A Netflix confirmou pela primeira vez o uso de inteligência artificial generativa numa das suas produções originais, revelando que recorreu a esta tecnologia para criar uma sequência visual na série de ficção científica The Eternaut (O Eternauta). A revelação foi feita pelo co-CEO da empresa, Ted Sarandos, durante uma conferência de resultados financeiros.
Segundo Sarandos, a equipa criativa da série utilizou IA para gerar uma cena do colapso de um edifício em Buenos Aires, Argentina. Esta abordagem permitiu não só acelerar significativamente o processo de produção como também tornar economicamente viável uma sequência que, de outra forma, seria demasiado dispendiosa para o orçamento da produção.
“Essa sequência de efeitos visuais foi concluída 10 vezes mais rapidamente do que teria sido possível com as ferramentas e fluxos de trabalho tradicionais de VFX“, explicou o executivo durante a apresentação de resultados. “Além disso, o custo simplesmente não teria sido viável para uma série com este orçamento“.
O co-CEO da Netflix enfatizou que a empresa vê a inteligência artificial como uma oportunidade para melhorar a qualidade das produções, não apenas para as tornar mais baratas. “Continuamos convencidos de que a IA representa uma oportunidade incrível para ajudar os criadores a fazer filmes e séries melhores, não apenas mais económicos“, acrescentou Sarandos.
Esta não é a primeira incursão da Netflix no universo da inteligência artificial. Em maio, a plataforma de streaming lançou uma nova funcionalidade de pesquisa alimentada por IA para dispositivos móveis, que permite aos utilizadores encontrar conteúdos através de frases conversacionais como “algo engraçado e animado” ou “histórias sobre dançarinos”.
A empresa também anunciou planos para utilizar IA na integração de intervalos publicitários com os seus programas e filmes, permitindo aos anunciantes exibir os seus produtos em contextos temáticos específicos das produções, como um fundo inspirado em Stranger Things.
A utilização de inteligência artificial na indústria do entretenimento tem gerado debate intenso, especialmente após as greves de guionistas e atores de Hollywood em 2023, que incluíram preocupações sobre o impacto desta tecnologia no emprego e na criatividade. A Netflix parece estar a posicionar-se como pioneira na adoção responsável desta tecnologia, apresentando-a como uma ferramenta complementar aos métodos tradicionais de produção.
The Eternaut (O Eternauta), baseada na banda desenhada argentina criada por Héctor Germán Oesterheld e Francisco Solano López, representa assim um marco na utilização de IA generativa pela Netflix, estabelecendo potencialmente um precedente para futuras produções da plataforma.