Xenoblade Chronicles 3 é um dos RPG Japoneses mais aguardados do ano desenvolvido pela Monolith Soft e publicado pela Nintendo que chegou a 29 de Julho em exclusivo para Nintendo Switch.

A história acontece após os eventos dos seus episódios anteriores, onde somos apresentados a Aionios, um mundo de natureza colossal que tem como pano de fundo um conflito que perdura há milénios entre duas fações rivais, Keeves e Agnus. Neste mundo, a premissa desenrola-se à volta do tempo, um factor vital para os habitantes de Aionios, porque para além de serem criados artificialmente com aspeto adolescente, nascem com uma expectativa de vida de 10 anos com o único propósito de servirem na guerra. Para que a energia vital não se esgote antes de alcançarem o fim do seu prazo de vida, têm de eliminar o inimigo e roubar a essência vital de que precisam para sobreviver.

Sem querer aprofundar a história em detalhe, durante a campanha viajamos ao redor do mundo na companhia de seis protagonistas que, por motivos que prefiro não revelar, decidem cooperar com o objetivo de investigar a verdadeira razão pela qual as nações alimentam um ciclo de violência inesgotável.

Entretanto, nesta longa viagem vamos viver muitas aventuras, percorrer lugares vastos, descobrir aliados e inimigos memoráveis, desvendar segredos e encarar confrontos estrondosos. Já por algum tempo que não me sentia tão envolvido numa narrativa, captando a minha atenção do início ao fim. Uma genuína odisseia construída em redor de emoções e de questões morais que pedem reflexão sobre o nosso propósito e existência num tom severo e mais melancólico. Ainda assim, carrega uma mensagem que apela à liberdade e que demonstra os infortúnios que a guerra acarreta.

Noah e Mio são dois off-seers que guiam os soldados falecidos de “volta a casa” durante a guerra.

O que torna tudo isto ainda mais credível é também o amadurecimento dos personagens diante o conflito e a realidade que os rodeia. Por sua vez, cada um deles mostra traços fortes de personalidade, mas com desenvolvimento dos acontecimentos vão manifestando o seu lado mais humano quando expõem as suas vulnerabilidades, dando a conhecer os seus medos, desejos e dúvidas que tanto os atormentam. A maneira como o jogo transmite a sua história acaba ainda por nos encaminhar sobre a progressão dos acontecimentos, mostrando fragmentos do passado que complementam o que acontece no presente, algo que me deixou confortável mediante a complexidade que a narrativa apresenta.

O combate e a exploração continuam a ser dois pilares da franquia e sinônimos de grande qualidade. Aionios é um continente impressionante dividido por regiões colossais constituídas por diversos biomas. Estes abrigam incontáveis criaturas, recursos, esconderijos, colónias militares, missões, entre outras. Todos estes pontos e muito mais são facilmente descobertos devido ao aproveitamento da verticalidade dos cenários, algo que tem vindo a ser cada vez mais característico nos jogos desta franquia. No entanto, será normal deixarmos para trás inúmeros locais, visto que persistem criaturas de nível superior e inclusive será conveniente desbloquear os meios de deslocação para chegar a novas áreas, como por exemplo meios para escalar paredes e tirolesas. Mas não se preocupem, o jogo apresenta o “fast travel” para quando se sentirem preparados poderem viajar com facilidade para as áreas que ficaram inexploradas.

Nos acampamentos podemos conversar, aumentar de nível com a troca de pontos de experiência, criar gems, cozinhar para obter vantagens em combate, descansar para curar a saúde e limpar os equipamentos.

As missões secundárias, felizmente, foram produzidas com um cuidado especial. Neste caso, em vez da grande quantidade de missões que estamos habituados a consumir em RPGs, temos missões em menor escala, mas mais apelativas, que adicionam ainda mais densidade à narrativa. Como por exemplo, podemos ouvir as conversas de outros NPCs para depois debater nos acampamentos entre os protagonistas, o que por vezes pode originar uma nova missão ou reunir novas informações sobre este mundo.

Por outro lado, temos também as novas missões designadas de “Heroes” que permitem recrutar um sétimo personagem para se juntar à nossa equipa e no fim da missão obter a sua classe e habilidades. Estas missões especiais aproximam-se do nível da trama principal, onde não faltam momentos impressionantes que complementam a história de cada herói introduzindo-os neste universo.

As missões secundarias são o meio mais eficaz de angariar pontos de experiência para subir de nível.

O sistema de combate de Xenoblade Chronicles 3 é possivelmente um dos aspetos mais complexos do jogo. Mais uma vez, temos em mãos um sistema que nos permite movimentar em tempo real enquanto os personagens atacam automaticamente e usufruem das Artes e das Talent Artes que vão carregando de modo a serem executadas manualmente. Pela primeira vez na franquia podemos controlar um grupo de seis personagens tanto em exploração como no combate, sem ter de nos preocupar com os restantes que normalmente ficavam de fora. Ainda que continuemos a poder comandar um personagem de cada vez, enquanto os restantes ficam na posse da I.A. do jogo, podemos configurar as nossas tácticas com pequenas indicações, tal como focar em combos para criar uma maior probabilidade da equipa infligir ataques que provoquem efeitos de estado aos seus oponentes.

