
O YouTube está a enfrentar uma onda crescente de críticas depois de ter eliminado mais de 12 milhões de canais entre janeiro e setembro de 2025, num período em que a plataforma aumentou drasticamente o uso de inteligência artificial para moderar conteúdo. Criadores com centenas de milhares de subscritores relatam que os seus canais foram banidos sem aviso e com apelos rejeitados instantaneamente, enquanto o CEO Neal Mohanm recém-nomeado CEO do Ano pela revista TIME, garante que vai expandir ainda mais a moderação por IA. Encontram o nosso canal de youtube aqui.
A controvérsia intensificou-se quando o animador Nani Josh, cujo canal tinha mais de 650 mil subscritores, foi eliminado em novembro por alegado “spam/burla”, uma classificação que ele nega veementemente. A 11 de dezembro, Josh publicou no Twitter dados que deveriam “aterrorizar todos os criadores no YouTube”, 2,9 milhões de canais removidos entre janeiro e março, 2,1 milhões entre abril e junho, e impressionantes 7,4 milhões entre julho e setembro.
Josh questionou: “Devemos mesmo acreditar que 12 milhões de criadores violaram todas as políticas? Todos eles tiveram uma revisão humana justa… ou a IA do YouTube está simplesmente a eliminar canais quando lhe apetece?”.
Surpreendentemente, a conta oficial TeamYouTube respondeu diretamente ao post de Josh. A equipa da plataforma defendeu os números, alegando que muitas das eliminações recentes foram resultado de “uma burla financeira específica do Sudeste Asiático” e que “canais terminados não é igual a criadores terminados”.
Segundo a resposta oficial no twitter, o YouTube argumentou: “Tens razão que mais de 12 milhões de canais foram terminados este ano, mas varia. Por exemplo, 20,5 milhões de canais foram terminados apenas no Q4 de 2023. Canais terminados não é igual a Criadores terminados, às vezes uma conta burla pode ter centenas de canais”.
This number should terrify every creator on YouTube.
Jan–Mar 2025: 2,897,659 channels removed
Apr–Jun 2025: 2,105,778 channels removed
Jul–Sep 2025: 7,456,811 channels removedThat’s 12,460,248 channels deleted in just 9 months.
Twelve. Million. Channels.Are we really… pic.twitter.com/ZHwxfnoMgh
— Nani josh (@mister_manners_) December 11, 2025
Mas a resposta que gerou mais polémica foi quando o TeamYouTube dobrou a aposta, afirmando que o canal de Nani Josh foi “corretamente terminado” por revisores humanos da equipa de políticas. A declaração foi recebida com ceticismo generalizado.
O problema da “psicose por IA” e erros absurdos
Os exemplos de moderação falhada acumulam-se. Um YouTuber especulou que a IA do YouTube tinha aplicado restrições de idade ao seu vídeo depois de confundir uma gargalhada na faixa de áudio com “conteúdo gráfico”. Outra criadora afirmou que o seu vídeo de reação foi banido por preocupações de “segurança infantil”, mas nenhuma ação foi tomada contra o vídeo original que ela tinha visto.
O caso do YouTuber de Pokémon SplashPlate tornou-se viral, o seu canal foi banido por “roubo de conteúdo” quando, na realidade, foi outro criador que roubou e re-enviou o vídeo dele. O próprio vídeo de SplashPlate tinha marca de água. O canal só foi reinstituído a 10 de dezembro, depois de a história se ter tornado viral. SplashPlate escreveu:
“O YouTube terminou o meu canal porque ALGUÉM ROUBOU O MEU CONTEÚDO. Alguém roubou um vídeo que eu criei e publiquei no YouTube, foram terminados e o YouTube acha que eu re-enviei o conteúdo DELES, MESMO SENDO MEU E COM MARCA DE ÁGUA”.
Apesar do feedback vocal dos criadores e da onda de casos problemáticos, o CEO do YouTube Neal Mohan confirmou que a empresa vai continuar e até expandir o uso de IA para moderar conteúdo. Numa entrevista à revista TIME após ter sido nomeado CEO do Ano, Mohan defendeu a estratégia.
“A IA fará com que a nossa capacidade de detetar e fazer cumprir conteúdo violador seja melhor, mais precisa, capaz de lidar com escala”, afirmou Mohan. Ele argumenta que a tecnologia permitirá uma “nova classe de criadores” que anteriormente não tinham as competências ou equipamento necessários, ao mesmo tempo que ajudará a plataforma a combater desinformação, roubo de propriedade intelectual, burlas e o que muitos criadores apelidaram de “porcaria de IA”.
A plataforma teve um ano financeiro astronómico em 2024, mais de 36 mil milhões de dólares em receita publicitária e outros 14 mil milhões de dólares de subscrições. Nos primeiros três trimestres de 2025, o YouTube gerou mais 15% em receita publicitária do que no ano anterior.
O processo de apelo é uma farsa?
Múltiplos criadores no twitter e Reddit questionaram se revisores humanos realmente examinam os apelos, contradizendo as declarações públicas do TeamYouTube sobre processos de revisão manual. Os criadores estão a relatar rejeições automatizadas de apelos em minutos após submissão, com respostas padronizadas.
O YouTube permite apenas um apelo formal por canal terminado, e o processo passa por um formulário baseado na web. O processo carece de transparência, sem conhecimento de quem o revê, quanto tempo demora, ou se alguma vez um humano vê o pedido.
A 13 de novembro de 2025, o YouTube divulgou uma declaração abrangente abordando questões dos criadores sobre sistemas de moderação de conteúdo após maior escrutínio das práticas de terminação de canais. A plataforma confirmou que não havia bugs ou problemas conhecidos com os seus sistemas e que a “vasta maioria” das decisões de terminação foram mantidas, com apenas um punhado de casos revertidos.
Um padrão perturbador emergiu, canais só são reinstituídos depois de os criadores conseguirem atenção viral nas redes sociais. O canal de análise de filmes Final Verdict partilhou uma thread documentando uma terminação súbita relacionada com spam e posterior reinstituição após posts no twitter ganharem tração. O canal de true crime The Dark Archive teve o seu canal removido e depois restaurado após marcar publicamente a TeamYouTube.
Este padrão levanta questões sérias sobre equidade, criadores com grandes audiências ou conhecimento das redes sociais têm uma rota de recurso eficaz, enquanto criadores menores sem essa visibilidade podem simplesmente perder os seus canais permanentemente, mesmo que tenham sido banidos injustamente.








