Vigil: The Longest Night, é um jogo publicado pela Another Indie, e criado pela equipa da Glass Heart Games. Esta trata-se de uma das mais interessantes apostas Indie deste ano, pois o jogo retira elementos de diversas séries de sucesso, enquanto tem como premissa manter a qualidade de uma grande aventura 2D. Ao longo desta análise PC Steam veremos se o jogo alcança a sua meta desejada.

Maye Town é uma cidade independente situada a leste do Império, anteriormente conhecida como Diqbushire e um local importante na história do reino. Muitas crianças eufóricas relatavam as histórias da Guarda Imperial e das suas grandiosas batalhas repletas de determinação e heroísmo. Esta infelizmente é uma glória do passado, e que apenas vive nos livros de história. Desde que a Longa Noite, se abateu no reino há muitos anos, que o sol não irradia e agracia Maye Town com a sua presença. A outrora cidade movimentada transformou-se num local de repouso numa terra cada vez mais cruel e selvagem. A pacata cidade tornou-se no lar de muitas pessoas e de uma religião que se ergueu para recalcar o sofrimento dos seus habitantes. É no rescaldo destes acontecimentos que conhecemos a heroína desta macabra história, Leila. Esta esteve ausente durante anos a treinar para se tornar numa Vigilante, uma força de mercenários de elite que viaja pelas terras assassinando as criaturas demoníacas que aí vivem e a troco de moedas de ouro resolver qualquer problema que invada a mente dos seus clientes. Leila depois de completar o seu treino, encontra-se de regresso à cidade para se encontrar com Daisy, a sua irmã. O que pensávamos ser uma emocionante reunião de irmãs, depressa se tornou numa intriga crescente. Bruna, a lindíssima sacerdotisa e Daisy encontram-se desaparecidas, a cidade vive momentos de inquietação onde muitos até comentam que Daisy poderá ser a responsável pelo seu desaparecimento. Leila, a troco da dignidade da sua irmã parte em socorro de Bruna e tenta descobrir o paradeiro desta.

Vigil: The Longest Night, é uma aventura do sub-género Metroidvania, onde não existem níveis e todo o mundo se encontra interligado através de uma infraestrutura sólida.  Este não se acanha e retira os seus melhores elementos das aventuras de Castlevania, do recente Bloodstained, e de outro jogo que certamente não será desconhecido para ninguém, Bloodborne.  Diríamos mesmo que narrativamente e esteticamente, Vigil: The Longest Night, tomou como principal molde a célebre aventura criada pela FromSoftware. Tal como o jogo de Miyazaki, Vigil: The Longest Night, tem como base de enredo, o terror cósmico criado por H.P Lovecraft, onde o medo e a adoração são confrontados com a compreensão e limites psicológicos humanos. Este efeito herdado de Bloodborne, está simbioticamente impregnado em todas as suas mecânicas e elementos, aliás o jogo até faz questão de se assemelhar o máximo possível destes. Desde os próprios menus de jogo, Leila, vestir uma indumentária praticamente igual ao nosso Hunter – todas os itens modificam esteticamente a personagem – usar uma variante da Saw Cleaver, e a história ser retalhada e praticamente ser narrada através dos seus itens. Na superfície a narrativa é bastante minimalista, contudo se mergulharmos a fundo na mesma com base no pouco do que sabemos, e juntarmos o lore próprio do jogo com as suas personagens e os itens que amealhamos, imediatamente vamos descobrir segredos macabros e práticas que desafiam a sanidade de algumas personagens. O enredo na totalidade pode ser visto como um grande ‘puzzle’ e caberá ao jogador juntar todas as suas peças para desvendar grande parte deste e das motivações das suas personagens. Este efeito assenta que nem uma luva no ecossistema do jogo. Não existem quests secundárias sem sentido, cada uma aumenta exponencialmente não só a história principal como incentiva o jogador a mergulhar mais na mesma.

Os elementos do clássico da PlayStation 4 não se ficam apenas pela sua narrativa, a própria jogabilidade também herda bastante do mesmo. Leila também tem uma barra de resistência semelhante ao que encontramos nos jogos Soulsborne, e a jogabilidade além de justa é incrivelmente punitiva. Bastaram apenas alguns golpes para qualquer inimigo derreter a nossa barra de vida. Felizmente a nossa vigilante conta com uma vasta gama de armamento, e uma skill tree dispersa em várias áreas. Cada criatura que Leila conquista dá além de moedas de ouro uma pequena quantidade de experiência, assim que ela amealha suficiente para subir um nível, pode desbloquear uma técnica ou elemento para si ou para o seu armamento. Estas dividem-se em quatro categorias. Espadas, lâminas duplas, machados, e efeitos para o jogador. Enquanto as três primeiras são alusivas a armamento a última corresponde a efeitos estatísticos para o jogador, tais como melhorar defesa, itens de cura, etc. Este sistema como um núcleo cria um efeito muito refrescante e evolutivo para o jogador, pois cada arma adequa-se ao perfil de cada jogador. Para quem desejar uma jogabilidade mais equilibrada a espada será certamente a melhor opção. Para quem desejar colocar todo o foco na velocidade as lâminas duplas serão a melhor via. Para os jogadores que desejem poder bruto acima de tudo devem selecionar os machados, convém referir que muitas destas armas possuem subclasses tais como foices ou até pás e Leila ainda dispõe de um arco e flecha, e magias arcanas como elementos secundários de ataque. Os jogadores que desejarem conquistar as criaturas da noite com mais facilidade têm ao seu dispor a forja local para melhorarem os atributos do seu armamento. Para melhoramos estas precisamos estar em posse de uma pedra brilhante, se desejarmos encantar a nossa arma com alguns elementos como o fogo, trovão ou água teremos de ter em posse uma pedra de encantamentos correspondente a cada elemento.