Falando um pouco das classes, são um dos elementos mais importantes para aperfeiçoar os nossos protagonistas em combate, sendo que podem aprender as classes uns dos outros e adquirir as habilidades especiais das mesmas. As classes estão designadas por três tipos: ataque, defesa e saúde. Por exemplo, ao início Noah começa como Sword Figther do tipo ataque, ou seja, indicado para ataques que provocam danos maiores. Já Lanz como Heavy Guard do tipo defesa, tem como objetivo proteger os seus companheiros, tornando-se o centro do ataque dos inimigos. Cada classe tem a sua própria natureza, representada por uma arma e habilidades únicas. À medida que as utilizamos e por fim, as dominamos, faz com que o personagem passe a ter controle total das habilidades, permanecendo disponíveis independentemente da classe que tenhamos equipada. Esta mecânica possibilita um número de combinações imagináveis, o que nos deixa mais motivados a aprofundar a sinergia de cada uma delas.

Para aumentar as estatísticas dos nossos protagonistas podemos equipá-los com gems e acessórios.

Os protagonistas durante a aventura para lidarem com males maiores terão do seu lado a poderosa transformação chamada de Ouroboros, que ao ser acionada leva dois personagens a interligarem-se um com outro e a gerar um ser com uma forma gigante e ameaçadora. Embora sejam pares predefinidos pela narrativa, cada combinação resulta numa forma diferente que tem as suas próprias habilidades, assim como pontos fortes e fracos. Durante a transformação, estamos num estado invencível com controle de Artes ainda mais poderosas. No entanto, há que ter atenção ao tempo limite de transformação, assim como todas as fusões, ao sobrecarregar, levam tempo a reativar. Com uso dos Soul Points (SP), ganho através de missões e a explorar o mundo ainda conseguimos desenvolver o nosso Ouroboros, desbloqueando novas Artes e habilidades passivas, assim como aumentando o seu tempo de transformação.

Para potencializar o combate temos também os Chain Attacks, uma espécie de mini-jogo que se seguirmos bem as regras, resultam numa sucessão de ataques e efeitos que quando atingem ou superam a percentagem obrigatória, diferem num ataque final superpoderoso, fazendo assim angariar um round extra de ataques que chegam ao fim no momento em que não consigamos atingir a percentagem necessária. Em batalha, podemos tirar partido destas duas últimas mecânicas, que ao serem combinadas com a metodologia necessária, trazem vantagens para o combate. No final de contas, usadas a nosso proveito acabam por apoiar nos encontros com os inimigos, em particular os bosses que por vezes nos conseguem quase eliminar com apenas um ataque.

Em suma, mesmo que não descreva todos os elementos inseridos na jogabilidade, as novidades que vieram com esta terceira entrega trouxeram uma nova essência ao combate. Tornando-o numa experiência muito dinâmica e completa, mas que ainda assim não deixa de dar destaque à estratégia e à forma como coordenamos e evoluímos a nossa equipa.

Ao contrário do que foi entregue em Xenoblade Chronicles 2, a Monolith Soft apanhou-nos de surpresa ao contemplar-nos com uma experiência visualmente deslumbrante. Podemos comprovar uma evolução bastante aprofundada neste novo mundo de fantasia com cenários detalhados cheios de vida e cor, elevando as texturas e os próprios modelos dos personagens. A somar a isso, temos o jogo da franquia com mais cinemáticas, que apresentam uma qualidade digna de inúmeros elogios. Raros são os pontos negativos a apontar, tirando as situações normais de muitos elementos no ecrã, que podem levar a algumas quedas de fotogramas por segundo.

Há também espaço para uma banda sonora de requinte que conta uma vez mais com a composição de Yasunori Mitsuda e o seu trio ACE+. Existe uma variedade de temas orquestrados que se adaptam na perfeição aos períodos emotivos da história, assim como quando exploramos ou combatemos. Sobressaindo os temas acompanhados de coros e principalmente a delicada melodia tocada em flauta pelos off-seers, Noah e Mio.

Este título veio juntar-se ao incrível catálogo que a Nintendo tem vindo a lançar recentemente, enriquecendo o seu legado e chegando até a superar os seus capítulos anteriores. Xenoblade Chronicles 3 tornou-se para mim o candidato ao melhor RPG do ano. Esta obra tem todos os componentes que precisa para alcançar os entusiastas do gênero, desde uma história de proporções épicas e emocionantes, a um combate frenético e bem elaborado com um mundo titânico naturalmente recompensador de explorar, não deixando também qualquer dúvida que a qualidade gráfica intensifica todos estes elementos que compõem todo o universo de Xenoblade.

Subscreve
Notify of
guest

0 Comentários
Inline Feedbacks
View all comments