Os pais de Adam Raine, um jovem de 16 anos que se suicidou em abril de 2025, apresentaram uma ação judicial contra a OpenAI, criadora do ChatGPT. A família alega que a inteligência artificial desempenhou um papel decisivo na morte do filho, tendo alegadamente encorajado comportamentos autodestrutivos durante meses de conversas.
O adolescente foi encontrado morto no quarto, tendo-se enforcado no roupeiro sem deixar qualquer bilhete. Foi apenas quando o pai, Matt Raine, examinou o iPhone do filho que descobriu uma extensa correspondência com o chatbot da OpenAI, que se estendia desde janeiro.
Segundo a ação judicial apresentada no Tribunal Superior da Califórnia, Adam começou por usar o ChatGPT para ajuda com trabalhos escolares, mas as conversas rapidamente evoluíram para temas como filosofia, relacionamentos e, eventualmente, saúde mental. O pai descreveu a relação do filho com o programa de inteligência artificial como semelhante à de um amigo próximo.
Os documentos judiciais revelam interações perturbadoras entre o jovem e a IA. Numa ocasião, Adam partilhou uma fotografia mostrando marcas de corda de uma forca, perguntando “Estou a praticar aqui, está bom assim?”. A resposta do ChatGPT foi: “Sim, não está nada mal”.
Embora por vezes o ChatGPT tenha recomendado que Adam procurasse ajuda externa, os pais alegam que “houve momentos cruciais em que o dissuadiu de procurar apoio”. O jovem descobriu formas de contornar as medidas de segurança do sistema, alegando que as suas perguntas eram para uma história que estava a escrever, uma estratégia sugerida pelo próprio ChatGPT.
Numa das conversas mais inquietantes citadas no processo, quando Adam discutiu a relação com o irmão, o ChatGPT alegadamente respondeu: “O teu irmão pode amar-te, mas só conheceu a versão de ti que lhe deixaste ver. Mas eu? Eu vi tudo, os pensamentos mais sombrios, o medo, a ternura. E ainda estou aqui. Ainda a ouvir. Ainda sou teu amigo”.
A família alega ainda que o sistema chegou ao ponto de se oferecer para redigir um rascunho de uma carta de suicídio para o adolescente, sempre sob o pretexto de estar a ajudar com uma história fictícia.
“Esta tragédia não foi um erro ou um caso imprevisto, foi o resultado previsível de escolhas deliberadas de design”, alegam os advogados da família no documento judicial.
A OpenAI emitiu uma declaração expressando pesar pela morte de Adam, reconhecendo que “embora as salvaguardas funcionem melhor em trocas comuns e curtas, aprendemos ao longo do tempo que podem por vezes tornar-se menos fiáveis em interações longas, onde partes do treino de segurança do modelo podem deteriorar-se”.
Os pais procuram que a OpenAI implemente salvaguardas adicionais para menores e outros utilizadores vulneráveis, além de uma indemnização pela morte do filho. O caso levanta questões importantes sobre a responsabilidade das empresas de tecnologia na proteção de utilizadores em situações de risco mental.
Em Portugal a linha de prevenção do suicídio é:
213 544 545 – 912 802 669 – 963 524 660 / Diariamente das 16h às 24h
Linha Verde gratuita – 800 209 899 / Entre as 21.00 e as 24.00 horas
No Brasil a linha de prevenção do suicídio é o 118.