Desenvolvido pela Ryu Ga Gotoku e publicado pela SEGA, Like a Dragon: Pirate Yakuza in Hawaii é uma aliciante adição à famosa série Like a Dragon (anteriormente Yakuza), que nos leva novamente para o cenário exótico e imprevisível do Havaí, explorando novos horizontes com uma narrativa que combina o universo sem lei dos piratas com o dos temíveis Yakuzas.
Desta vez os dragões Kazuma Kiryu e Ichiban Kasuga dão espaço ao Mad Dog ex-membro da família Tojo, Goro Majima, para ser o protagonista desta nova aventura. O jogo começa com o ex-yakuza naufragado numa ilha remota chamada Rich depois de um acidente desconhecido. Sem se lembrar do que aconteceu e do próprio nome, é salvo por Noah, um jovem alegre e destemido que se mostra desde o início interessado em desbravar o mundo, e pelo seu companheiro Goro, um tigre bebé que se afeiçoa a si rapidamente.
Após alguns acontecimentos, Majima acaba por se tornar capitão de um navio. Acompanhado de Noah e da sua tripulação, parte no que será a sua maior aventura pelos altos mares com o principal objetivo de recuperar as suas memórias. No entanto, veem-se envolvidos numa caça ao tesouro e numa teia de conflitos contra piratas e ex-membros da Yakuza.

Foi interessante escolherem um dos personagens favoritos dos fãs, colocando-o como protagonista principal numa jornada mais exótica que as anteriores, sem perder o dramatismo e o humor característico dos títulos passados que trouxeram fama à série.
A história embora não seja complexa, combina bem os elementos típicos da cultura yakuza com a temática pirata, criando um mundo diversificado que dá a conhecer melhor as várias facetas de Majima graças à sua falta de memória. Digamos que é uma jornada de auto-descoberta, com o ex-yakuza e atualmente pirata a mostrar mais da sua personalidade, enquanto encara inúmeros obstáculos, conhece novas personagens e encontra rostos familiares.
O relacionamento com os personagens continua a ser primordial para a narrativa. Por exemplo, a relação que Goro Majima tem com Noah, oferece uma dinâmica interessante e divertida, com o pequeno a partilhar naturalmente o seu ponto de vista sobre o que vê e sobre as situações que vão acontecendo, o que acaba por trazer ao de cima o lado mais empático e protetor de Majima.

O enredo é também alimentado pelas missões secundárias, que não só nos entregam os momentos mais cómicos e bizarros deste capítulo, como ainda dão a conhecer melhor os personagens e ajudam a expandir o universo do jogo. Para além das missões que nos levam a caçar tesouros em ilhas remotas, damos por nós a comunicar com os animais a partir de um capacete, à procura da companhia perfeita para o chefe cozinheiro do nosso navio ou a concretizar o sonho de um idoso que anseia partir pelos mares no papel de um pirata.
Devem ter em consideração que apesar deste jogo ser um spin-off, a narrativa de Like a Dragon: Pirate Yakuza in Hawaii situa-se seis meses depois dos eventos de Like a Dragon: Infinite Wealth, sendo que é aconselhável para os fãs jogarem a última entrada principal da série porque durante o jogo vão aparecendo pormenores e alguns spoilers que podem comprometer a experiência num todo.
A série Yakuza mudou o nome para Like a Dragon em 2022.
A grande novidade de Like a Dragon: Pirate Yakuza in Hawaii são as suas batalhas navais. Depois de adquirirmos o nosso navio batizado de Goromaru, partimos para o mar que se apresenta dividido por mapas. Cada uma destas áreas é composta por diversas ilhas que podemos invadir e lutar contra piratas para conseguirmos os seus tesouros, por diversos navios inimigos e também por faróis que não só servem de pontos de viagem rápida como também para recuperar dos danos, melhorar o nosso navio, e organizar a tripulação.

