O diretor da adaptação para série anime do mangá Frieren: Beyond Journey’s End (Sōsō no Frieren), Keiichirō Saitō, expressou preocupações sobre o impacto que as preferências dos fãs ocidentais estão a ter na diversidade criativa do anime. Em declarações recentes, o também realizador de Bocchi the Rock! alertou para uma possível “desconexão” entre criadores e audiências devido ao foco excessivo em tendências populares.
“Tenho tido oportunidade de participar em convenções no estrangeiro e interagir com fãs ocidentais, e tenho uma sensação vaga de que o anime que enlouquece os fãs estrangeiros pode estar um pouco enviesado“, afirmou Saito. O diretor considera que, embora as coisas populares sejam naturalmente populares, “forma-se uma grande corrente” que pode criar problemas para os criadores.
A preocupação de Saito surge no contexto da sua participação no Global Anime Challenge (GAC), um programa destinado a investir e alargar as perspetivas dos criadores de anime à escala global. Juntamente com o produtor de animação Takafumi Nakame, ambos falaram de uma sensação de estagnação no ambiente de produção japonês atual.
“Se nos focarmos demasiado nisso, apenas esse aspeto se torna enfatizado como a característica definidora do anime“, explicou Saito. “Antes que chegue a esse ponto, sinto que é importante partilhar o apelo diverso do anime com o mundo. Tenho o desejo de criar obras que possam atrair a atenção mundial através de várias abordagens“.
Esta perspetiva não é isolada na indústria. Kazuchika Kise, diretor de Ghost in the Shell: Arise, criticou em 2024 a prevalência das histórias isekai, considerando “estranho que só se façam histórias isekai“. Kise chegou mesmo a mencionar uma série sobre renascer como uma máquina de venda automática, admitindo ter ficado “atordoado” com o conceito.
O veterano animador Shigeo Akahori (TEXHNOLYZE) foi ainda mais longe, argumentando que a indústria de anime está a enfraquecer devido ao foco excessivo em adaptações estritamente fiéis, em vez de dar liberdade criativa aos diretores.
O problema parece estar relacionado com o modelo atual de produção, onde muitas histórias são adaptações de mangá e light novels, frequentemente co-produzidas pelas editoras com ênfase em impulsionar as vendas da obra original. Esta abordagem comercial pode estar a limitar a experimentação criativa.
O GAC, liderado em colaboração pela Kinema Citrus (Made in Abyss, My Happy Marriage) e pela Agência de Assuntos Culturais do Japão, pretende ajudar jovens criadores a desenvolver as suas próprias propriedades intelectuais e ganhar uma perspetiva global. O programa conta com a mentoria de veteranos da indústria e a cooperação de estúdios como MAPPA, Production I.G, Trigger e Bandai Namco Filmworks.
Para Saito, a questão não é rejeitar a popularidade, mas garantir que a diversidade criativa do anime não seja sacrificada em prol de tendências momentâneas que podem rapidamente tornar-se obsoletas.