas com uma história escrita orquestralmente ao som de melodias inesquecíveis que conquistou destaque dentro do seu género. Contudo, muitos desconhecem que os jogos The Legend of Heroes possuem origens que os enraízam nos primórdios da história dos videojogos. De olhares postos no passado rumo a um futuro incerto -sobre a série- a Nihon Falcom Corporation lançou no Japão originalmente para a PlayStation Portable um “spin-off” que misturou e honrou o seu legado até ao momento. Passados exatamente 11 anos, Nayuta vai finalmente avistar um novo horizonte através do seu inseparável telescópio em The Legend of Heroes: Boundless Trails.

O jogador encarna Nayuta Herschel (que comecem as teorias), um rapaz inocente de quinze anos apaixonado pela astrologia que regressa a Nokosarejima para passar as férias de verão com o seu irmão Signa. Esta é uma das muitas ilhas onde caem muitas estrelas cadentes e ruínas, partes destas são chamadas de Fragmentos de Estrela e são semelhantes a pedras onde podemos avistar imagens de um mundo diferente no seu interior. Os pais de Nayuta deixaram este belo mundo em busca destes fragmentos e por isso o nosso curioso rapaz decidiu que o seu objetivo seria seguir as pegadas da sua família. Um dia, grandes ruínas caem do céu e aterram perto de Nokosarejima, Nayuta e Signa partem para as explorar e no local encontram uma pequena fada chamada Noi acompanhada por dois homens que lhe tiram do corpo um objeto com a forma de uma engrenagem enquanto revelam que é o mecanismo para viajarem para um mundo conhecido como Lost Heaven, e que o portal para o mesmo se encontra no quintal da casa de Nayuta.

Será Nayuta tetravô de Towa?

O jogo apresenta um mundo e outros elementos comuns nos jogos da série, dado que a história, a escrita, a projeção do mundo e personagens são muito menos complexas porque este mundo é regido pela fantasia e não pela política ou imperialismo, aliás a narrativa de The Legend of Heroes: Boundless Trails está muito mais próxima dos jogos clássicos Ys quer em ambientes como em personagens. Por exemplo Nayuta é um protagonista adorável, simpático e muito curioso que se interessa pela astronomia e pelos mistérios do mundo, uma completa antítese dos heróis Estelle Bright, Lloyd Bannings ou Rean Schwarzer que apresentam uma dimensão e um escopo maior no próprio mundo, e embora o jogo possa aparentar uma dinâmica mais juvenil não podíamos estar mais enganados, porque tal como os jogos The Legend of Heroes: Trails o enredo fervilha ao longo do jogo para durante o seu capitulo final sermos servidos com um sem fim de revelações, principalmente uma teoria onde Nayuta pode encarnar como um antagonista.

O jogo não é longo comparado aos do mesmo género e acontece em Lost Heaven, uma região formada por quatro terras sendo que o jogador em vez de atravessar masmorras e mapas mundo, percorre as quatro estações do ano guardadas por um boss enquanto participa em diversas sidequests atribuídas pelos habitantes da ilha, resolvendo até por vezes enigmas de fácil resolução. Penso que esta exposição ao mundo se deva principalmente às limitações técnicas da PlayStation Portable.

Ao invés de masmorras temos um tradicional sistema de níveis

No entanto, a maior das diferenças de The Legend of Heroes: Boundless Trails em relação aos outros jogos da série está no seu gameplay. Ao contrário dos jogos da série, The Legend of Heroes: Boundless Trails é um action rpg, algo que imediatamente o aproxima de um misto entre Ys e Zwei, outra série clássica da Nihon Falcom Corporation. Em The Legend of Heroes: Boundless as batalhas são em tempo real e apresentam elementos de jogos de ação. Podemos controlar Nayuta pelos campos, enquanto salta de plataforma em plataforma, evade ataques dos inimigos e invoca Artes – com recurso à Noi – que recebem experiência quanto mais vezes são utilizadas e são de longe o elemento mais estratégico do jogo.

Desde rodear Nayuta com orbs que atuam tanto como um escudo como uma forma de ataque, até infligir danos de estado aos inimigos, existem muitas estratégias para experimentar e utilizar. Embora Nayuta seja a única personagem jogável este dispõe de dois tipos diferentes de armas à escolha. Enquanto a espada de uma mão causa menos danos, mas tem uma cadência de ataques mais rápida, as armas de duas mãos têm melhor alcance e potência, mas são muito mais lentas, realmente senti que ambas se destinam a certos tipos de inimigos.

