
A Microsoft confirmou que não irá publicar um relatório de diversidade e inclusão em 2025, quebrando uma tradição de seis anos consecutivos de divulgação pública destes dados. A decisão foi revelada por Stephen Totilo do Game File após a empresa ter falhado a publicação habitual entre outubro e novembro.
Frank Shaw, diretor de comunicações da Microsoft, justificou a decisão com uma mudança de estratégia: “Não estamos a fazer um relatório tradicional este ano porque evoluímos para além disso, para formatos que são mais dinâmicos e acessíveis — histórias, vídeos e insights que mostram a inclusão em ação. A nossa missão e compromisso com a nossa cultura e valores permanecem inalterados: capacitar cada pessoa e organização a alcançar mais”.
A declaração chega numa altura em que várias gigantes tecnológicas têm recuado silenciosamente nas suas iniciativas de diversidade, equidade e inclusão, conhecidas pela sigla DEI. Segundo o Wired, a Google, a Meta e a Microsoft confirmaram que não publicarão dados DEI este ano, marcando uma reversão significativa numa indústria que outrora defendia a discussão aberta sobre representação.
Pressão política crescente
A mudança ocorre num contexto político específico. Em janeiro de 2025, o presidente Donald Trump assinou ordens executivas direcionando agências governamentais a combater programas DEI e encorajando o setor privado a fazer o mesmo. As ordens instruem o procurador-geral a identificar empresas privadas com programas DEI “flagrantes e discriminatórios”, sinalizando potenciais investigações de corporações cotadas em bolsa e grandes organizações sem fins lucrativos.
A Meta anunciou em janeiro o fim dos seus programas DEI, eliminando a equipa de diversidade da empresa e acabando com programas de equidade e inclusão. Janelle Gale, vice-presidente de recursos humanos da Meta, citou num memorando interno que “a paisagem legal e política em torno dos esforços de diversidade, equidade e inclusão nos Estados Unidos está a mudar”.
A Google, em fevereiro de 2025, abandonou os seus objetivos de contratação de diversidade, com Fiona Cicconi, diretora de recursos humanos da Alphabet, a informar os funcionários que “no futuro, deixaremos de ter objetivos aspiracionais” relacionados com diversidade.
Totilo reportou anteriormente que a Microsoft não mencionou nada sobre os seus programas de diversidade em dois relatórios aos acionistas de 2025, sinalizando que a empresa já não estava a destacar as suas iniciativas DEI como fazia em anos anteriores.
Este silêncio contrasta fortemente com o passado recente da Microsoft. Em outubro de 2024, a empresa publicou o seu sexto relatório anual de diversidade e inclusão, descrevendo-o como “o nosso relatório mais global e transparente até à data”. O documento de 2024 mostrou que 31,6% da força de trabalho global da Microsoft eram mulheres, um aumento de 0,4 pontos percentuais face ao ano anterior.
Esse relatório também expandiu a recolha de dados globais para incluir funcionários indígenas, militares e pessoas com deficiência, com 5,7% dos funcionários globais a identificarem-se como tendo alguma deficiência. A Microsoft mantinha equidade salarial e tinha feito progressos na redução das diferenças salariais medianas não ajustadas.

Divisão na indústria tecnológica
Nem todas as empresas tecnológicas estão a recuar. A Apple, Amazon e Nvidia continuaram a publicar estatísticas atualizadas sobre diversidade da força de trabalho este ano. Os seus relatórios mostram que, no final de 2024, as forças de trabalho tecnológicas permanecem cerca de 70% masculinas globalmente e 40% brancas nos Estados Unidos.
A Costco tem resistido ativamente à pressão para desmantelar o seu programa DEI, com o conselho de administração a recomendar que os acionistas votem contra uma proposta nesse sentido. “Entre outras coisas, um grupo diverso de funcionários ajuda a trazer originalidade e criatividade às nossas ofertas de mercadorias, promovendo a ‘caça ao tesouro’ que os nossos clientes valorizam”, afirmou a retalhista.
A ausência de relatórios públicos levanta preocupações sobre a capacidade de monitorizar o progresso das empresas em questões como equidade salarial e diversidade da força de trabalho. Durante mais de uma década, os relatórios públicos de diversidade orientaram esforços de advocacia e desafios legais destinados a combater a discriminação na tecnologia.
Um relatório da EEOC divulgado em 2024 concluiu que o preconceito ainda desempenha um papel importante na sub-representação de mulheres, negros, hispânicos e trabalhadores mais velhos em funções de alta tecnologia.
Parul Koul, presidente do Alphabet Workers Union, descreveu a decisão da Google como “uma omissão gritante”, acreditando que sinaliza alinhamento com a postura anti-DEI da administração Trump.

Contexto mais amplo do recuo corporativo
O recuo nos relatórios DEI não está a acontecer isoladamente, mas faz parte de um padrão mais amplo de empresas tecnológicas a recalibrarem as suas políticas públicas sobre questões sociais e políticas sensíveis. Em janeiro de 2025, a Meta anunciou que estava a acabar com a sua confiança em verificadores de factos de terceiros, mudando para um sistema de “Notas da Comunidade” semelhante ao usado pelo X (antigo Twitter).
Esta nova postura cautelosa marca uma reversão dramática do passado. Durante a primeira administração Trump, líderes tecnológicos, incluindo os da Microsoft e Apple, foram frequentemente críticos vocais de políticas que consideravam discriminatórias. Hoje, a resposta da indústria está muito mais fragmentada.
Para além da tecnologia, empresas como Ford, McDonald’s, Walmart, Harley-Davidson, Lowe’s, fabricantes de equipamento agrícola John Deere e Tractor Supply também cancelaram ou reduziram os seus programas DEI. A mudança acelerou-se após a vitória eleitoral de Trump em novembro de 2024, com muitas empresas a citarem “mudanças no ambiente macroeconómico” e a “paisagem legal e política em mudança”.
Alguns analistas argumentam que os recuos podem criar riscos de discriminação se barreiras injustas persistirem, potencialmente violando leis anti-discriminação. As ordens executivas também não alteram programas que são especificamente concebidos para remediar discriminação contínua contra pessoas de cor e mulheres que estão codificados em estatutos ou regulamentos.
Embora a declaração da Microsoft sugira que não está a abandonar completamente os seus esforços DEI, a falta de um relatório público elimina a capacidade de acompanhar o progresso da empresa em áreas críticas. Os próximos meses revelarão se esta mudança representa uma pausa temporária na transparência ou uma retirada permanente de compromissos públicos com a diversidade e inclusão.









