Caso não estejam familiarizados com a série Battlefield, esta acompanha-nos já há várias décadas e, como qualquer franquia de renome, tem passado por altos e baixos. Depois de um jogo que ficou muito aquém das expectativas, a Electronic Arts decidiu apostar tudo e enfrentar diretamente a concorrência com Battlefield 6. O confronto entre a Electronic Arts e a Activision promete ser um dos mais intensos de 2025. Mas será que este regresso às origens conseguirá manter Battlefield 6 como o último sobrevivente nesta guerra? À partida Battlefield 6 conquista pontos suficientes para deixar uma sensação de vitória, mas, no calor da batalha, acaba por deixar várias frentes abertas.

A DICE, Ripple Effect, MotiveCriterion Games, sob a alçada dos Battlefield Studios juntamente com a Electronic Arts decidiram disparar à queima-roupa sobre os ambientes futuristas de Call of Duty: Black Ops 7 na tentativa de nos transportar de volta à idade de ouro de Battlefield 3.

A campanha de Battlefield 6 marca o regresso da estrutura linear à série. Mesmo que estejamos perante um modo singleplayer o jogo exige que cada vez que este ou outros sejam jogados, nos liguemos aos servidores. Se estiverem todos ocupados os jogadores vão ter de ficar em fila de espera, felizmente é bem rápida, mas não me impediu de viver a experiência “Day One” de Battlefield 6. De um modo geral a fórmula clássica da campanha mantém-se, depois de Battlefield 2042 a ter abdicado e do primeiro Battlefield e Battlefield V terem apostado em narrativas independentes. Desta vez, a história transporta-nos para um contexto geopolítico em que a NATO começa a desmembrar-se. Portugal e outros países europeus abandonam a coligação atlântica e deixam os Estados Unidos sozinhos perante a ameaça da Pax Armata, uma poderosa empresa militar privada. Fortalecida por múltiplos contratos, a Pax Armata lança-se numa guerra total. Felizmente, os EUA contam com a Dagger 13, uma unidade da Marinha norte-americana que percorre o globo para descobrir a origem desta milícia e pôr fim às suas operações.

O modo campanha é apenas um extra

Em termos narrativos, a campanha é um autêntico blockbuster no pior sentido da palavra. A história é previsível e tenta construir um relato épico e patriótico, mas fica por um filme de guerra B dos anos 80 e muito aquém do que ambiciona. O guião é simplista e desperdiça a oportunidade de explorar um conflito com relevância atual, sobretudo tendo em conta as tensões na NATO e a guerra entre a Ucrânia e a Rússia. Para piorar, as informações contextuais de cada missão são vagas e superficiais.

As personagens têm pouca importância, apresentadas num estilo característico “G.I. Joe”, com diálogos forçados e caracterizações exageradamente estereotipadas. Os antagonistas também não convencem e são introduzidos de forma confusa e apressada. O jogo parte do princípio de que o jogador conhece tudo e todos, quando na realidade o único objetivo que existe é seguir em frente e disparar sobre tudo o que se mexe. Muitas das nove missões que compõem a história parecem retiradas diretamente de outros jogos. As comparações com a série Call of Duty: Modern Warfare são inevitáveis e até existe um “Ghost” que nos acompanha nas cerca de sete horas de jogo deste modo. Nada do que acontece tem grande peso narrativo devido às falhas estruturais e constantes flashbacks que impedem que o jogador se dedique a conhecer os membros da Dagger 13. Ainda assim, quem apenas procura ação frenética vai certamente encontrá-la aqui.

Contudo, existem momentos impressionantes, tais como o desembarque nas ruas de Gibraltar ou a batalha final, que proporcionam instantes de imersão máxima e relembram os melhores tempos da série. A guerra moderna, explosiva e caótica, continua a ser o grande cartão de visita da DICE. Em termos de gameplay, e ao contrário de alguns shooters, existe alguma diversidade, mas nada de verdadeiramente novo. Missões em larga escala, com diferentes membros da equipa em cada missão em operações furtivas ou batalhas a bordo de veículos multares. O jogador pode ainda dar ordens à sua equipa, composta por membros de diferentes classes. Apesar de ser rejogável nas dificuldades “Veterano” e “Hardcore”, o modo de campanha é, sem dúvida, o elemento mais fraco de Battlefield 6.