Conta com a Noi para soltares as tradicionais “Artes”

Mesmo assim penso que não vão ser uma grande barreira porque o jogo não apresenta inicialmente grandes desafios, a maioria dos ataques dos inimigos são fáceis de ler e os seus padrões são muito básicos. Claro que existem maneiras de imprimir mais dificuldade para os amantes de um bom desafio. De início só existem quatro opções de dificuldade, contudo ao terminarmos a epopeia de Nayuta podemos voltar a jogar o jogo numa nova e brutal dificuldade, a Infinity. Nesta o jogo evolui com o jogador porque todos os inimigos ficam mais poderosos e sobem de nível em simultâneo com o jogador, por isso preparem-se para ver Nayuta ser derrotado com pouco mais de dois golpes, este definitivamente é um modo para os veteranos que faz com que o tradicional modo Nightmare nos jogos The Legend of Heroes seja destinado ao jogador mais inexperiente.

Nenhum dispositivo vai ter problemas a executar o jogo

The Legend of Heroes: Boundless Trails é mais uma port desenvolvida pela PH3 e pelo célebre Durante, por isso podemos contar com algumas das habituais e requintadas adições a um jogo da Nihon Falcom Corporation para o PC. Como The Legend of Heroes: Boundless Trails é literalmente um jogo destinado a uma consola portátil não teremos problemas absolutamente nenhuns para que seja executado em quaisquer dispositivos até porque a maioria dos seus assets são essencialmente sprites 2D ou modelos 3D muito simples, elementos que impossibilitam o uso de técnicas de renderização 3D modernas. Contudo, como o jogo recorre a um renderizador moderno, Durante conseguiu introduzir Anti-aliasing MSAA até 8 amostras e draw distance ilimitada, dois elementos que não só garantem arestas e visuais mais limpos e profundos como não consomem muitos recursos devido à própria herança do jogo.

Para o melhor ou pior, The Legend of Heroes: Boundless Trails é um jogo muito antigo e por isso não foi possível implementar taxas de fotogramas superiores a 60 fotogramas por segundo independentemente de recursos. Quer na nossa build composta por um processador AMD Ryzen 9 5950X, placa gráfica NVIDIA GeForce RTX 4090 MSI Suprim X e 64 GB RAM a 3600 MHz, como na Steam Deck ou ROG Ally não tivemos quaisquer problemas em executar o jogo na sua plenitude técnica. O jogo também suporta rato e teclado da mesma forma que The Legend of Heroes: Trails from Zero e The Legend of Heroes: Trails to Azure, e todos os comandos de consolas suportados pela Steam, desde o comando da Xbox 360, passando pelo comando Nintendo Switch Pro até ao DualSense da PlayStation 5, com os button prompts correspondentes nos menus e nas ações de jogo.

Nunca é demais salientar que as texturas melhoradas das personagens na PlayStation 4 e as tradicionais opções de alta velocidade também deram o salto para esta versão. Outro efeito que transitou para esta aventura é a sua incrível banda sonora. A dupla Saki Momiyama e Hayato Sonoda brindou-nos com uma panóplia de melodias mais experimentais quando comparadas às habituais da série. O piano ainda é uma constante, mas icónico e o violino deu lugar a faixas que alternam entre o épico e um ambiente melancólico, um efeito que me transportou para clássicos como Chrono Cross e Xenosaga, por a melodia também solidificar um mundo alternativo.

Tal como Tokyo Xanadu, The Legend of Heroes: Boundless Trails é uma aventura experimental bem fora dos moldes tradicionais da série e consequentemente do estado presente da Nihon Falcom Corporation. Além de um estilo de jogo mais imediato, a história é mais simples, isto claro se a formos comparar com as narrativas e mundos dos jogos mais recentes da empresa. No entanto, este elemento acaba por não ser um aspeto negativo porque faz com que o jogo adquira uma identidade e atmosfera muito própria que o separa dos restantes, e o torna numa excelente porta de entrada para uma série de jogos que devido ao seu elevado volume de títulos intimida até o maior veterano do seu género.

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