Hikaru Kondo explicou a situação crítica do estúdio Ufotable e a razão pela qual fugiu aos impostos

Recentemente noticiámos que Hikaru Kondo, o fundador do estúdio ufotable que atua também como seu presidente e diretor, foi condenado a 20 meses de prisão com pena suspensa por três anos por fugir aos impostas e a Yahoo! News Japan publicou um artigo com as declarações do criador em tribunal onde este explicou porque a companhia fugiu aos impostos.

Kondo explicou que depois de cada produção os estúdios ficavam no vermelho e que na indústria de animação de hoje, onde os comités de produção não aumentam os orçamentos, eles não podem aceitar mais nenhum trabalho.

Podemos ler:

Na segunda audiência, realizada a 1 de novembro, Kondo fez uma declaração chocante durante o seu interrogatório. Por que a nova figura carismática da indústria da animação, que produziu alguns dos maiores sucessos de todos os tempos, disse publicamente que recusou ofertas de clientes para produzir novos trabalhos e teve que recorrer à evasão de impostos?

Kondo formou-se numa universidade particular em Tóquio com um diploma em engenharia e depois de trabalhar como facilitador de produção de anime na Tokyo Movie Shinsha (agora TMS Entertainment) e outras empresas, ele fundou e tornou-se presidente da Ufotable em outubro de 2000, quando tinha 30 anos. A empresa está envolvida numa ampla gama de negócios relacionados com as suas produções de anime, incluindo televisão, teatro e planeamento e produção de jogos e administração de restaurantes, bem como vendas no varejo e pelo correio de produtos relacionados a anime e organização de eventos. Ele também participou no planeamento e produção do “Machi ★ Asobi”, um evento relacionado com anime e jogos que é realizado duas vezes por ano na sua cidade natal, Tokushima City, Prefeitura de Tokushima, por cerca de 9 anos até que foi investigado à força pelo Departamento de Inspeção do Escritório Regional de Impostos de Tóquio no início de março de 2019 e continua a participar no evento como colaborador.

Presidente do estúdio Ufotable condenado a 20 meses de prisão

Desde o ano fiscal encerrado em agosto de 2012, a Ufotable teve várias produções de animação de sucesso na televisão e nos cinemas, incluindo Fate/Zero, Fate/Stay Night, Katsugeki/Touken Ranbu e Kimetsu no Yaiba. Kondo realizou eventos relacionados com essas obras em restaurantes administrados pela empresa, como o “Ufotable Cafe” e “Machi ★ Asobi CAFE”, e vendeu produtos relacionados nesses locais, aumentando as vendas do café e produtos. No processo, a tentação da sonegação fiscal atingiu o réu.

Kondo comentou: “Na verdade, só lucramos com o café e com a venda dos nossos produtos. Graças a estes dois fatores pudemos continuar a produzir animação, mas se o nosso trabalho não for bem-sucedido e não houver perspetiva de atrair visitantes ao café ou vender merchandise, não poderemos pagar os salários dos nossos funcionários nem os custos de produção. Eu queria ter certeza de que tinha algum dinheiro para não ter que me preocupar com capital se algo desse errado“.

Em seguida, Kondo concentrou-se na mencionada exclusão das vendas dos cafés e outros restaurantes. Devido às altas comissões pagas às empresas de cartão de crédito, todos os restaurantes administrados pela Ufotable são pagos em dinheiro. Inicialmente, os funcionários de cada loja tinham acesso a uma caixa registradora para verificar os números das vendas, que depois eram recolhidos pelo réu ou seus funcionários. Porém, em algum momento, o réu bloqueou as caixas registradoras de todas as lojas para que os funcionários não pudessem verificar os números das vendas.

Kondo comentou: “Houve um período em que tínhamos muitos trabalhadores a tempo parcial que vinham ao nosso armazém a meio da noite e publicavam nas redes sociais: ‘Estou no armazém, caso queiram algo’. Eu estava preocupado que um funcionário pudesse escrever algo nas redes sociais como “Ufotable está a ganhar muito dinheiro”, então pedi ao funcionário responsável na época que contatasse o operador da caixa registradora e pedisse que excluíssem os dados da caixa registradora e restringir o acesso a ela por enquanto“.

No final, Kondo e a Ufotable reduziram os seus rendimentos ao excluir regularmente parte dos rendimentos das vendas dos vários restaurantes que exploravam e adiando o registo das vendas da obra de animação televisiva que produziam, como GOD EATER, para o ano seguinte. Ele ocultou uma receita de negócios totalizando aproximadamente 441 milhões de ienes nos três anos fiscais de 2015, 2017 e 2018, e evitou um total de aproximadamente 138 milhões de ienes em impostos corporativos (incluindo imposto corporativo local) e consumo (incluindo imposto de consumo local). Em meados de janeiro de 2019, quando a Divisão de Impostos da Repartição de Impostos Regional de Tóquio, a Secção de Investigação de Documentos e a Repartição de Impostos de Nakano conduziram uma investigação sem aviso prévio à empresa, o réu, em desgosto, deu instruções aos seus funcionários por telefone para apagar os dados das caixas registradoras. Porém, após alguns minutos, disse que notificaria a Agência Tributária como estava e que não havia nada a fazer.