Battlefield 6 possui um vasto armamento mesmo nas classes base

As transições entre cenas guionizadas são pouco fluidas, a inteligência artificial dos aliados e inimigos é fraca, o level design é demasiado linear, e muitos adversários limitam-se a ficar parados à espera de serem abatidos. A física é inconsistente, especialmente nos veículos, e o resultado final é uma oportunidade desperdiçada. Nem a mensagem pró-NATO e pró-EUA consegue ganhar força devido à falta de estrutura narrativa. É certo que os jogos Battlefield 6 nunca se destacaram pela história, felizmente o mesmo não se pode dizer dos modos multiplayer. É neste ponto que Battlefield 6 atinge todo o seu potencial. Divertido, intenso, frenético e viciante, estes são os adjetivos que melhor descrevem os explosivos e reformulados modos multiplayer do jogo. Posso afirmar com todas as certezas que Battlefield reencontrou o que perdeu nos anteriores jogos e está de volta melhor do que nunca, especialmente no intenso modo Conquest onde o caos reina e somos atirados para combates na terra e ar em equipas de 32 contra 32.

Para começar a mobilidade do jogador foi amplamente melhorada. Em Battlefield 6 é possível movermo-nos mais rapidamente em posição agachada, deslizar ou rebolar após uma queda, sem dúvida que são mecânicas inspiradas noutros shooters, mas que não descaracterizam a essência de Battlefield. Desde os primeiros trailers ficou claro que Battlefield 6 recuperou a sua identidade, ou seja, destruição impressionante, veículos dominantes e uma ênfase renovada na cooperação. Jogar com amigos é particularmente divertido, especialmente devido à nova função que permite arrastar aliados caídos, o que inevitavelmente também condiciona algumas gargalhadas no chat de voz.

Ao contrário do anterior, o arsenal inicial é sólido e diversificado, com armas altamente personalizáveis e distintas entre si. O sistema de progressão pode parecer lento ao início, mas contribui para a longevidade do jogo. Os desafios para desbloquear visuais e dispositivos são exigentes e recompensadores.

As classes abertas, que permitem escolher qualquer arma, funcionam melhor do que o esperado, infelizmente os glitches a cada escolha de armamento e uma UI confusa, tornam-se contraprodudentes, julgo que uma UI deve ser clara, simples e informativa. Ainda assim, continuo a preferir as armas padrão de cada classe. A Recon mantém-se como sniper de elite, enquanto a Assault continua forte e individualista. Contudo, o support perde relevância, sendo que inicialmente está equipado com uma metralhadora leve de pouco prática, e basicamente presta funções de cura e reabastecimento.

Quem preferir o sistema clássico pode optar por listas de partidas com armas fixas ou até servidores personalizados através do Battlefield Portal, onde até já foram criados mapas de Call of Duty pelos fãs, tais como o célebre mapa de contentores de Call of Duty 4: Modern Warfare de 2007.

A campanha embora fraca é modelar porque controlamos vários membros da Dagger 31

Apesar do seu potencial, Battlefield 6 não é a experiência de guerra definitiva que o marketing prometia. O modo multiplayer, embora sólido, fica aquém dos episódios anteriores da série. Os mapas são competentes, mas pouco memoráveis. O melhor é Operação Firestorm, uma recriação de um mapa de Battlefield 3. No entanto, a variedade é escassa e muitos cenários urbanos carecem de verticalidade e elementos dinâmicos. Seige of Cairo e Empire State recordam bons mapas urbanos do passado, mas Battlefield 6 não atinge a grandiosidade de um Caspian Border, Damavand Peak ou Siege of Shanghai. Além disso, os mapas são totalmente estáticos, sem colapsos de estruturas ao contrário dos jogos anteriores.

Também não há clima dinâmico, ou seja, chuvas torrenciais, tempestades de areia ou tornados como em Battlefield 2042. A ausência de combate naval também pesa, embora exista o rumor que a Electronic Arts vai adicioná-lo futuramente. Embora regressem pormenores visuais, tais como armas cobertas de pó e sangue, faltam algumas animações icónicas, tais como a entrada nos veículos com os pés por diante. Quanto a bugs, encontrei alguns na interface e reaparições sob o mapa, além de falhas ocasionais de colisão que fazem o jogador saltar indevidamente. São problemas menores, mas que exigem correção. Battlefield 6 dá a entender que devia ter ficado um pouco mais de tempo nas barracas, porque a sua fundação base está aqui, mas pequenos detalhes não o permitem alcançar melhores posições nos campos de batalha online.