Durante a exploração naval vamos adquirindo materiais que são necessários para a compra de armas e melhorar Goromaru. No entanto, apesar dos perigos do alto mar, desde tempestades e ataques de navios piratas, explorar os oceanos pode tornar-se uma tarefa aborrecida dado que o nosso navio demora demasiado tempo a deslocar-se, ainda que tenhamos caminhos desenhados em forma de anéis que aumentam a velocidade da deslocação e possamos ativar uma barra de nitro que faz o mesmo efeito por segundos.
Por outro lado, temos à nossa disposição um navio completamente personalizável, onde podemos equipar canhões, metralhadoras, melhorar o seu desempenho e até modificar o seu aspeto. Além disso, contamos com diferentes tipos de armamento, que vão desde canhões de gelo até lança-chamas.
A nossa tripulação é outro fator que devemos ter em consideração para que o navio funcione. Durante a jornada, seja nas missões secundárias, atividades ou durante as missões principais, vamos angariar novos membros para a nossa tripulação. Cada um dos tripulantes tem a sua função, seja ligada ao combate naval como às lutas que sucedem no convés. Deste modo, devemos olhar para as suas características para sabermos a que função estão mais adequados e também interagir com eles através de presentes ou de pequenas atividades dentro do navio de modo a poder aumentar o nível de cada um e manter a moral dos tripulantes ao rubro.

Já o combate naval é simples de aprender e de dominar. As batalhas implicam o uso da metralhadora e dos canhões de cada lado, mas para sairmos vitoriosos temos de manter sempre a nossa tripulação no ativo para termos acesso permanente ao nosso armamento. Para além de comandar Goromaru, Majima também desempenha o papel de atacante, aproveitando uma bazuca para atacar os navios inimigos. Durante estas batalhas, por vezes invadimos os navios inimigos para uma luta em pleno convés, que envolve uma briga intensa entre tripulações onde o objetivo passa por derrotar todos os membros da equipa adversária.
Ainda que seja divertido e demonstre alguma variedade, poucas são as novidades implementadas neste campo, o que não faz este ponto brilhar como devia. As batalhas ao fim de um tempo começam a tornar-se repetitivas e a própria exploração apresenta os seus problemas.

Algo que gostei em Like a Dragon: Pirate Yakuza in Hawaii foi o seu combate que volta a apostar na estrutura clássica da série, o combate em tempo real que apresenta uma combinação de ataques leves, pesados, especiais e defesa, onde o timing é crucial para realizar combos para vencer os inimigos. No entanto, o jogo introduz novos sistemas e mecânicas para adicionar alguma novidade ao combate.
À semelhança dos anteriores Yakuzas, Majima pode alternar entre dois estilos de luta: o Mad Dog Style que usa uma abordagem agressiva em combate, focada em ataques rápidos e pesados em grande velocidade, com a sua faca à mistura, e temos depois o Sea Dog Style, com uma abordagem mais focada na destreza e no ataque à distância, especialmente indicado para encarar grupos maiores de inimigos, tendo à sua disposição duas espadas e mais tarde uma pistola e um gancho.
Além disso, cada um destes estilos possui uma habilidade especial. Quando utilizamos o Mad Dog Style podemos invocar vários doppelgangers de Majima que são uma ótima ajuda em combate, enquanto no Sea Dog Style, podemos recorrer a um dos quatro instrumentos amaldiçoados que estão conectados a quatro divindades sombrias que quando invocadas são capazes de provocar danos muito altos.
O protagonista possui também uma lista de habilidades por desbloquear que incluem novos ataques para os dois estilos, novos combos e ainda a possibilidade de aumentar o ataque e outras características. Alguns destes ataques, os chamados Heat Actions, são ativados em momentos específicos da luta, o que nos leva a analisar o ambiente para retirarmos o melhor proveito do que nos rodeia.
Podemos ainda equipar anéis que proporcionam diversos efeitos, como o aumento do ataque e defesa, mais sorte, e outros. Tudo isto que falamos até agora torna o combate bastante extravagante e divertido, oferecendo uma boa gama de habilidades e movimentos, juntamente com um arsenal variado que combina bem com a personalidade insana de Goro Majima.
Porém, mesmo no modo dificuldade profissional, precisamos de pouco esforço para derrotar os oponentes, ao contrário de Like a Dragon e de Infinite Wealth, onde a dificuldade escalava conforme avançávamos na história, tornando as nossas disputas (embora por turnos) mais estratégicas e interessantes. Ainda que este método esteja presente em Like a Dragon: Pirate Yakuza in Hawaii, nota-se que o jogo adotou uma abordagem relativamente mais ligeira no desafio, talvez para que novos jogadores possam aproveitar a história e o combate sem grandes problemas.