Algumas destas serão determinantes para conquistarmos os brutais confrontos com bosses. Estes não terão a mínima misericórdia do jogador e certamente serão a maior barreira que Leila terá de enfrentar. Felizmente com a destruição destes, a nossa vigilante recebe uma habilidade extra que abre caminho a muitas áreas anteriormente limitadas. Com a conquista do primeiro boss Leila recebe o duplo salto que abre portas ao ponto mais alto do cemitério da vila, e algumas áreas opcionais com novos itens para recompensar o jogador.

Vigil: The Longest Night, depois de abrir o seu jogo com a conquista do segundo boss, deu lugar a um sem fim de áreas novas, novos desafios e inimigos ainda mais desafiantes. Este sentimento contribuiu para muita intimidação, pois além de quests secundárias atiradas de rajada, o jogador depressa se sentirá confuso, talvez seja este o efeito criado pela equipa já que Leila também sentiu o mesmo.

O jogo da Glass Heart Games, é também portador de um estilo visual absolutamente brilhante. A sua estética como já referimos pode ser muito semelhante a Blooborne, mas o desenho das suas personagens e os seus ambientes certamente que remete às belas obras da Vanillaware. A sua estética 2D é de uma beleza imensa, e é bastante semelhante à arte apresentada em Dragon’s Crown. As personagens são variadas praticamente nenhum NPC é igual, todos possuem uma identidade muito própria e mesmo os inimigos são variados, de longe de estão as color swaps ou simples variações de tamanho diferentes. Os seus ambientes também são diversificados e apresentam interessantes efeitos de Paralax. A nossa vigilante viajará por catacumbas claustrofóbicas, florestas densas, cemitérios sombrios, minas abandonadas ou castelos em ruínas, a forma como as áreas se interligam também além de convincentes estão bem retratadas no ambiente do jogo. Neste capítulo apenas podemos relatar pequenas falha, por vezes as hit boxes dos inimigos ou superfícies que Leila poderá agarrar para subir, não se destacaram bem do cenário, e aconteceram situações onde perdemos a partida por cairmos de longas falésias, superfícies que pareciam plataformas, ou desviarmos a rolar de um ataque que parecia se tratar de tal para acabarmos por sofrer dano.

Outro elemento igualmente belo é a sua banda-sonora composta por diversos estilos e orquestrada à base de violas, pianos, clarinetes e até guitarras elétricas, tal como o resto do seu pacote geral, é variada, imersiva e assenta em todos os seus momentos e ambientes, pena que algumas faixas sejam demasiado recorrentes. A banda-sonora na totalidade consegue moldar-se de uma maneira bem interessante, e é bastante modelar pois o próprio ambiente consegue modificar imediatamente a música de fundo de sombria para algo mais determinado e consequentemente heroico.

Tecnicamente não existem opções gráficas no jogo aparte da resolução. Vigil The Longest Night, suporta resoluções 4K e no nosso equipamento foi consistente mantendo-se praticamente sempre nos 120 fps, descendo apenas em raras ocasiões como em ambientes com longas quedas de água. Certamente que ao longo desta análise já se aperceberam que o jogo se encontra totalmente localizado para Português do Brasil nos seus textos, além desta podemos contar com outras línguas como inglês, alemão francês, chinês ou espanhol.

Vigil The Longest Night, trata-se uma aventura maravilhosamente concebida tendo atenção o rigor envolto num pacote de luxo e de grande qualidade. A sua estética, personagens e própria dimensão irão certamente cativar os jogadores de Bloodborne, e adeptos de jogos Metroidvania. Estamos perante um dos melhores jogos Indie deste ano na nossa opinião. Não temas a noite, sê forte e enfrenta o tenebroso, enigmático e belo mundo na noite mais longa de 2020. Poderíamos dizer que Vigil: The Longest Night, é o Bloodborne dos 2D, mas essa seria uma afirmação demasiado recorrente a um jornalismo pobre.

Bruno Reis
Vindo de vários mundos e projetos, juntou-se à redação do Otakupt em 2020, pronto para informar todos os leitores com a sua experiência nas várias áreas da cultura alternativa. Assistiu de perto ao nascimento dos videojogos em Portugal até à sua atualidade, devora tudo o que seja japonês (menos a gastronomia), mas é também adepto de grandes histórias e personagens sejam essas produzidas em qualquer parte do globo terrestre.
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madmonkey mcknight
madmonkey mcknight
16 , Outubro , 2020 11:31

Esse jogo está muito bem conseguido

Bruno Reis
Bruno Reis
Reply to  madmonkey mcknight
10 , Novembro , 2020 3:31

Está excelente, um dos melhores (senão o melhor) Indie de 2020