Além disso, em março do mesmo ano, a Divisão de Inspeção do Escritório Regional de Impostos de Tóquio realizou uma busca forçada na Ufotable e na casa de Kondo e descobriu um total de aproximadamente 360 ​​milhões de ienes em dinheiro na casa do acusado no bairro de Suginami. O dinheiro não era guardado num cofre, mas sim colocado de uma forma aleatória pela casa. O inspetor viu um saco de papel contendo 60 milhões de ienes num depósito no quarto do filho, e o próprio réu contactou o inspetor para confirmar seu paradeiro. Até à investigação da Agência da Receita Nacional, Kondo usava o dinheiro que mantinha em casa para pagar as despesas da empresa, bem como para comprar um terreno para a sua casa (cerca de 78 milhões de ienes), para construir um estúdio que havia estabelecido na cidade de Tokushima (cerca de 110 milhões de ienes) e para comprar ações da Ufotable detidas por outros diretores (cerca de 2 milhões de ienes).

O réu declarou-se culpado de evasão fiscal e pagou todos os impostos adicionais devidos. Kondo declarou: “A minha esposa contabilista e eu coletamos o dinheiro, e o dinheiro em nossa casa incluía a minha compensação legítima e a da minha esposa. Havia muitas notas de 1.000 ienes e moedas de 100, porque deixei o dinheiro sem distinguir entre as vendas arrecadadas no café e a remuneração para mim e a minha esposa. Não tenho conhecimento de ter utilizado pessoalmente o dinheiro da empresa sonegado pelos impostos, pois só consegui custear o terreno (da minha casa) e despesas da construção com a minha legítima remuneração. Quando não estou a dormir, estou a trabalhar ou a pensar no trabalho. Não tenho hobbies e não me lembro de ter uma vida luxuosa. Eu evitei impostos porque queria ter algum dinheiro em caixa caso o negócio tivesse problemas“.

Por que Kondo estava tão preocupado com os problemas futuros da Ufotable?

Parece haver um problema estrutural na indústria da animação: “os custos de produção pagos pelo cliente (o comité de produção) são muito baixos”. Kondo explicou: “Na indústria da animação, diz-se que apenas uma em cada dez produções é um sucesso, e hoje provavelmente é ainda menos. Se não tivermos sucesso, não conseguiremos vender merchandise e os clientes não virão ao café, então se não nos esforçarmos para ter sucesso em tudo, acabaremos por perder dinheiro. A qualidade exigida para a produção de animação está a aumentar, e a minha equipa e eu esforçamo-nos para atendê-la, mas devido aos baixos custos de produção oferecidos pelos clientes, sempre terminamos no vermelho após cada produção. A nossa empresa tem sorte porque descobrimos que temos um sucesso, caso contrário, iríamos à falência. Sempre me perguntei por que estou a trabalhar numa indústria que está sempre no vermelho. Foi doloroso“.

Quando questionado pelo juiz do Tribunal Distrital de Tóquio, Akiyuki Tanaka, se seria difícil mudar a base da indústria, Kondo respondeu: “Não sei. Neste setor, era normal pagar freelancers na forma de participação individual, pelo menos quando o dinheiro entrava. No entanto, achamos impróprio pagar tão pouco por um trabalho tão árduo, então, gradualmente, mudamos para um salário mensal. Também demos ao nosso pessoal um bónus de aproximadamente o dobro do que eles tinham recebido anteriormente. A base de custos de produção está a aumentar gradualmente, mas isso não significa que o lado do cliente mudou, e sabemos que seria difícil gerir um negócio se todos os nossos funcionários estivessem a tempo integral. Mas tenho feito esse trabalho porque quero fazer uma boa animação, e a nossa equipa só vai ficar feliz se a animação for boa, então não quero mudar isso. Eu continuo a tentar descobrir como fazer isso“.

Segundo Kondo, a Ufotable tem atualmente 200 colaboradores a tempo inteiro e tem como assessor um consultor de emprego da Segurança Social para o ajudar a cumprir a reforma dos seus métodos de trabalho. O réu e a sua esposa não estão envolvidos em qualquer questão de contabilidade e também mudaram a forma como as vendas em cafés e restaurantes são creditadas diretamente na conta por cada gerente.

Quando o promotor finalmente perguntou a Kondo como ele planeava lidar com as preocupações sobre a futura deterioração do negócio, ele disse com firmeza: “Desde que fui acusado de sonegação de impostos em junho de 2020, não aceitamos nenhum novo trabalho de animação e continuamos a trabalhar nos trabalhos que havíamos assumido antes“. (Depois das denúncias) não há problemas de gestão e recebemos muitas ofertas, mas deixamos de aceitar trabalhos de animação que sabemos desde o início que não serão lucrativos. Até pensamos que, se a base atual de custos de produção na indústria de animação não mudar, teremos que fazer algo por conta própria. Agora estou à procura de um trabalho em que possa propor negócios.

A produtora por trás do mega-hit “Kimetsu no Yaiba: Mugen Ressha-hen”, que quebrou todos os recordes de bilheteria no Japão, recusou pedidos para produzir novos animes. No entanto, por outro lado, esta declaração pode ser uma “declaração de guerra” por parte de Kondo, que se tornou num novo aliado / estandarte da indústria de anime, ao pedir aos seus clientes, como redes de televisão, empresas de cinema e editoras, que aumentem os custos de produção como representante da indústria.