Em Honolulu e noutras ilhas, Pirate Yakuza in Hawaii oferece uma variedade de atividades que não só expandem a experiência como também proporcionam inúmeras horas de entretenimento. Temos por exemplo o clássico Karaoke, as entregas alucinantes de Crazy Delivery, as corridas de Kart em Dragon kart, jogos de dardos e bilhar, os jogos tradicionais japoneses e até as arcadas da SEGA.
Existem também outras distrações que passam por pôr em prática as habilidades de cozinheiro de Majima, ou mesmo adotar animais para a nossa quinta e também caçar bandidos procurados que oferecem excelentes recompensas a nível monetário. Algumas destas atividades proporcionam itens únicos que conseguimos obter com os pontos que vamos angariando sempre que jogamos uma partida.
Por fim, a ilha sem lei, Madtlantis, é mais uma das novidades do jogo onde podemos descobrir atividades ligadas ao submundo dos piratas. Neste espaço para além dos variados jogos, como o golf explosivo e poker, podemos entrar no coliseu para competir em torneios de batalha naval que vão sendo desbloqueados conforme aumentamos o nosso rank.
Os gráficos de Like a Dragon: Pirate Yakuza in Hawaii seguem a linha dos atuais títulos da franquia, continuando a apostar em ambientes vibrantes e em animações fluídas, sobretudo durante os combates e cinemáticas. A adição de um cenário tropical e marítimo, revela um contraste interessante com os cenários urbanos da série anterior, como o distrito de Kamurocho. Neste spin-off houve ainda uma grande atenção aos detalhes no que toca aos ambientes das ilhas e dos navios, principalmente do nosso navio Goromaru.

Apesar de apresentar uma série de pontos positivos neste campo, estão presentes as habituais falhas técnicas da série. Começamos pela iluminação que em certas situações está demasiado exagerada, bem como as texturas, que em algumas áreas do jogo demoram a carregar e às vezes aparecem esbatidas. Fora as cutscenes, os modelos dos personagens não são apelativos nem demonstram grande preocupação a nível expressivo.
O visual de Goro Majima é totalmente personalizável: desde o cabelo, maquilhagem até às roupas e acessórios.
Porém, outro dos aspectos que se destaca pela positiva é a banda sonora, que mais uma vez, faz uma grande mistura de estilos musicais, que vão do rock até ao pop japonês. Há também notas inspiradas nas temáticas representadas no jogo que capturam muito bem a essência do ambiente havaiano e pirata.
Like a Dragon Pirate Yakuza in Hawaii é mais uma das experiências especiais do Ryu Ga Gotoku Studio, que se evidencia facilmente pelo protagonismo de Goro Majima, pelo combate e narrativa excepcional. Embora tenha presente novidades interessantes, como as batalhas navais e uma boa variedade de atividades secundárias, alguns aspectos, como a repetitividade do combate naval e a dificuldade, poderiam estar melhores. Este título é uma ótima oportunidade para os novos jogadores conhecerem o mundo excêntrico e envolvente da série Like a Dragon/Yakuza, que certamente também vai agradar aos fãs de longa data.