
Hideo Kojima, lendário criador de Metal Gear Solid e Death Stranding, voltou a pronunciar-se sobre inteligência artificial, desta vez comparando a tecnologia emergente aos smartphones. Numa entrevista à japonesa Nikkei Xtrend o diretor argumenta que a IA representa uma mudança tecnológica irreversível, à semelhança do que aconteceu com os telemóveis inteligentes há cerca de uma década.
“Quando os smartphones apareceram, toda a gente os criticou”, explicou Kojima. “Mas agora há tantas pessoas que não conseguem viver sem os seus smartphones. A IA é assim. É importante usar a tecnologia de uma forma que nos faça felizes”.
As declarações surgem numa altura em que a indústria dos videojogos debate intensamente o papel da inteligência artificial. Recentemente, a Larian Studios, criadora de Baldur’s Gate 3, enfrentou fortes críticas depois do CEO Swen Vincke ter confirmado o uso de IA generativa em algumas fases do desenvolvimento de Divinity, o seu próximo RPG.
Para Kojima, resistir à mudança não faz sentido: “Acho que não vale a pena dizer coisas como ‘Não devíamos usar IA’ ou ‘A IA é inútil’. Não podemos voltar atrás. Os smartphones foram iguais”.
A perspetiva de Kojima alinha-se parcialmente com outros nomes da indústria. Daniel Vavra, responsável pela série Kingdom Come, expressou recentemente um sentimento semelhante: “Está na altura de encarar a realidade. A IA veio para ficar connosco. Por mais assustador que possa ser, é assim”.
Criador de Kingdom Come defende uso de IA nos videojogos: “É tempo de encarar a realidade”
IA como ferramenta de comunicação
O diretor japonês acredita que a inteligência artificial poderá transformar profundamente a forma como comunicamos. Kojima sugere que a tecnologia poderá ajudar pessoas com ansiedade social a comunicarem melhor em situações presenciais, um tema recorrente nos seus jogos, particularmente na saga Death Stranding, que explora precisamente questões de conexão e comunicação humana.
Kojima explicou: “Há uma possibilidade de que a disseminação da IA mude muito a forma como comunicamos. Há pessoas que não são boas a falar cara a cara, e com a IA a compensar isso, talvez possam aproximar-se de outros… Seria sem dúvida conveniente”.
Contudo, o criador não ignora os riscos. Kojima confessa preocupações sobre o impacto da tecnologia na comunicação humana e defende que as pessoas devem estabelecer limites no uso de IA: “Tenho a sensação de que os humanos se tornariam mimados. Por isso, precisaríamos de fazer coisas como reduzir o envolvimento da IA, ou ter dias em que não a usamos”.
Na mesma entrevista, Kojima partilhou ideias surpreendentes para futuros projetos. O realizador revelou querer criar “um jogo jogado em gravidade zero” e “um jogo que encante uma IA”, este último funcionaria como material educativo para treinar inteligências artificiais.
Kojima esclareceu que “A IA ainda não sabe muito, e acho que tem de estudar mais. Seria um jogo que é um material de ensino para a IA estudar”, prevendo que a inteligência artificial irá penetrar em muitos mundos diferentes nos próximos cinco a dez anos.
Atualmente, a Kojima Productions trabalha em dois projetos de grande dimensão: OD, um título de terror exclusivo para Xbox desenvolvido em parceria com a Microsoft, e Physint, um jogo de ação e espionagem exclusivo para PlayStation que promete esbater as fronteiras entre cinema e videojogos.
O debate continua
As opiniões de Kojima não são consensuais. Um produtor de Silent Hill f afirmou recentemente que a IA não conseguirá fazer as “escolhas ousadas” que os humanos fazem. Muitos profissionais da indústria expressam preocupações legítimas sobre perdas de emprego e o impacto ambiental das infraestruturas de IA.
Artistas conceptuais de videojogos têm afirmado que usar IA generativa não torna as coisas mais fáceis, contrariando a narrativa de que a tecnologia é meramente uma ferramenta de apoio. A controvérsia em torno da Larian Studios ilustra bem a sensibilidade do tema, mesmo garantindo que nenhum conteúdo gerado por IA aparecerá no jogo final, o estúdio viu-se obrigado a agendar uma sessão AMA no Reddit para janeiro de 2026, onde diferentes departamentos esclarecerão dúvidas sobre o processo de desenvolvimento.
Kojima mantém-se firme na sua posição pragmática, sublinhando que é essencial usar a tecnologia “de uma forma que nos faça felizes” enquanto se considera “a direção correta que deve tomar”.