O que também ficou aquém do esperado foram inexplicavelmente os grafismos. Embora Battlefield 6 apresente um vastíssimo leque de opções gráficas, os seus visuais podem ser descritos como “mistos”. Em determinados momentos, o jogo consegue ser impressionante e digno de uma verdadeira experiência de nova geração. No entanto, há outras ocasiões em que mais parece um Call of Duty: Modern Warfare 2 de 2008.

A discrepância entre texturas é tão grande que confere ao jogo um aspeto artificial e inconsistente. Basta observar as texturas de baixa qualidade em algumas superfícies, tais como lama ou a uma iluminação desprovida de elementos e direção em determinadas cenas dentro de edifícios para perceber este contraste visual.

Por vezes é difícil saber visualmente se Battlefield 6 é um produto da atualidade

Ainda assim, para melhorar a experiência, os jogadores podem ajustar a qualidade das texturas, sombras, meshes, iluminação global e muito mais. O jogo inclui também controlos deslizantes para o campo de visão, diversas opções de interface, acessibilidade e suporte para as tecnologias NVIDIA DLSS 4, AMD FSR 3.5/4.0 e Intel XeSS 2, tornando-o um dos jogos mais completos e avançados da atualidade a nível de personalização gráfica.

Contudo, o jogo não inclui de efeitos Ray-Tracing na campanha. É compreensível que os Battlefield Studios tenham optado por não implementar Ray Tracing nos modos multijogador, uma decisão sensata para manter o desempenho, mas na campanha o recurso a essa tecnologia teria ajudado a colmatar várias lacunas visuais.

Não obstante, Battlefield 6 é, sem dúvida, um dos jogos mais bem otimizados do ano. 2025 tem sido um período desastroso neste campo, com títulos como Borderlands 4 incapazes de atingir os 60 FPS. No caso de Battlefield 6, o jogo conseguiu alcançar os 120 FPS de forma nativa e sem “stutters”, mesmo nos momentos de maior intensidade.

Ao ativar as tecnologias de Super Sampling da NVIDIA, em particular a NVIDIA DLSS 4 Multiframe Generation, o desempenho aumentou significativamente, chegou mesmo a atingir mais de 400 FPS nos combates online mais caóticos.

Surpreendentemente, não foram detetados os problemas habituais associados a esta tecnologia, tais como o ghosting da interface ou o desfasamento da câmara. Este é sem dúvida, um dos jogos que melhor tira partido das ferramentas de imagem da NVIDIA. No entanto, tal como o jogo Valorant é necessário ativar o Secure Boot no sistema, este pode ser um processo intimidante para o jogador comum. Para vos ajudar tomei a liberdade de publicar um guia para não terem problemas.

Em suma, Battlefield 6 é um dos jogos de PC mais bem otimizados de 2025. Corre de forma estável e fluida, sem problemas de desempenho e sem exigir hardware de topo. No entanto, não atinge o patamar visual “next-gen” de muitos títulos desenvolvidos em Unreal Engine 5. É verdade que oferece um desempenho superior, mas a ausência de Ray Tracing faz com que os ambientes pareçam, por vezes, oriundos de outras gerações. Sem dúvida que a inclusão de Ray Tracing teria elevado significativamente a experiência visual, quem sabe numa futura atualização.

Battlefield 6 é a derradeira experiência multiplayer de 2025.

Um jogo que não teve medo de se reinventar e de enfrentar, frente a frente, os maiores colossos do seu género. Apesar de incluir um modo de campanha fraco e de apresentar visuais algo irregulares, a sua vertente multiplayer não é só sólida, como também coloca a concorrência em alerta vermelho, até porque ainda há muito potencial por explorar. Se estavam nas trincheiras à espera do regresso de Battlefield à sua fórmula clássica, podem ter a certeza de que não ficarão desiludidos com Battlefield 6.

Bruno Reis
Vindo de vários mundos e projetos, juntou-se à redação do Otakupt em 2020, pronto para informar todos os leitores com a sua experiência nas várias áreas da cultura alternativa. Assistiu de perto ao nascimento dos videojogos em Portugal até à sua atualidade, devora tudo o que seja japonês (menos a gastronomia), mas é também adepto de grandes histórias e personagens sejam essas produzidas em qualquer parte do globo terrestre.
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